Secretário de Saúde de Goiânia nega envolvimento no esquema de corrupção entre UTIs particulares e agentes do SAMU

Secretário de Saúde Fernando Machado (PMDB) é investigado na Operação SOS Samu | Foto: Renan Acciolly / Jornal Opção
Secretário de Saúde Fernando Machado (PMDB) é investigado na Operação SOS Samu | Foto: Renan Acciolly / Jornal Opção

O secretário de saúde de Goiânia, Fernando Machado e sua esposa, a médica Vanessa Gomes Maciel estão na lista de investigados da operação SOS Samu, confirmou na manhã desta terça feira (5/7) o Grupo de Atuação Especial de Combate a Crime Organizado (Gaeco), por meio da assessoria de comunicação do Ministério Público de Goiás (MP-GO). Segundo a informação do Gaeco, o secretário ainda não foi notificado, mas ele e a esposa devem prestar depoimento ainda esta semana.

Procurado pela reportagem, o secretário afirmou por meio de assessoria que não dará entrevista sobre o assunto, mas segue afirmando que não tem nenhum envolvimento com as supostas irregularidades investigadas pela operação. Além disso, afirma ainda que o fato de sua esposa ter cotas em uma empresa de UTI em Aparecida de Goiânia, investigada pela operação, “não configura em participação dos mesmos em atos ilícitos”.

Fernando Machado encaminhou um ofício ao procurador-geral de justiça do MP-GO, Lauro Machado, no qual se coloca a disposição para prestar qualquer esclarecimento necessário para o prosseguimento das investigações.

O Gaeco, por sua vez segue as investigações que apuram o esquema de corrupção envolvendo funcionários do Serviço de Atendimento de Urgência (Samu) e responsáveis por UTIs e hospitais particulares em Goiânia.

Nesta fase, os agentes trabalham com duas vertentes de investigação, apurando os atos de corrupção para o encaminhamento de pacientes que tivessem convênio com plano de saúde para determinadas UTIs particulares, bem como as denúncias de alteração de quadro clínico de pacientes por parte de funcionários do Samu. O MP apura a ação de socorristas que teriam usado métodos de rebaixamento artificial de consciência de pacientes, inclusive com a aplicação de remédios de efeitos sedativos, para conseguir a internação de paciente em unidade de terapia intensiva.

Desde que a operação foi deflagrada, no último dia 21 de junho, diversas pessoas, supostamente vítimas do esquema, procuraram o Ministério Público para relatar casos em que existe a suspeita de deterioramento de quadro clínico.

Investigados

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A Operação SOS Samu foi deflagrada no dia 21 de junho pelo Ministério Público de Goiás (MPGO). Foram 24 mandados de prisão preventiva contra profissionais de Saúde, acusados de direcionar pacientes atendidos pelo Atendimento de Urgência, que possuíssem planos de saúde, a determinadas Unidades de Terapia Intensiva, fraudando a respectiva regulação do acesso aos leitos de UTI do Samu.

Todos os presos da operação foram liberados depois do prazo de cinco dias de prisão temporário expedido pelo MP. Na última segunda-feira (4/7), porém, um dos investigados, o médico cardiologista Rafael Haddad, voltou a ser preso depois que foi expedido um novo mandado, desta vez de prisão preventiva, pela juíza substituta Patrícia Dias Bretas, que levou em consideração o envolvimento de Haddad em um outro esquema semelhante, que ocorria no Hospital de Urgências de Goiânia, investigado em 2009 pelo Ministério Público.

 

O esquema

Durante as investigações, foi descoberto um esquema de pagamento de propina a alguns funcionários do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência de Goiânia (Samu) – condutores socorristas, técnicos de enfermagem, enfermeiros e médicos – para que estes direcionassem pacientes atendidos pelo Atendimento de Urgência, que possuíssem planos de saúde, a determinadas UTIs, fraudando a respectiva regulação do acesso aos leitos de UTI.

O pagamento da propina a alguns funcionários do Samu foi realizado por médicos, por responsáveis e proprietários de UTIs.

Segundo o MPGO, o esquema funcionava assim: feito o atendimento de urgência pelo Samu, por condutor socorrista ou técnico de enfermagem, era contatada a regulação de vagas do acesso aos leitos de UTI, cabendo a esta determinar o encaminhamento do paciente para algum hospital vinculado ao SUS, de acordo com a regulação de vagas. Entretanto, os investigados estavam fraudando tal procedimento de atendimento de pacientes que possuíam planos de saúde — eram encaminhados para unidades de UTI particulares.

Os funcionários do Samu investigados recebiam propina para realizar esse direcionamento de pacientes. O pagamento era feito ou em dinheiro, diretamente, ou mediante depósito bancário, pelos proprietários ou representantes dessas UTIs, revelam os investigadores.

Além da irregularidade na rotina de encaminhamento de pacientes às UTIs, o Ministério Público constatou encaminhamentos desnecessários de pacientes — ou seja, pacientes atendidos pelo Samu que não demandavam internação em unidade de terapia intensiva eram desnecessariamente internados.

A fim de simular a gravidade do estado de saúde desses pacientes, os envolvidos no esquema chegavam a usar o método de ‘rebaixamento artificial de consciência do paciente’, obtida com a aplicação de medicamentos de efeito sedativo, para poder mantê-lo na UTI de hospitais particulares.