Dois nascidos em Goiânia e duas vergonhas para Goiás: Fred Rodrigues e Pablo Marçal. Desrespeitosos, mimados e intragáveis, ambos parecem ter o mesmo problema: se recusam a seguir as regras pré-estabelecidas nos debates eleitorais. Além disso, usam os veículos de imprensa para se promoverem enquanto ridicularizam e menosprezam jornalistas diariamente. Surfando na onda do bolsonarismo, criticam a política e todos os políticos, mas tentam se eleger como prefeitos em Goiânia e São Paulo. 

Importando tudo que não presta dos Estados Unidos, se dizem contra o “establishment” e prometem grandes mudanças, caso eleitos. A diferença entre os dois? Fred é o candidato de Bolsonaro e Marçal queria ser. A semelhança? Um mendiga o apoio do ex-presidente e o outro implora pela atenção do governador. Marçal consegue ser “grande”, apesar do partido pequeno, e Fred consegue ser “pequeno”, apesar de sua legenda dominar o Congresso.

Enquanto o ex-coach acumula milhões de seguidores nas redes sociais, Rodrigues engatinha com poucos fãs e ainda luta contra o desconhecimento. Como bem diz o candidato Matheus Ribeiro (PSDB), ele só entrou na disputa para tapar um buraco, que ficou com a desistência de Gustavo Gayer. Anteriormente visto como um bolsonarista mais “moderado” e menos “extremista”, Rodrigues tem desapontado a todos que prezam pela civilidade. Ele segue a máxima de Humberto Eco, de que “para rebater uma acusação, não é necessário provar o contrário, basta deslegitimar o acusador”. Quando é confrontado, Rodrigues ataca o oponente com algum sofisma ou fake news.

O candidato do PL à Prefeitura de Goiânia usou os poucos minutos que tinha na propaganda eleitoral para criticar a atual gestão e fazer acenos para Ronaldo Caiado. Nos debates, ao invés de debater propostas para a cidade, perde tempo com críticas aos adversários e à imprensa. Aluno de Marçal, foca somente em atacar os oponentes e falar apenas com seu público: a direita e a extrema-direita. A postura infantil, no entanto, irrita os adversários, que devem se questionar internamente se as cadeiras estão parafusadas ou não.

“Não tenha uma visão tão reducionista do debate não, Fred. Vamos falar de Goiânia. Quero governar com o Sandro Mabel, que é presidente da FIEG, com a Adriana, que é deputada federal, com o Vanderlan, que é senador, e você? Trabalha que de quê? Você acorda cedo e vai pra onde? Fala da sua história. Fala das suas ideias”, questionou Matheus Ribeiro no debate realizado pela TV Brasil Central (TBC). Fred Rodrigues, porém, não respondeu às perguntas. O candidato de Bolsonaro, pelo visto, pouco tem para falar de si mesmo. Ao falar de sucesso, citou o vice Leonardo Rizzo (Novo), que, de fato, é empreendedor.

Assim como Ribeiro, o candidato Vanderlan Cardoso (PSD) também se irritou com a postura de Fred Rodrigues e disse que o empresário não consegue admiministrar nem um carrinho de picolé. Sandro Mabel (UB) completou afirmando que Rodrigues é tão incompetente que não conseguiu nem prestar contas nas eleições para vereador, em 2020.

No teatro da política, os atores (formados em “artes cínicas”) encenam com maestria para o público, enquanto nos bastidores dialogam entre si para formar alianças políticas. Na busca por votos, fazem aliança até com o Diabo, se necessário, e ainda usam Deus como cabo eleitoral. Independente de quem ganhar ou perder, quem realmente perde é a população, que se vê refém de candidatos cada dia mais despreparados.

“A liberdade de eleições permite que você escolha o molho com o qual será devorado”, disse Eduardo Galeano. O uruguaio é autor da obra “Veias Abertas da América Latina”, que magistralmente descreve como o mundo foi formado sob a lógica da opressão e como as maiores economias e potências se formaram com a colonização de outros países.

Fred Rodrigues e Pablo Marçal criticam o sistema e se dizem bem sucedidos, mas desesperadamente tentam usar a máquina pública para promover seus interesses pessoais. Para cativar os mais ingênuos, prometem fazer a diferença, se esquecendo de que “quanto mais poder, mais perigoso é o abuso” (Edmund Burke).