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Em 2022, os gêmeos australianos Danny e Michael Philippou arrancaram aplausos e gritos tanto do público quanto da crítica especializada com o excelente Talk to Me (Fale Comigo). O filme, que retrata adolescentes viciados no mundo espiritual da mesma forma que dependentes químicos se entregam às drogas, foi aclamado como uma das melhores produções de terror do ano, e com razão.

Três anos depois, os irmãos Philippou parecem não apenas repetir o feito, como também elevaram ainda mais o nível do horror.

Lançado neste ano pela A24 e com previsão de estreia nos cinemas brasileiros no início de agosto, Bring Her Back (Traga Ela de Volta) conta a história de dois meio-irmãos que, após ficarem órfãos de forma trágica, são enviados a um lar adotivo isolado, longe dos centros urbanos. Lá, são acolhidos por uma mulher simpática e afetuosa, mas com um comportamento, no mínimo, excêntrico.

Andy (Billy Barratt) assume o papel de “pai” e protetor da irmã mais nova, Piper, vivida pela talentosíssima Sara Wong. Já Laura, interpretada por Sally Hawkins, demonstra desde o início um desejo quase desesperado de absorver os dois em sua vida, especialmente Piper, por quem nutre uma obsessão inquietante.

Logo fica claro que Laura está tentando preencher uma lacuna deixada por uma perda devastadora: sua filha, que também era deficiente visual como Piper, morreu tragicamente. Desde então, o luto tomou conta da mulher.

A tensão é cuidadosamente construída desde a chegada dos irmãos ao novo lar. Cada canto da casa parece esconder segredos sombrios, indizíveis. A presença desconfortável de Olliver (Jonah Wren Phillips), um menino recluso e que não fala também adotado por Laura, sugere que algo muito errado (e possivelmente macabro) já está acontecendo ali.

Cena de Traga Ela de Volta, filme dos irmãos Philippou | Foto: Reprodução/A24

Toda a propriedade é cercada por um estranho círculo branco, que Olliver jamais ultrapassa. À medida que o tempo passa e a proximidade entre Laura e Piper se intensifica, o comportamento é a aparência de Olliver se deterioram visivelmente, e Andy começa a perceber que ele e a irmã estão correndo um perigo que mal consegue descrever.

O filme é brutal e atinge seu ápice de selvageria visual antes mesmo da metade. Flashes de um ritual russo grotesco envolvendo cadáveres vilipendiados e cenas de automutilação perturbam até os espectadores mais resistentes. Basta imaginar o close de uma criança mastigando com fervor a ponta de uma faca entre os dentes para entender o nível de choque. Em boa parte da projeção, é impossível não desviar os olhos diante da carnificina profana que se desenrola.

Bring Her Back combina elementos sobrenaturais com uma violência gráfica extrema, ampliando o terror já apresentado pelos irmãos Philippou. O resultado é uma obra que não apenas assusta: ela apavora, traumatiza e deixa o espectador com dificuldade de digerir o que viu.

As atuações são um show à parte. Sally Hawkins entrega uma performance poderosa, despertando uma mistura de raiva e compaixão por Laura. Ao mesmo tempo, é impossível não sentir o impulso de entrar na tela para salvar Piper e Andy da armadilha macabra em que se meteram.

Sem dúvidas, o novo filme dos irmãos Philippou é um forte candidato ao título de terror do ano. Mas, justamente por levar tão a sério a missão de provocar horror em estado puro, talvez seja o tipo de filme que se assiste apenas uma vez. Isso, claro, se você conseguir chegar até o fim.