Feirantes do Jardim América reclamam de Cepal “ocupado” por vereadores
19 novembro 2015 às 12h14
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Câmara Itinerante ocupou metade do espaço da feira. Trabalhadores reclamam de falta de atenção por parte do poder público
A animação da feira no Centro Popular de Abastecimento e Lazer (Cepal) do Jardim América, na manhã desta quinta-feira (19/11), foi um tanto diferente do usual. De fato, a região estava movimentada, mas metade dos feirantes não foram ao local montar suas barracas. Isso tudo porque a Câmara Itinerante — programa que leva a sessão da Câmara Municipal e serviços do governo para diversos bairros de Goiânia — ocupou metade do espaço do Cepal justamente no dia da feira, que acontece no local às quintas e aos domingos.
“Cadê o vereador da pamonha?”, disse Natal de Souza, da barraca de frutas, em referência ao presidente da Câmara, Anselmo Pereira (PSDB), que recentemente reclamou do barulho produzido pelo carro da pamonha na região onde mora. Natal, que faz feira no Cepal há 15 anos, disse que não foi consultado sobre a Câmara Itinerante.
Aos 40 anos de idade e 25 só de feira, Evandro Brandt, também com uma barraca de frutas, disse que políticos vão ao local conversar com os feirantes somente em época de campanha. De acordo com ele, olhando de forma rápida, consegue perceber que pelo 15 colegas não foram no local.
Para o presidente Anselmo Pereira, não há prejuízo algum. “Estamos trazendo é clientes para eles. Ora, nós estamos vivendo um processo de interação. Eu mesmo vou tomar um café e comer pastel daqui a pouco. Vou trazer lucro, como todos os outros. Um dia só não traz problema para ninguém.”
Não é o que pensa Ozair Ferreira da Costa, que há 30 anos monta sua barraquinha de frutas no espaço. Desta vez, não foi possível. “Cheguei aqui e não tinha espaço para as minhas mercadorias. Tive que ir embora. É um prejuízo muito grande”, afirmou.
Na barraca de condimentos, perto da estrutura que separa a feira da Câmara Itinerante, Gilberto Assunção, de 46 anos e 26 anos no espaço, reclama que a ação dos políticos prejudicou muitos feirantes. “Vi muita gente indo embora com os carros cheios de mercadoria, porque não coube aqui.”
Já Maria Madalena e o esposo, José Pereira, na feira do Cepal há 30 anos com uma barraca de verduras e legumes, foram na última terça-feira (17) na Secretaria Municipal da Indústria, Comércio e Serviços (Semic) perguntar sobre a estrutura montada no Cepal desde domingo. “Não tem um aviso, nada. Ninguém veio falar com a gente”, disse José, ao que dona Maria completou: “E você acha que político vem aqui? Nem olhar para a gente eles olham, ainda mais pegar na nossa mão suja.”
A reclamação era geral. Eli Antônio, há 20 anos na feira do Cepal, disse que nem sabia do que se tratava a ação da Câmara. “Não conversaram comigo, não vieram aqui. Só sei que pegaram um espaço da nossa feira.” José Roberto, com 12 anos de feira, questiona o tratamento dos políticos com a classe. “Com a gente não tem conversa, não tem discussão. Vieram, fizeram e quem não coube teve que ir embora.”
O presidente do sindicato dos feirantes do Estado de Goiás, Wellington Mendanha, disse ao Jornal Opção que avisou funcionários da Câmara Municipal que estrutura no Cepal iria atrapalhar a feira. O presidente garante que conversou com o vereador licenciado que ocupa a Secretaria de Tecnologia e Desenvolvimento Econômico, Paulo Borges (PMDB), mas que de nada adiantou. “Falei com o Bernardo do Cais também, liguei na Câmara e ninguém fez nada. Eles não escutam a gente”, disse.
A estrutura para o evento começou a ser montada no sábado à noite e foi finalizada somente na quarta-feira (18). No domingo (15), segundo o chefe de gabinete da presidência que acompanhou a montagem, Ciro Meireles, havia somente as tendas, permitindo que a feira ocorresse normalmente. Agora, a estrutura será toda desmontada no sábado (21), já que a Câmara Itinerante termina na sexta-feira (20), às 17 horas.