Fortuna dos 1% mais rico do mundo pode erradicar a fome de 3,7 bilhões

26 junho 2025 às 15h31

COMPARTILHAR
Mais de 3,7 bilhões de pessoas vivem com menos de US$ 8,30 por dia, enquanto o 1% mais rico do mundo viu sua fortuna crescer mais de US$ 33,9 bilhões (cerca de R$ 185 trilhões) desde 2015 — valor suficiente para erradicar a pobreza extrema global anual 22 vezes. denúncia está no relatório “Do Lucro Privado ao Poder Público: Financiando o Desenvolvimento, Não a Oligarquia”, publicado nesta terça-feira, 25, pela Oxfam Internacinoal.
O estudo expõe o que chama de “tomada do setor privado nos esforços de desenvolvimento global, com a substituição de políticas públicas por estratégias que priorizam os interesses financeiros de uma minoria ultrarrica. Entre 1995 e 2023, a riqueza privada global cresceu US$ 342 trilhões — oito vezes mais que a riqueza pública no mesmo período, que aumentou apenas US$ 44 trilhões. A riqueza pública, em proporção ao total, chegou inclusive a diminuir.
A fortuna de apenas 3 mil bilionários subiu US$ 6,5 trilhões nos últimos oito anos, representando hoje 14,6% de todo o PIB mundial. Para a Oxfam, esse acúmulo sem precedentes evidencia que o atual modelo de financiamento do desenvolvimento falhou — ampliando desigualdades, sufocando os serviços públicos e colocando em risco o alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
Além disso, 60% dos países de baixa renda estão à beira da insolvência financeira, pressionados por dívidas com credores privados que frequentemente impõem termos abusivos e se recusam a negociar. Esses pagamentos, segundo a Oxfam, consomem mais recursos do que os destinados à educação e à saúde em muitos desses países.
Para Amitabh Behar, diretor-executivo da Oxfam Internacional, “os países ricos colocaram Wall Street no comando do desenvolvimento global”. “É uma tomada do poder pelo setor financeiro privado, que substituiu as formas comprovadas de combate à pobreza baseadas em investimento público e tributação justa”, afirma. “A concentração extrema de riqueza está sufocando os esforços para acabar com a pobreza.”
A Oxfam critica o que chama de “Consenso de Wall Street” — estratégia promovida por instituições como o Banco Mundial que promete multiplicar recursos de desenvolvimento por meio da mobilização do capital privado. Na prática, segundo o relatório, essa abordagem se provou ineficaz em atrair investimentos suficientes e intensificou a desigualdade social e econômica.
A organização propõe um novo modelo baseado em justiça fiscal, fortalecimento dos serviços públicos e construção de alianças internacionais contra a desigualdade. Dentre as propostas estão:
Formação de novas coalizões globais contra a desigualdade, lideradas por países como Brasil, África do Sul, Alemanha, Noruega e Espanha;
Rejeição da centralidade do setor privado no desenvolvimento, priorizando o investimento estatal em saúde, educação, infraestrutura e energia;
Tributação dos super-ricos, com apoio de convenções globais sobre justiça tributária e renegociação da dívida soberana, promovidas pela ONU;
Reversão dos cortes na ajuda oficial ao desenvolvimento e cumprimento da meta de destinar 0,7% do PIB à AOD;
Reformulação dos indicadores de desenvolvimento, superando a centralidade do PIB e incorporando métricas de bem-estar, equidade e sustentabilidade
No Brasil, a diretora executiva da Oxfam, Viviana Santiago, destaca que o país representa um retrato explícito do fracasso do modelo atual. “A extrema concentração de riqueza no topo, alimentada por um sistema tributário injusto e regressivo, aprofunda desigualdades históricas de raça e gênero”, afirma. “São as mulheres negras, indígenas e periféricas que pagam o preço mais alto da crise climática, da fome e do desmonte dos serviços públicos.”
A dirigente destaca ainda que 9 em cada 10 brasileiras e brasileiros apoiam fortemente a taxação dos mais ricos como forma de financiar políticas públicas e ações climáticas. O dado integra uma pesquisa encomendada pela Oxfam e Greenpeace, realizada pela Dynata em 13 países que, juntos, representam quase metade da população mundial.
Leia também:
Brasil tem 433 mil milionários e lidera ranking global de desigualdade, revela relatório