O Cerrado goiano ganhará grande destaque nas negociações globais sobre o clima. Entre os dias 10 e 21 de novembro, durante a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), realizada em Belém (PA), a engenheira ambiental e especialista em recursos hídricos Maristela Rodrigues representará Goiás na Zona Azul, a área diplomática onde ocorrem as discussões oficiais entre governos, instituições e organizações internacionais.

À frente da Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP) Amigos do Rio, Maristela levará à mesa global a defesa pela proteção das nascentes do Cerrado e dos mananciais que alimentam os rios Araguaia e Tocantins, fontes de abastecimento para milhões de brasileiros.

Com mais de 18 anos de atuação e formação pela PUC-Goiás, Maristela é CEO da empresa Four Ambiental e lidera a Amigos do Rio, organização dedicada à preservação dos recursos hídricos, à recuperação de nascentes e à educação ambiental. Em sua participação na COP30, a engenheira levará a pauta do papel do Cerrado para o equilíbrio climático do país e a segurança hídrica nacional.

Esses mananciais, lembra Maristela, são responsáveis por abastecer mais de 409 municípios da Região Hidrográfica Tocantins-Araguaia, abrangendo estados como Goiás, Tocantins, Mato Grosso, Pará, Maranhão e o Distrito Federal.

“Preservando os mananciais que vão desaguar no Araguaia e no Tocantins, estamos preservando todo o planeta. Precisamos garantir o volume de água de forma perene, manter o ciclo da vida, o ciclo das chuvas”, afirma.

Cerrado é o bioma que abastece o Brasil

Durante o evento da ONU, Maristela Rodrigues pretende reforçar que o Cerrado é o berço das águas do país, responsável por alimentar oito das doze bacias hidrográficas brasileiras, entre elas as do Tocantins, Araguaia, São Francisco e Paraná. Essa interligação torna o bioma essencial para o equilíbrio hídrico de todo o território nacional.

Maristela Rodrigues | Foto: Instagram @maristelaengenheira

A presença de Goiás na Zona Azul permitirá à especialista dialogar diretamente com lideranças internacionais e representantes do governo federal sobre estratégias de preservação e manejo sustentável. O foco de sua defesa será o reconhecimento do produtor rural como protagonista ambiental, e não como vilão.

“O objetivo da OSCIP é tirar o produtor rural do lugar de vilão e colocá-lo como herói. Ele é guardião das nascentes, da APP (área de preservação permanente) e da Reserva Legal e produz alimentos que chegam à nossa mesa e sustentam economias inteiras”, destaca Maristela.

Produtor rural: herói da conservação

De acordo com a engenheira, o discurso que culpa o produtor pela degradação ambiental precisa ser superado. Ela explica que a maioria dos agricultores goianos e brasileiros mantém práticas de manejo que preservam a água e o solo, mesmo diante de desafios econômicos.

“Ele emprega, movimenta serviços, gera renda e alimenta mais de centenas de famílias diretas e indiretas. E ainda assim é apontado como vilão porque plantou feijão para alimentar o país”, afirma.

Para Maristela, educar e orientar quem produz é o caminho mais eficiente para conciliar o crescimento econômico com a sustentabilidade. Em sua visão, políticas públicas precisam ser acompanhadas de assistência técnica e informação qualificada, garantindo que o produtor rural compreenda e adote as boas práticas ambientais.

“Queremos mostrar quais ferramentas usar, quais manejos adotar, o que precisa ser feito para produzir e manter a sustentabilidade”, ressalta.

Áreas úmidas: o berço da água e reguladoras do clima

As áreas úmidas do Cerrado, como veredas, campos alagáveis e matas de galeria, são responsáveis pelo equilíbrio climático e a manutenção das nascentes. Maristela explica que essas zonas funcionam como esponjas naturais, absorvendo e liberando água de maneira gradual, o que garante o abastecimento dos rios e a regulação das chuvas.

“O microclima é o clima específico de pequenas áreas e a sua alteração prejudica a temperatura, a umidade, a biodiversidade e o sistema regulador de chuvas locais. Sem isso, o ciclo hídrico se rompe. Preservar áreas úmidas não beneficia só o estado de Goiás. Mantemos o equilíbrio hídrico que abastece as bacias do Araguaia e Tocantins e preservamos ciclos essenciais para o Brasil e para o planeta”, explica.

Por isso, a engenheira defende que as áreas úmidas sejam mapeadas e incluídas no Cadastro Ambiental Rural (CAR), para garantir que recebam a proteção necessária dentro das propriedades rurais.

Entre as ações da OSCIP Amigos do Rio, está prevista a realização de uma expedição técnica em Goiás, com a participação de engenheiros e especialistas que farão o mapeamento das nascentes e áreas sensíveis, além de propor soluções práticas para o manejo sustentável no campo.

Segundo Maristela, o objetivo da iniciativa é ensinar e orientar os produtores rurais sobre os melhores métodos de conservação, evitando punições e multas desnecessárias. “Vamos mostrar o que pode, o que não pode, quais mecanismos usar, como manter a produção e a sustentabilidade ao mesmo tempo”, reforça.

A Amigos do Rio atua há mais de cinco anos no norte de Goiás, com ações de educação ambiental, diagnóstico de nascentes e orientação técnica a produtores rurais. O trabalho da organização é pautado em informação científica e práticas sustentáveis, aproximando o conhecimento técnico das comunidades locais.

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