Goiás tem menor índice de consumo de ultraprocessados no Centro-Oeste; Goiânia é a cidade que mais consome alimentos do tipo no estado

02 julho 2025 às 15h06

COMPARTILHAR
Estudo publicado na Revista de Saúde Pública, da USP, estimou, pela primeira vez, a participação calórica de ultraprocessados em todos os municípios do país. De acordo com o levantamento, Goiás tem os menores percentuais da região Centro-Oeste, tendo Goiânia como município com maior consumo desses produtos no Estado. Cerca de 19,4% das calorias ingeridas pela população da capital vêm de ultraprocessados.
O estudo aponta que alimentos do tipo, como refrigerantes, salgadinhos, bolachas recheadas, embutidos e comidas congeladas, correspondem a 17,4% das ingestão calórica média da população do estado. O número é inferior à média nacional, que ficou em 20,2%.
O levantamento utilizou dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2017–2018, cruzados com informações do Censo Demográfico de 2010, e aplicou um modelo estatístico validado com alta concordância. A metodologia permitiu traçar um panorama detalhado do consumo municipal de ultraprocessados, até então indisponível nesse nível de detalhamento.
Segundo o estudo, a distribuição do consumo revela desigualdades entre os municípios, impulsionadas por fatores como renda, escolaridade, idade e urbanização. Municípios com maior renda per capita e concentração urbana tendem a apresentar maior consumo de ultraprocessados.
Em Goiás, no entanto, a maior parte dos municípios permanece abaixo da média nacional, o que pode estar relacionado à significativa presença rural e menor renda em comparação a estados como São Paulo ou Santa Catarina — onde cidades como Florianópolis atingem mais de 30% de calorias advindas de ultraprocessados.
Mesmo com o baixo número de consumo de alimentos do tipo, especialistas afirmam que isso não significa uma alimentação saudável. Em áreas com menos acesso a produtos industrializados, há forte presença de alimentos básicos como arroz, feijão, açúcar e farinhas, mas consumo insuficiente de frutas, legumes e verduras, o que também compromete a qualidade da dieta.
O levantamento indica, ainda, que as capitais do Brasil apresentam maior participação de ultraprocessados em relação aos demais municípios de seus estados, reforçando a influência do ambiente urbano e da disponibilidade desses produtos no mercado.
Em nota enviada ao Jornal Opção, a Secretaria de Estado da Saúde de Goiás (SES-GO) afirmou que acompanha os indicadores relacionados ao consumo alimentar na população do Estado, especialmente em relação à participação calórica de alimentos ultraprocessados na dieta. A secretaria afirmou, também, que realiza ações para enfrentar o cenário.
Leia a nota na íntegra:
A Secretaria de Estado da Saúde de Goiás (SES-GO), por meio da Coordenação Estadual de Alimentação e Nutrição, tem acompanhado os indicadores relacionados ao consumo alimentar da população goiana, especialmente quanto à participação calórica de alimentos ultraprocessados na dieta.
Em relação ao estudo em destaque, Goiás apresenta uma das menores estimativas de participação calórica de alimentos ultraprocessados no Brasil (12ª posição entre as 27 Unidades da Federação), com 17,4%, sendo o menor índice da região Centro-Oeste. Ainda assim, o consumo desses produtos continua sendo uma preocupação para a saúde pública, dada sua forte associação a doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), como obesidade, diabetes tipo 2 e doenças cardiovasculares.
Paralelamente, a SES-GO também realiza levantamentos periódicos sobre o padrão alimentar da população. No Inquérito de Fatores de Risco e Proteção para Doenças e Agravos Não Transmissíveis no Estado de Goiás – Vigitel Goiás, 2022, foi identificado que 17,9% dos adultos entrevistados relataram ter consumido cinco ou mais grupos de alimentos ultraprocessados no dia anterior à entrevista – o que reforça os achados nacionais e sinaliza a necessidade de estratégias contínuas de promoção da alimentação adequada e saudável.
Entre as principais ações da Secretaria para enfrentamento desse cenário, destacam-se:
- Apoio técnico e financeiro aos municípios para a estruturação de ações de alimentação e nutrição na Atenção Primária à Saúde (APS), com foco na promoção da alimentação saudável e no enfrentamento da obesidade.
- Capacitações periódicas das equipes de saúde, com foco na temática da alimentação adequada, prevenção de DCNTs, uso do Guia Alimentar para a População Brasileira e incentivo ao cuidado centrado no indivíduo e na família.
- Promoção da Vigilância Alimentar e Nutricional (VAN), por meio do monitoramento do estado nutricional e consumo alimentar, especialmente em grupos prioritários como crianças, gestantes e pessoas com doenças crônicas.
- Parcerias com escolas e comunidades, por meio de ações intersetoriais com as áreas da educação e assistência social, fomentando práticas educativas, feiras de alimentação saudável e hortas comunitárias.
- Campanhas e materiais educativos, desenvolvidos com base em evidências científicas e nas diretrizes do Ministério da Saúde, voltados à população em geral e aos profissionais de saúde.
Leia também
Quase 50% da população em Goiânia vive em desertos ou pântanos alimentares