Falcão apresenta ao público a credencial de porta-voz de Lula junto ao poder
16 agosto 2014 às 12h04

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A senha inicial veio do companheiro Gilberto Carvalho poucos dias antes. Pela primeira vez, o secretário-geral da Presidência admitiu, em nota de jornal, que pode deixar o posto em dezembro. Não disse o motivo, nem precisava. Todos sabem da pressão que os dilmistas fazem para Carvalho se afastar logo do palácio e mergulhar na campanha da reeleição.
A segunda senha veio do presidente do PT, Rui Falcão. Na última segunda-feira, o jornal “Valor” publicou uma entrevista na qual Falcão afirmou que Lula terá uma presença maior num segundo governo de Dilma Rousseff para garantir a volta dele ao Planalto daqui a quatro anos e desenvolver o projeto de poder do PT:
“Precisamos eleger a Dilma para o Lula voltar em 2018. Isso significa que, ela, reeleita, começa o ciclo de debate, de planejamento para que o nosso projeto tenha continuidade com o retorno de Lula, em 2018, que é a maior segurança eleitoral de que o projeto pode continuar.”
Abertamente, Falcão afirmou que um segundo mandato de Dilma será necessariamente melhor do que o primeiro porque ela “aprendeu muitas lições”. Uma delas seria a de aumentar a presença de Lula no governo. O ex-presidente não teria sido o protagonista, até agora, porque desejou, espontaneamente, não ofuscar a sucessora.
Na versão de Falcão, não houve uma disputa de poder entre Lula e Dilma. “Houve esse distanciamento planejado e deliberado por parte dele” para evitar uma competição que seria comum “entre quem indica e quem sucede, entre criador e criatura”— dias antes, a presidente censurou a insistência com que o ex se refere a ambos, em público, como criador e criatura.
Como Carvalho já disse antes, Falcão reiterou que, se houve o avanço social da “nova classe média”, a evolução não ocorreu pelo mérito de seus membros, que teriam se empenhado em melhorar de vida. A promoção social derivaria do fato de que o PT amparou as pessoas, que agora estariam alienando o dever de retribuir politicamente aos petistas.
Trata-se da teoria da ingratidão, que Carvalho abordou, há dois meses, em entrevista a blogueiros amigos no Planalto, a propósito dos xingamentos a Dilma na abertura da Copa do Mundo há dois meses. As vaias e palavrões seriam oriundos de gente socialmente emergente que não reconhecia o valor do governo petista.
Agora, Falcão retornou ao que seria alienação social. “Essa ideia do mérito próprio estimula fragmentação, o individualismo afasta as pessoas de coisas mais sociais, coletivas”, condenou o presidente do PT, que prefere o engajamento da nova classe média na militância em defesa do partido. A falta de gratidão justificaria, hoje, os riscos da reeleição de Dilma.
O recado de Falcão quis dizer que falta ao Planalto uma política de comunicação eficaz dirigida as emergentes para ensinar que a melhoria de vida deles deriva de políticas públicas patrocinadas pelo partido. Seria um erro da presidente ao não “dialogar” com o povo, ensinou o porta-voz, jornalista mineiro que se elegeu deputado estadual em São Paulo.