Goiano ganha prêmio internacional sobre substituição de animais em pesquisas
11 novembro 2017 às 18h16
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Em entrevista ao Jornal Opção diretamente de Londres, Renato Ivan de Ávila lamentou os cortes para a ciência no Brasil, mas se disse motivado para continuar pesquisando
O goiano Renato Ivan de Ávila Marcelino, estudante de doutorado da UFG (Universidade Federal de Goiás) está entre os vencedores do Lush Prize 2017, um concurso internacional que premia projetos científicos que viabilizam o fim de pesquisas em animais.
Ele, que atualmente está estudando na Universidade de Lund, na Suécia, através do Ciências Sem Fronteiras, recebeu em Londres um prêmio de 10 mil libras esterlinas (cerca de R$ 43 mil).
O prêmio é referente ao seu projeto de doutorado na UFG, que busca novas estratégias de avaliação do potencial de uma substância e um produto químico em causar alergia em contato com a pele.
Em entrevista ao Jornal Opção, ele disse que “atualmente, os modelos que são recomendados e até aceitos pelas agências regulatórias em diversas partes do mundo envolvem estudos em animais”.
“Temos questões éticas que preocupam como, por exemplo, testar produtos cosméticos nos animais. Por isso, buscamos novas estratégias para fazer essa investigação”, disse.
Isso, segundo ele, além de ter uma relevância ética, tem uma relevância econômica, já que os testes in vitro, que não utilizam animais, são relativamente mais baratos. “Sem falar no fato de que são superiores aos testes em animais, já que o que acontece nos organismos deles é completamente diferente do que acontece no organismo humano”, explicou. Em casos de alergia, por exemplo, utiliza-se camundongos, que possuem peles completamente diferentes da nossa, o que gera resultados nem sempre confiáveis.
Ciência no Brasil
Questionado sobre a importância da sua pesquisa, Renato garantiu que ela pode contribuir para que o Brasil consiga autonomia tecnológica e científica para construir uma ciência humanizada, além de buscar possíveis mudanças para as leis atuais. “Hoje, apenas quatro estados proibiram o uso de animais em testes com cosméticos. Goiás, por exemplo, ainda permite. Precisamos mudar isso”, declarou.
Segundo ele, o Brasil ainda é muito carente na questão de métodos alternativos. “A ciência brasileira usa muitos animais e as leis regulatórias exigem que testes sejam feitos com recomendação de que sejam feitos em animais. Muitos desse testes foram desenvolvidos há décadas atrás e não passaram por revisões”, lamentou.
Além disso, desde quando era aluno de iniciação científica, ele recebeu bolsas de estudo da Fundação Capes e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ). Mas sua sua crítica é com relação aos investimentos recentes em pesquisa no país. “Temos dificuldade de conseguir financiamento, os equipamentos são muito caros. Estamos enfrentando uma grande redução na verba que iria para ciência, então já estamos começando a sentir falta”, disse.
Antes da gratificação, ele estava um pouco desmotivado diante da situação econômica e política do país. “Com esse prêmio recebi um boom de motivação para continuar estudando e multiplicando o conhecimento, contribuindo para o desenvolvimento técnico-científico do país. O Brasil só tem a perder se não continuar investindo em educação, pesquisa e ensino”, alertou.
UFG
Renato é farmacêutico que se formou em 2010 na UFG, mas durante a graduação já começou na carreira científica como aluno de iniciação, sob a orientação da professora Marize Campos Valadares, que o apresentou aos métodos in vitro. Em 2011, ele iniciou o Mestrado em Ciências Farmacêuticas com orientação da mesma professora e em 2014 foi para o Doutorado em Ciências da Saúde, novamente com orientação da Marize.
Em julho, o estudante foi para a Suécia, onde aprende nova tecnologia para sua pesquisa. No total, serão nove meses sob supervisão da professora Malin Lindstedt antes de voltar para o Brasil em abril para defender seu doutorado.
Por isso, ele tem orgulho da UFG por ser considerada uma das melhores universidades de Farmácia do Brasil. “A estrutura e professores do curso de Farmácia de UFG são de ponta”, afirmou.
Agora, o seu objetivo é trazer o conhecimento adquirido com suas pesquisas para ser aplicado no país. “O dinheiro do prêmio foi fundamental para finalização do Doutorado, já que recebo a bolsa do Ciência sem Fronteiras para estar na Suécia, mas não recebo nenhuma ajuda de custa para pagar as análises. Com o dinheiro pretendo comprar reagentes e também investir em outras pesquisas na mesma área. Além disso, quero investir em treinamentos e cursos para estudantes e profissionais da área”, comemorou.