Fechamento de lojas em Goiânia reflete mudanças estruturais no varejo, avaliam entidades e consumidores
20 dezembro 2025 às 14h00

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O aumento de pontos comerciais vazios em avenidas estratégicas de Goiânia tem chamado a atenção de empresários, entidades representativas do setor e da população. Em corredores tradicionais do comércio, como a Avenida 85, setores nobres como o Marista e vias de grande fluxo, a exemplo da T-63, placas de “aluga-se” e imóveis fechados tornaram-se mais frequentes, evidenciando um cenário de retração e reconfiguração do varejo urbano.
Segundo representantes do setor, o fenômeno não pode ser atribuído a uma única causa. Juros elevados, aluguéis em alta, carga tributária, mudanças no perfil do consumidor, concorrência com o comércio eletrônico e dificuldades estruturais das regiões comerciais compõem um quadro considerado multifatorial, que tem exigido adaptação constante dos lojistas.
O presidente do Sindicato do Comércio Varejista no Estado de Goiás (Sindilojas-GO), José Reginaldo Garcia, avalia que o fechamento de lojas é resultado da soma de vários entraves econômicos e operacionais. “É reflexo da soma de vários fatores, como as altas taxas de juros, a disparada nos preços dos aluguéis, uma pesada carga tributária, a falta de mão de obra no mercado e até mesmo a concorrência com o comércio eletrônico”, afirmou. Segundo ele, a tributação recente sobre grandes plataformas estrangeiras ajudou a amenizar parcialmente essa concorrência.
Garcia destaca que, em áreas valorizadas da capital, o custo da locação tem sido um dos principais fatores de pressão sobre o varejo. “Neste ano, os preços dos aluguéis em Goiânia subiram além da inflação. Pela atual conjuntura econômica, várias lojas têm fechado as portas, infelizmente, por não faturar o suficiente para manter em dia os seus compromissos financeiros”, explicou, ao ressaltar que o aluguel representa uma parcela significativa dos custos operacionais das empresas.
Apesar do cenário desafiador, o presidente do Sindilojas-GO avalia que as lojas físicas continuam viáveis, desde que se adaptem às novas exigências do mercado. “É um modelo viável e muito tradicional. Uma pesquisa recente mostrou que 75% dos consumidores pretendem comprar os presentes de Natal em lojas físicas”, disse. Para ele, o principal desafio está na modernização do setor. “O caminho é inovar, modernizar e criar estratégias capazes de competir com o comércio eletrônico”, acrescentou.
Sobre a flexibilização de contratos para evitar imóveis comerciais vazios, Garcia afirmou que as negociações ocorrem diretamente entre locadores e lojistas, com apoio indireto do sindicato. “O Sindilojas-GO tem uma assessoria jurídica muito atuante, sempre à disposição para orientar o empresário lojista”, disse, lembrando que a entidade promoveu recentemente palestras com especialistas em direito imobiliário voltadas ao varejo.
Ele também defendeu a ampliação de políticas públicas de incentivo ao comércio nos corredores urbanos. “O empresário é um gerador de empregos e precisa ser ouvido. O comércio é um dos três setores que mais geram empregos em Goiânia”, afirmou. Segundo Garcia, o fortalecimento do varejo impacta diretamente a geração de renda, a arrecadação e o desenvolvimento urbano. “A cidade tem polos comerciais de diferentes segmentos espalhados pela capital. Depende muito da tradição do comércio naquele determinado local”, concluiu.
A superintendente executiva da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Goiânia, Hélia Gonçalves, afirmou que a entidade ainda não realizou um diagnóstico específico sobre o aumento de imóveis comerciais vazios, mas reconhece que o cenário reflete uma mudança estrutural no setor. “A CDL Goiânia não fez nenhum diagnóstico nem levantamento para entender esse cenário, mas de fato nós estamos entendendo que se trata de uma mudança estrutural e multifatorial”, explicou.

