Ao Jornal Opção, o Iberostar afirmou ter oferecido apoio e se colocado à disposição da família; no entanto, casal alega que providências não foram tomadas

O que começou como uma tentativa de comemorar o aniversário de oito anos do filho, terminou com uma frustrada experiência relatada pela nutricionista Bruna Póvoa. Isso, porque no último dia 14, ela, o marido, Rafael Carlos, e o filho, que é autista, se hospedaram no hotel Iberostar, na Bahia, mas acabaram se retirando do local antes do previsto e sem utilizar todas as diárias. O casal acusa o hotel de discriminação contra a criança, que possui o Transtorno do Espectro Autista (TEA).

O problema, segundo ela, era um cortador de grama utilizado em momentos esporádicos e despertava crises no filho. O resort foi procurado pelo Jornal Opção e este afirmou ter oferecido apoio e se colocado à disposição da família. A Iberostar chegou a afirmar ter sugerido que a família trocasse de bloco, mas a família não teria aceitado.

Bruna confirma a situação, mas explica que a simples troca de bloco não resolveria o problema. “Pagamos o resort para ficarmos no quarto? Meu filho ficaria impedido de transitar pelo hotel?”, indaga a nutricionista. Para a advogada e professora de Direitos da Pessoa com Deficiência, Tatiana Takeda, o caso pode ser caracterizado como discriminação, segundo o artigo 4º da Política de Proteção dos Direitos da Pessoa Autista (Lei no 12.764/2012).

“A partir do momento que a família comunicou (por mais de uma vez) a condição da criança aos gestores do resort, este poderia ter suspendido a ação que estava agredindo sensorialmente o menor. O que custaria suspender a poda de grama pelos dias em que a família estava hospedada?”, questionou.

Entenda o caso

O problema, segundo ela, era um cortador de grama utilizado em momentos esporádicos e despertava crises no filho. Ela explica que, antes de efetuar a hospedagem, como de costume, contatou previamente o resort, explicou a situação e solicitou que, durante os seis dias que a família se hospedaria, não houvesse barulhos excessivos de cortador de grama ou obras perto do quarto ou da área de lazer. De acordo com Bruna, o combinado foi aceito, mas não foi cumprido.

“Quando chegamos, já tinha o barulho do cortador de grama e meu filho já entrou na recepção em crise. Eles disseram que o barulho iria parar e ficou tudo bem. Levamos quarenta minutos para acalmar a crise que ele teve, e quarenta minutos é uma crise leve, porque geralmente as crises duram de horas a dias. Mais tarde, no mesmo dia, o barulho ocorreu mais duas vezes, meu filho nem conseguiu comer”, pontuou.

No dia seguinte, o barulho persistiu e foi somado ao de serra elétrica. “Meu filho não se importa com gente gritando ou cantando, com música, mas tem pavor de serra. Com o que aconteceu, ele gritou, “esperneou” e acordava três horas da manhã com medo”, relata. No terceiro dia em que estiveram no local, mais uma vez o barulho retornou, enquanto o casal levava a criança para a piscina.

A nutricionista explica que há cinco anos o casal realiza comemorações semelhantes com o filho, nos mais diversos hotéis e resorts do Brasil, e que as experiências até então haviam sido majoritariamente positivas. “Todos os anos nós vamos para resort. Levar meu filho é um presente de aniversário que damos a ele, porque ele é louco por praia, então nos esforçamos muito. Todas as vezes que vamos nós ligamos, conversamos e todos sempre aceitam”, diz.

A família contatou a recepção, segundo Bruna, pelo menos cinco vezes para que a situação fosse resolvida. No entanto, apesar da intenção de permanecer até o dia 20 de dezembro, acabaram saindo nesta quinta-feira, 16. Bruna chegou a relatar o caso, com indignação, em nas redes sociais. Confira:

https://www.instagram.com/brunapovoa/p/CXjG6CVMCcd/?utm_medium=copy_link

Ao Jornal Opção, o resort Iberostar afirmou que, “no caso mencionado, recebemos contato da família hospedada em nosso hotel e prontamente nos colocamos à disposição, inclusive via telefone celular, para encontrar uma solução para a situação colocada pelos mesmos”. Além disso, ainda que a família discorde, garantiram que, a partir da reclamação do casal, “em pouco tempo a manutenção frequente foi alterada para que não ocorresse poda de grama em frente ao bloco que estavam”.

Confira a nota completa enviada pelo Iberostar:

“É importante reforçar que a Iberostar tem como prioridade o bem-estar de seus hóspedes e qualidade do serviço oferecido em seus resorts ao redor do mundo.
No caso mencionado, recebemos contato da família hospedada em nosso hotel e prontamente nos colocamos à disposição, inclusive via telefone celular, para encontrar uma solução para a situação colocada pelos mesmos. Em pouco tempo, a manutenção frequente foi alterada para que não ocorresse poda de grama em frente ao bloco que estavam. Além disso, foi oferecida a mudança de bloco e indicada a piscina calma como local mais silencioso. Porém, no dia seguinte, a família tomou a decisão de ir embora. O hotel os auxiliou ainda com a agência que realizou a reserva.
Reiteramos nosso respeito às pessoas em todos os níveis, buscando atender às necessidades dos nossos milhares de hóspedes diariamente.”

Avaliação jurídica

Ao Jornal Opção, a advogada e professora de Direitos da Pessoa com Deficiência, Tatiana Takeda, caracteriza o caso como discriminação. Ela ainda cita o artigo 4º da Política de Proteção dos Direitos da Pessoa Autista (Lei no 12.764/2012), que diz que “a pessoa com transtorno do espectro autista não será submetida a tratamento desumano ou degradante, não será privada de sua liberdade ou do convívio familiar nem sofrerá discriminação por motivo da deficiência”.

“A Lei Brasileira de Inclusão conceitua a discriminação em face da deficiência e ficou muito claro que houve ação com o propósito ou efeito de prejudicar, vez que já existia a ciência de que o menor é autista e possui sensibilidade sensorial que o faz sofrer, sentir dor. O barulho do cortador de grama pode não representar agressão para pessoas sem hipersensibilidade sensorial, mas no caso do menor em questão, este som agride de forma dolorosa e causa sofrimento a uma criança que foi para o resort para se divertir”, justifica a advogada.