Geralda Rodrigues do Carmo cresceu no interior da Paraíba e se mudou para a capital federal ainda na adolescência. Mãe de três filhos, ela trabalhou como empregada doméstica e auxiliar de serviços gerais. Sem condições de frequentar a escola devido ao trabalho e aos filhos, ela faz parte de uma realidade da educação brasileira.

Levantamento realizado pelo Sesi e Senai aponta que apenas 15% dos brasileiros com mais de 16 anos estão matriculados em alguma instituição de ensino. Os principais fatores para o abandono dos estudos dos jovens são a necessidade de trabalhar e a gravides/filho. 

Entre os jovens que não estudam, apenas 8% alcançaram a escolaridade que desejavam; e 57% não tiveram condições de continuar os estudos por diferentes motivos. 18% dos jovens, de 16 a 24 anos, deixarem de estudar foi gravidez ou nascimento de filhos. A evasão escolar é maior entre mulheres, com 13%; moradores do Nordeste, 14%; e das capitais, 14%. O dobro da média nacional, que é de 7%.   

Melhorias

Os entrevistados apontam que a alfabetização deve ser prioridade para o governo, com 23%; seguida pelas creches, com 16%; e ensino médio, 15%.  

Além disso, a alfabetização teve a pior avaliação de qualidade; e o ensino técnico foi o mais bem avaliado. Já a educação pública é vista como boa ou ótima por 30% da população, índice que sobe para 50%, na educação privada.   

O diretor-geral do Senai e diretor-superintendente do Sesi, Rafael Lucchesi, explica que a pesquisa mostra que é preciso melhorar a educação no país.  “Não podemos ter um projeto de país, para o desenvolvimento social e econômico, sem considerar a educação. Conhecer os motivos e o perfil dos jovens e adultos que interromperam os estudos, e consequentemente sua evolução profissional, é indispensável para criar oportunidades e reduzir desigualdades”, alerta o diretor-geral do SENAI e diretor-superintendente do SESI, Rafael Lucchesi.

A pesquisa ouviu 2 mil pessoas com mais de 16 anos nas 27 Unidades da Federação, tendo uma amostra representativa da população brasileira.

Ruptura começa no ensino médio

O ensino médio, que deveria ser a ponte entre a educação básica e o início da trajetória profissional, é, provavelmente, a etapa mais emblemática. Cerca de 1 em cada 10 alunos reprova (4,7%) ou abandona (4,2%) a escola no 1º ano. O índice de reprovação cai para 3% no 3º ano, mas o de abandono sobe para 4,7%. Os dados são referentes ao Censo Escolar 2021. 

Em um país com 66,4 milhões de brasileiros com mais de 18 anos que não têm o ensino médio completo e não frequentam a escola, é contraproducente fechar os olhos para essas taxas, afirma Lucchesi. Até porque não demora para aparecerem os reflexos da formação incompleta: 25,8% dos jovens de 18 a 24 anos nem estudam nem trabalham (PNAD Contínua do 4º trimestre de 2022). 

É um problema crônico, que deixa o Brasil na lanterna, como aponta a última edição do Education at a Glance, da OCDE: os nem-nem eram 35,9% dessa parcela da população em 2020, o que colocava o país como 2º com a maior proporção de jovens fora da sala de aula e do mercado de trabalho. A média dos países da OCDE era de 16,6%.