Goiás ocupa a 8ª posição no ranking do trabalho infantil, afirma Ministério do Trabalho

26 setembro 2025 às 14h00

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Um estudo preliminar do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) de setembro de 2025 revela que Goiás ficou em 8º lugar no ranking do trabalho infantil. A pesquisa foi feita por José Tadeu Lima, auditor fiscal do Trabalho do MTE, com base nos microdados fornecidos pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADc) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), relativos ao ano de 2023 e 2024.
Aumento do trabalho infantil em Goiás
Segundo os dados, Goiás apresentou um crescimento percentual do trabalho infantil em um ano de 13,8%, com um aumento de 8.031 casos, sendo em 2023, Goiás registrou 62.695, enquanto em 2024, foram apurados 71.337 casos, representado 4,3% do total do país.
Da mesma forma, a taxa de trabalho infantil da população goiana entre 5 a 17 anos foi de 5,3%, sendo o Estado na 7ª posição pelo índice. Em outras palavras, 5% de todas as crianças goianas estão em situação de trabalho infantil.
Outro dado preocupante foi o aumento nos índices das piores formas de trabalho infantil, que constam na Lista TIP, como trabalhos no extrativismo, tecelagem e construção civil. Conforme aponta a pesquisa, dos mais de 60 mil registros, cerca de 20 mil crianças trabalhavam em ambientes com risco à vida, com o crescimento de 8.031 casos, representando um aumento de 38,3%, um dos principais aumentos percentuais do país nessa categoria. Com isso, o Estado fica na 8ª posição da categoria.
Enquanto isso, a presença elevada do Estado no ranking pode se dar pela forte vocação agrícola, sendo o trabalho infantil em Goiás concentrado na zona rural. Ao mesmo tempo, afirma que isso decorre de fatores que elevam a vulnerabilidade social pelo difícil acesso às vagas em creches e escolas públicas.
Para Roberta Muniz, presidenta da Comissão dos Direitos da Criança e do Adolescente da Ordem dos Advogados do Brasil seção Goiás, o aumento dos índices se deve ao crescimento da conscientização dos canais de denúncia dos órgãos fiscalizatórios. “O que acontece é que nós estamos caminhando numa evolução no sentido da sociedade entender que existem canais de denúncias que devem ser utilizados”, explicou em entrevista ao Jornal Opção.
Por outro lado, afirma que o Estado procurou avançar a educação para oferecer vagas ao mais jovens, contudo, os municípios carecem de políticas públicas e investimentos para a educação da primeira infância. “A gente verifica que essas crianças [de 0 a 6 anos] vão à companhia dos pais e participam de algumas atividades laborais. Crianças que ficam em situação de rua, por exemplo, são usadas por essas famílias para ficar em uma situação de mendicância.”
Cenário nacional
O aumento do trabalho infantil também ocorreu nacionalmente durante o período analisado, sendo em 2023, o Brasil tinha 1.616.381 crianças e adolescentes em situação de trabalho infantil, enquanto em 2024 o total subiu para 1.649.844 casos, um aumento de 33.463 registros, correspondendo a um crescimento de 2,1%.
Contudo, o crescimento não foi homogêneo, sendo que 19 unidades da federação tiveram aumento, enquanto 8 apresentaram redução. Os principais aumentos absolutos foram em São Paulo e Pernambuco.
Ao lado disso, a taxa do trabalho infantil nacional apresentou um aumento tímido de 0,1% em relação ao ano de 2023 e 2024, contudo, variando de 1% a 7% em Estados como Amapá e Pará, respectivamente. Por outro lado, o índice da lista TIP tiveram uma queda de 5,1% com uma redução de 30.251 crianças fora de ambientes de risco, sendo que em 2023, foram 589.928 casos e em 2024 o número caiu para 559.677.
Para combater a prática, a advogada afirma que é necessária a aplicação plena do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) por parte dos órgãos fiscalizadores e o fortalecimento das instituições que compõem a rede de proteção dessa população. “Precisamos promover a proteção [das crianças e adolescentes] e fazer o encaminhamento dos casos, com o fortalecimento das secretarias de assistência social, dos CRAS, CREAS, da área da educação, secretarias de educação e saúde.”
Além disso, reforça as práticas legais de vocação, como o acesso ao programa de Jovem Aprendiz, que permite o adolescente ter contato com atividades laborais em ambientes seguros que não prejudicam o ensino. “Esses jovens podem ser inseridos no mercado de trabalho de maneira legalizada em cursos de formação. Isso seria de grande valia, porque estaríamos formando cidadãos com mão de obra qualificada e de uma maneira legalizada e correta.”
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