Empresária e advogada, Ana Paula Rezende Craveiro, de 55 anos, é a filha do meio de três irmãos, junto com Adriana e Cristiano Rezende, prole de Iris Rezende Machado. Considerado um dos políticos mais respeitados e influentes não só de Goiás, mas do País, Iris partiu em novembro de 2021, aos 87 anos. “Eu falo que meu pai, se não foi o maior, foi um dos maiores políticos da história deste País, porque foi uma vida inteira dedicada a servir. E assim eu fui acostumada”, diz Ana Paula, que recebeu a reportagem do Jornal Opção no escritório antes usado por seu pai, no setor Marista, em Goiânia.

A empresária diz que após a morte do pai, homem que passou pelas cadeiras de vereador, prefeito, deputado, senador e governador de Goiás, pensou que se afastaria por completo da política – ambiente em que nasceu e cresceu. Ledo engano. A própria Ana Paula percebeu que a decisão não ficaria de pé por muito tempo. “Minha primeira sensação, quando meu pai morreu, foi de que eu nunca mais queria olhar para esse mundo político. Mas, com o decorrer do tempo, eu vi que esse mundo político é o meu”.

Passado o (longo) período de luto na política pela partida de um dos maiores líderes da história do estado goiano, mandatários e outros líderes políticos começaram a indagar aos seus botões e entre eles: Quem seria capaz de assumir o posto e preencher o vácuo? Afinal, o ano de 2021 havia levado dois dos nomes mais proeminentes da tradição política de Goiás e do MDB. Além de Iris, também partira precocemente Maguito Vilela – que assim como Iris, só não passou pela presidência da República.

Imediatamente, por óbvio, os olhos se voltaram para as sucessões sanguíneas. Daniel Vilela, filho de Maguito, hoje ocupa o posto de vice-governador. Por enquanto. Isso porque Daniel já é preparado pelo próprio Ronaldo Caiado para sucedê-lo em 2026. O candidato a governador “em construção” tem seguido os passos do pai, edificando alianças, adquirindo expertise política, aprendendo no dia a dia o jogo de cintura necessário para o Palácio das Esmeraldas.

Já a filha de Iris, assim como Daniel Vilela, passou a ser vista como sucessora de seu pai. Inevitável não identificar os traços e atributos do prefeito de Goiânia em Ana Paula. Ponderada, técnica e de bom trato com as pessoas, a advogada costuma despertar a memória afetiva do goianiense de forma frequente. O apelo para que ela, que desde sempre acompanhara o pai na política somente nos bastidores, se lançasse como candidata veio intensa, sedenta.

Ana Paula folheia álbum de fotografias do pai | Foto: Ton Paulo/Jornal Opção

Em evento em agosto de 2023 que contou com a presença do presidente nacional da legenda, a juventude do MDB em peso e outras lideranças fizeram um apelo para que Ana Paula Rezende disputasse o Paço Municipal. O ex-prefeito de Aparecida de Goiânia, Gustavo Mendanha, chegou a dizer que a empresária “era o sonho de consumo do MDB”. Ana Paula foi às lágrimas. Porém, após várias tentativas de correligionários, a resposta dela foi negativa.

As tentativas, no entanto, continuaram. O próprio governador passou a sondar Ana Paula Rezende para que fosse ela a candidata da base caiadista na corrida à Prefeitura de Goiânia. A resposta foi a mesma: “Não era o momento”. Após a confirmação do empresário Sandro Mabel como candidato do governo, a filha de Iris entrou no radar, portanto, como possível vice na chapa dele. As pesquisas qualitativas apontavam que o goianiense gostaria de uma mulher gestora como vice-prefeita de Goiânia, atributo que se encaixava no perfil de Ana Paula. Mais uma vez, houve a negativa.

De frente para o jornalista do Jornal Opção, no escritório em que seu pai costumava receber dezenas de pessoas por dia, mesmo quando não era mais prefeito, Ana Paula fez questão de destacar a devoção, o comprometimento do pai com o que fazia. Mesmo em idade avançada, não havia pausas no que, segundo ela, Iris fazia de melhor: cuidar e liderar.

