As goianas Jeanne Paollini e Kátyna Baía contaram que foram algemadas e acorrentadas pelos pés durante a prisão na Alemanha. “Ainda é difícil. Não conseguimos voltar a nossa rotina, não conseguimos dormir e ainda ficamos assustadas com barulhos de chave e cadeado”, revelou Paollini. As duas ficaram 38 dias presas acusadas de tráfico internacional após terem suas bagagens trocadas no aeroporto de Guarulhos.

As goianas foram liberadas pelo Ministério Público Alemão na terça-feira, 11, que arquivou processo por tráfico internacional e reconheceu a inocência das brasileiras. No Brasil desde sexta-feira, 14, as duas contaram que buscaram forças na fé, amigos e familiares para enfrentar o longo e traumático processo que enfrentaram. “Passar 38 dias dentro de uma cadeia onde eles não fazem questão de falar nem o inglês é torturador”, relata Kátyna. 

Acordamos com taquicardia e ainda no horário que nos acordavam no presídio. Estamos adaptando nossa alimentação pois perdemos muito peso. O nosso estado emocional ainda está muito abalado, relata Jeanne Paollini.

Isoladas na maior parte do tempo

Kátyna e Jeanne ficaram em celas isoladas e sem contato na maior parte do tempo, podendo se encontrar e se comunicar apenas durante o convívio social, como nos banhos de Sol, caminhadas e no refeitório.

Buscamos nos manter fortes através da oração. Pedimos uma bíblia para um pastor alemão que falava português, mas várias vezes ficamos com um sentimento de injustiça muito grande, pensando porque isso estava acontecendo conosco, desabafou Kátyna.

Medicações não foram entregues corretamente

Além das condições humilhantes que passou, Katyna relata que correu grave risco de saúde. “Fiquei sem acesso aos meus medicamentos em decorrência de uma cirurgia de aneurisma cerebral, o que me causou muito medo e perturbação pela possibilidade de adoecer. Éramos tratadas como lixo. Éramos bandidas, presas, criminosas. Fomos internacionalmente reconhecidas e sem o direito de falar nossa verdade”, lembrou.

Vida pela frente

As goianas relatam que agora buscam readaptar a rotina que tinham no Brasil antes do ocorrido e que tem buscado forças junto à família e amigos. “É humilhante. É desesperador. Uma pessoa inocente que fica no presídio, um hora se torna um dia. Fomos algemadas, fomos acorrentadas pelos pés. Tivemos que passar por várias vistorias íntimas. É humilhante. Estamos com uma sensação de desespero e medo muito grande, mas acho que aos poucos vamos recuperando nossa segurança”, reflete Jeanne.

No Brasil, as duas goianas buscam recuperar a rotina Foto: Reprodução redes sociais

Governo de Goiás buscou Itamaraty e consulado

Segundo as brasileiras, o governo goiano teve um papel fundamental na recuperação da verdade no caso. “O governo buscou o Itamaraty e a embaixada alemã em busca de celeridade da nossa liberação”, explica.

O governador de Goiás Ronaldo Caiado disse, durante coletiva, que além da procura dos meios legais para agilizar a soltura das goianas, o governo buscou confortar a família e amigos. Ele apontou ainda que durante almoço com as mulheres, elas relataram a preocupação de que isso aconteça com outros brasileiros.

“Isso exige, por parte do Congresso, uma legislação mais séria para que não fiquemos nas mãos de quadrilhas montadas dentro dos aeroportos”, alerta o governador que disse que vai buscar mudanças na legislação.

Defesa quer levar caso para Tribunal de Direitos Humanos da Europa

A advogada de defesa das goianas Chayane Kuss de Souza, as brasileiras foram inocentadas e não precisam esperar nenhum trâmite processual. No entanto, ela aponta que deve buscar reparação por danos materiais e morais. 

Ela revela que mesmo com petições mostrando a necessidade da medicação de Kátyna, o presídio não forneceu os recursos necessários, colocando a vida da goiana em risco. “Nosso intuito é buscar essa reparação jurídica na Alemanha e no Brasil e temos um forte propósito de tentar prevenir que isso aconteça com outros brasileiros que estão sujeitos a passar por isso para exigir uma legislação ao Congresso Nacional que impeça o uso de celulares em áreas restritas dos aeroportos”, garante.