Foto de Bolsonaro e ministros com placa “CPF cancelado” em Manaus causa indignação nas redes sociais
25 abril 2021 às 09h49
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Comitiva presidencial estava nos estúdios da TV A Crítica; frase remete a execução de suspeitos por milicianos e imagem foi postada em perfil oficial do governo no Flickr
Na sexta-feira, 23, ao participar do programa do apresentador de extrema-direita Sikêra Jr., da TV A Crítica, de Manaus, Jair Bolsonaro parecia não estar na cidade mais marcada pela tragédia da pandemia no Brasil. Além de protagonizar brincadeiras homofóbicas com um assistente da equipe do programa vestido com uma cabeça de burro – momento em que fez alusão ao ex-presidente Lula (PT), possível adversário nas eleições de 2022 –, o mandatário posou para uma foto com uma placa com os dizeres “CPF Cancelado” rodeado de ministros.
A expressão é usada frequentemente em contexto de maus policiais, milicianos e grupos de extermínio, quando um suspeito ou rival é executado.
Aumentando a gravidade do contexto, a foto de Bolsonaro com a placa, o apresentador e sua equipe – com os ministros da Educação, Milton Ribeiro, e do Turismo, Gilson Machado, sem máscara – foi publicada no perfil oficial do Palácio do Planalto na rede Flickr:
Parlamentares e representantes da sociedade civil fizeram algo que se tornou rotina no atual governo: criticar a afronta de Bolsonaro aos direitos humanos e à própria Constituição.
Oposicionistas também repudiaram a imagem irreverente por conta da situação da pandemia. Ontem, enquanto Bolsonaro fazia pose ao lado dos aliados e com a placa, o Brasil chegava oficialmente a mais de 386 mil mortos pela Covid-19.
Liderança do PSOL e candidato à Presidência em 2018 e à Prefeitura de São Paulo em 2020, Guilherme Boulos escreveu:
“CPF cancelado” é uma gíria usada por milícias e grupos de extermínio para comemorar mortes. Bolsonaro não é presidente da República. É um miliciano. pic.twitter.com/nDgeoHFMw8
— Guilherme Boulos (@GuilhermeBoulos) April 25, 2021
Professora aposentada da Universidade Federal de Goiás (UFG), ex-deputada federal e atualmente secretária da Educação do Rio Grande do Sul (ocupou o mesmo cargo em Goiás por três vezes), Raquel Teixeira se mostrou indignada especialmente com a participação do ministro Milton Ribeiro, do MEC, na foto:
Inacreditável, uma cena dessa! De @jairbolsonaro já não espero nada mesmo. Mas ver o @MEC_Comunicacao, na figura do Ministro,me dá vontade de chorar. O MEC, com sua omissão, incompetência e equívocos está cancelando CPFs futuros ao cancelar sonhos, projetos e direitos dos jovens https://t.co/0UtP3HHu2D
— Raquel Teixeira 🇧🇷 (@RaquelATeixeira) April 25, 2021
O escritor e juiz Marcelo Semer fez alusão a uma consequência possível para a atitude de Bolsonaro, mas “em outras paragens”:
Em outras paragens, a foto de elegia à morte por um presidente podia cancelar outro documento: o título de eleitor. pic.twitter.com/nljKGHyGRp
— Marcelo Semer (@marcelo_semer) April 25, 2021
O deputado federal Rogério Correia (PT-BA) quer que a cena também seja investigada pela CPI da Pandemia, que será instalada na terça-feira, 27, pelo Senado:
Muito grave a provocação do genocida. Que a CPI apure tudo!
— Rogério Correia (@RogerioCorreia_) April 25, 2021
Bolsonaro faz questão de se posicionar a favor de milicianos e de debochar das quase 400 mil mortes e ri em foto com expressão usada por milícias: “CPF cancelado”.https://t.co/dGm75wDYxy
O Palácio do Planalto, apesar da foto em seu perfil, não fez nenhuma declaração adicional sobre o ocorrido.