“O meu pai não parava. A gente tem que lembrar que meu pai foi eleito prefeito com 84 anos. Eu nunca enxerguei meu pai como um idoso. Meu pai sempre foi muito jovem, de cabeça, de físico, de espírito, mas ele tinha 84 anos, então eu me sentia, como uma obrigação de filha mesmo, de cuidar dele, de tentar fazer ficar mais fácil, porque é muito pesado. A vida do político que faz a política de verdade, com honestidade, com responsabilidade, então, é muito difícil. Eu vi meu pai enfrentar coisas ali que eu não posso nem te contar, mas é muito pesado. E eu ficava preocupada com isso […]. Cabe a nós levar esse exemplo, essa referência adiante”.

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A pergunta do jornalista era inevitável: “Por que não aceitou os convites, apesar dos apelos?”. Para a filha de Iris, a maestria do pai em fazer política passava também pela experiência e sabedoria de uma trajetória septuagenária, bagagem que ela sentia ainda não possuir. “Quando eu fui convidada para ser candidata, eu tive muita insegurança, porque eu falei: ‘Sem meu pai, é muito pesado’. Porque eu não sei se eu teria forças para enfrentar esse mundo político como está hoje, sem a presença dele. Ele tinha força, mas ele tinha sabedoria, ele tinha 70 anos de experiência, ele tinha amor, ele tinha vocação, responsabilidade e ele tinha liderança. Ele sabia que ele tinha o povo com ele, e isso foi até o final. E ele teve dificuldades. Nessa última gestão não foi fácil, mas ele deu conta”.

“Aí eu ficava pensando: ‘Eu não tenho experiência política, eu não tenho a sabedoria que ele tinha, eu não posso colocar em risco a história do meu pai’. Porque ali, se não desse certo, não era a minha vida que ia mudar, a vida da minha família. Era a vida de um milhão e meio de pessoas que estariam sob a minha responsabilidade […].Eu não poderia ser candidata agora porque as pessoas não me conhecem, ninguém me conhece e o meu sentimento é que as pessoas queriam um pouquinho mais do Iris”, disse.

Campanha de Mabel

Mesmo tendo decidido não sair candidata, Ana Paula Rezende não esconde ter planos na política. A advogada deve tentar uma vaga no legislativo estadual ou federal em 2026, e deve contar com amplo apoio da base governista para tal. Enquanto isso, Ana Paula já pavimenta o caminho. A filha de Iris aceitou o convite do candidato e entrou na campanha de Sandro Mabel como apoiadora convicta. Ela, inclusive, tem saído às ruas em grandes caminhadas, e conta com grande receptividade da população, que como dito, parece identificar nela traços de Iris Rezende.

Questionada do porquê de ter aceitado o desafio, Ana Paula diz que não conseguiria se omitir, e que enxerga em Mabel condições para que ele faça “uma excelente gestão”, justamente por ele seguir “as referências” iristas.

“A gente tem o dever de mostrar para as futuras gerações que existiu, sim, um político que fez a política na sua verdadeira essência por quase 70 anos e que transformou a história de um Estado inteiro. Goiânia não seria o que é hoje se não tivesse sido a vida desse político que viveu pensando nessa cidade, nessas pessoas, o que ele poderia fazer para melhorar a vida de cada um […]. Eu acho que eu não podia me omitir. O governador me pediu para entrar [na campanha]. O candidato Sandro Mabel me pediu e eu realmente acho que o Sandro é o melhor projeto para a nossa cidade”.

Tenente-coronel Cláudia Lira, vice de Mabel, e Ana Paula Rezende durante caminhada | Foto: Instagram/Reprodução

“Eu acho que o Sandro teve essas referências e esses exemplos. Ele tem o apoio do governador, que isso é muito importante. Ou seja, o Sandro tem tudo pra fazer uma excelente gestão, e eu me senti na obrigação de ajudar, eu não podia me omitir, eu acho que a gente tem que ter posição. Foi assim que eu aprendi. Então eu decidi, eu vou trabalhar pelo melhor projeto, pelo projeto que eu acredito que é o melhor”, enfatizou.

A empresária relata que, ao sair em caminhadas pelas ruas, conversando com pessoas e pedindo para que votem em Sandro Mabel, sente a memória viva do pai. Iris Rezende era conhecido por marcar presença em eventos com a população. O politico era frequentemente visto em mutirões, caminhadas, visitas e reuniões, momentos em que abraços de apoiadores e conversas diretas eram presenciadas – exemplo que Ana Paula parece procurar seguir.

