Falta transparência nas movimentações financeiras do Padre Robson, aponta MP
25 agosto 2020 às 18h38
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Valores corrigidos pelo Grupo de Autuação Especial de Combate ao Crime Organizado apontam movimentação de R$ 2,2 bilhões
A movimentação financeira do Associação Filhos do Pai Eterno, gerida pelo padre Robson de Oliveira, gira em torno de R$ 2,2 bilhões, conforme apontou revisão realizada após as buscas e apreensões realizadas na Operação Vendilhões, realizadas na última sexta-feira, 21.
Os sete promotores do Grupo de Autuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público do Estado de Goiás, que atuam no caso passam analisar o material apreendido, entre computadores, aparelhos de celular, pen-drives e documentos encontrados nos cinco pavimentos da sede da Associação.
Os valores acima dos R$ 2,2 bilhões chamam a atenção não somente por serem vultosos, mas pela falta de transparência, conforme indicou um dos promotores que conversou com o Jornal Opção. As investigações mostraram triangulações de dinheiros, uso de contas de pessoas sem condições de movimentar quantias detectadas, pagamentos em espécie e uso de várias pessoas jurídicas.
“Caso fosse uma instituição financeira pode-se supor que não há ilegalidade em muitos casos. Mas ficam muitas indagações. Por que não foram feitas transferências? Por que tantos pagamentos em espécie? Por que foram realizadas tantas triangulações de valores?”, são questões que chamam a atenção e passam a ser alvo de investigação.
Além disso, a agressividade dos “investimentos” chama a atenção. O dinheiro recolhido junto a fieis, a princípio para a construção da Basílica de Trindade, foi usado, em grande parte, para investimentos, conforme registra a defesa do padre Robson.
A compra de fazendas para criação de gados, imóveis em condomínios fechados e até uma casa de praia em Guarajuba, na Bahia, foram obtidos através do dinheiro recolhido em forma de doações. No entanto, não constam de forma transparente para o fiel que deposita o dinheiro na instituição.
Diante da movimentação, representantes do Vaticano estiveram em Trindade para investigar a Associação Filhos do Pai Eterno. É possível que a própria Igreja aplique punições contra o padre Robson, caso seja comprovada a má-fé nas movimentações.
Ação cível
Com os desdobramentos das buscas e operações há possibilidade de o Ministério Público desmembrar as investigações, não somente para outros entes envolvidos no suposto esquema (o vice-prefeito de Trindade, Gleysson Cabriny, aparece como parte dos quadros societários de empresas de comunicação com ligação com a Afipe), como também para em ação cível contra a Associação.
O religioso e a Associação são investigados por suposta apropriação indébita, lavagem de dinheiro, falsificação de documentos e sonegação fiscal. Após a deflagração da Operação Vendilhões, padre Robson pediu afastamento da entidade e a arquidiocese revogou temporariamente o uso das ordens do padre.
A defesa do líder religioso afirma que as movimentações financeiras estão todas catalogadas e dentro da legalidade.