Segundo ela, o principal fator é a transformação no comportamento do consumidor. “O comércio tem se adaptado à mudança do perfil do consumidor. Hoje ele busca mais praticidade, mobilidade, agilidade e está cada vez mais digital”, disse. Hélia ressaltou que o consumidor não deixou de consumir, mas mudou a forma de compra. “Esse consumidor não some, ele apenas migra de forma de consumo”, afirmou.
A superintendente destacou que, diante desse novo cenário, muitos lojistas têm deixado grandes centros comerciais. “Muitas vezes ele sai dos grandes eixos pela dificuldade de estacionamento, de segurança e pelos custos operacionais elevados, principalmente aluguel”, disse. Segundo ela, a migração para modelos híbridos, que combinam venda online e presencial, tem sido uma alternativa. “Esse modelo reduz custos de forma substancial e aproxima o comerciante do consumidor”, avaliou.
Sobre o impacto dos aluguéis, Hélia foi enfática. “O valor dos aluguéis, com certeza, tem impacto no fechamento das lojas. O custo fixo pesa muito, principalmente para micro e pequenos empresários”, afirmou. Para ela, os custos estruturais têm levado o comércio a buscar novas formas de vender e se manter ativo.
Como orientação aos empreendedores, a superintendente reforçou a importância de acompanhar as mudanças do mercado. “A dica é que os empreendedores fiquem atentos à mudança do perfil do consumidor, buscando formas de venda que tragam mais comodidade e facilidade de acesso, tanto no digital quanto no presencial”, disse. Ela também destacou o papel da CDL. “A CDL não atua apenas em momentos de crise. Nós temos vários serviços de apoio, uma atuação forte em relações institucionais e governamentais e trabalhamos para fortalecer o ambiente de negócios”, afirmou.
Na avaliação de Hélia Gonçalves, não há risco iminente de esvaziamento definitivo das grandes avenidas comerciais. “Essas mudanças são naturais e têm a ver com a evolução do comércio e do perfil do consumidor”, ponderou. Ainda assim, ela defendeu políticas públicas para tornar essas regiões mais atrativas. “É importante que as políticas públicas fomentem esse ambiente, para que essas regiões não fiquem esvaziadas e percam o cunho de grandes centros comerciais”, concluiu.
A percepção de moradores e frequentadores dessas avenidas reforça as preocupações com o cenário. O médico Alexandre Macedo, que tem imóvel na região da T-63, relatou aumento visível de espaços abandonados. “Cada vez que a gente volta, eu me deparo com mais locais abandonados. Na minha opinião, isso abre margem para a marginalidade”, afirmou. Para ele, é necessário um olhar mais rigoroso do poder público. “Tem que entender o problema mais a fundo para evitar consequências maiores”, disse.

O aposentado e operador de loja Fernando Takeo também atribui o fechamento das lojas ao alto custo e à concorrência online. “O preço dos aluguéis deve estar muito alto e a concorrência com o comércio online está muito acirrada”, avaliou. Ele acrescentou que a falta de mão de obra também tem pesado. “Tem mais emprego do que gente querendo trabalhar”, afirmou.

Fernando ressaltou que o excesso de imóveis vazios gera sensação de abandono. “Isso é muito ruim, dá uma sensação de abandono no comércio”, disse. Para ele, a solução passa por renegociação de valores. “Os preços de locação e de venda dos pontos comerciais estão muito elevados e isso desestimula o empreendedor”, concluiu.
Moradora da região, Josilene Chagas avalia que o impacto vai além da economia. “Isso é ruim porque as pessoas que moram aqui ficam sem opções de compra”, disse. Ela também apontou os aluguéis altos como causa do fechamento das lojas. “Isso gera desemprego e deixa o ambiente feio, abandonado”, afirmou. Segundo ela, a presença de lojas em funcionamento aumenta a circulação de pessoas e melhora a dinâmica urbana. “Quanto mais lojas abertas, melhor a movimentação e a oportunidade de compra e venda”, ressaltou.

A autônoma Leila Souza, que trabalha em uma galeria da região, afirma que o modelo comercial do local não se sustenta. “Aqui não tem movimento suficiente para comércio. Uma loja de bijuteria ficou seis meses pagando R$ 14 mil de aluguel e R$ 4 mil de condomínio e fechou”, relatou. Segundo ela, o perfil do espaço não favorece o varejo tradicional. “Isso aqui funciona mais para escritório, banco ou lanchonete. Para comércio, não dá certo”, disse.

Leila também apontou a falta de estacionamento e o fluxo apressado de pedestres como entraves. “As pessoas passam correndo para pegar ônibus e não param para comprar”, afirmou. “Pagar R$ 18 mil por mês acaba inviabilizando. O prejuízo é muito grande”, concluiu.
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