“Meu pai sempre foi muito intenso. Ele fazia tudo com muita intensidade, com muita responsabilidade. Estou fazendo e procurando fazer da melhor forma e acho que a melhor forma de se fazer política hoje é estar em contato com o povo, é olhar nos olhos, é sentir quais são as necessidades. Eu acho que o político hoje tem que aprender a abrir a janela e olhar para as pessoas, tem que parar de olhar para um espelho. Mas ninguém imagina o quão difícil pra mim fazer uma caminhada, como eu fiz ontem, na Vila Mutirão.”, diz.

Ainda segundo Ana Paula, “a conduta da maioria dos nossos políticos está errada” e a preocupação maior de um político “tem que ser as pessoas e não eles próprios ou a pessoa, o político em si”. “Então, eu quero contribuir para mudar isso. E como que eu posso fazer isso? Eu acho que é continuar levando a história do meu pai. O exemplo que ele deixou, o legado que ele deixou […].  As pessoas estão clamando por políticos que olhem por elas, que cuidem delas, mas a gente tem que saber escolher. É realmente uma coisa muito complexa, mas a gente não pode perder a esperança. E eu falo, a minha parte eu vou fazer e eu quero construir o meu caminho. ”.

Futuro do MDB

Hoje vice-governador, o emedebista Daniel Vilela é tido como o nome natural para a sucessão de Caiado em 2026. O governador, inclusive, colocou o filho de Maguito Vilela à frente de grandes projetos do Estado, como a articulação política no interior, a reforma no Estádio Serra Dourada e as relações comerciais com outros países. Com a iminência da possível candidatura ao governo de Goiás, a expectativa é que Daniel passe o bastão de presidene do MDB em Goiás, cargo que ocupa hoje. E novamente, os olhos se voltam para Ana Paula Rezende.

A filha de Iris Rezende diz compartilhar da visão do pai sobre a importância de integrar um partido forte. “O partido é um instrumento que o político tem para ajudar as pessoas. Então, se você tem um partido forte, fica mais fácil esse caminho, e se você tem um partido fraco, fica muito mais difícil de conseguir executar esse projeto de ajudar. Isso ele sempre passou para nós lá em casa. Não podia nem passar pela nossa cabeça que existia um outro partido que não fosse o MDB, ele amava e ele tinha uma dedicação ao partido que era impressionante”, conta.

Ana Paula diz ter a responsabilidade e a vontade de “contribuir e fortalecer” o MDB. “Quero resgatar aqueles que muitas vezes estão se sentindo órfãos. Porque eu sei que a gente precisa de um líder. Não que eu pretenda chegar [a isso], eu quero contribuir, quero contribuir com o Daniel, quero junto com ele fortalecer esse partido, mas não tem nenhuma pretensão de ser presidente do partido ou de ocupar um cargo ou um mandato”, afirma a empresária, deixando no ar se vai disputar o mandato de presidente do MDB goiano.

Ana Paula mostra fotografias de álbum de família e trajetória do pai, Iris Rezende | Foto: Ton Paulo/Reprodução

Memorial Iris Rezende

Pensado para ser um projeto para mostrar a vida e a trajetória na política do prefeito de Goiânia, Ana Paula Rezende planeja inaugurar, ainda neste ano, o Memorial Iris Rezende. A exposição permanente terá como espaço o Centro Cultural Casa de Vidro, na avenida Jamel Cecílio, Jardim Goiás, em Goiânia. A previsão é que o Memorial Iris Rezende seja inaugurado no dia 22 de dezembro – aniversário do politico.

Segundo Ana Paula, o projeto será um meio de mostrar para esta geração e as futuras o legado de seu pai, Tanto como uma lembrança, quanto como uma inspiração. “Acho que a maior característica dele, do meu pai, é o amor, e eu quero mostrar isso nesse memorial. Eu digo que ninguém vai sair de lá do jeito que entrou. As pessoas vão entender o que a política significava para o meu pai. Ele foi movido o tempo todo por isso. Hoje eu vejo, por duas coisas: temor a Deus e amor pelas pessoas”.

“Meu pai foi coerente, foi leal. Do mesmo jeito de quando ele foi vereador, a primeira vez, até o último dia dele como prefeito, meu pai foi a mesma pessoa. Ele não mudou, a mesma simplicidade, a mesma responsabilidade, ele levava a política como uma coisa muito séria, porque é muito séria. Porque você lida com vidas, com pessoas. E essa seriedade, essa responsabilidade que ele tinha, eu sinto muita falta disso hoje”, finaliza.