A Faculdade Alfredo Nasser (Unifan) é acusada de suposto envolvimento em um esquema de roubo de cadáveres para uso no laboratório de anatomia. O diretor-geral e proprietário da instituição, Professor Alcides Ribeiro Filho, candidato a prefeito de Aparecida de Goiânia pelo partido Liberal (PL), é mencionado nas investigações. Em 2017, a Polícia Civil de Goiás abriu um inquérito para apurar as denúncias. A reportagem esteve na sede da Unifan na quarta-feira, 15, e foi informada por um funcionário que se identificou como Messias que a empresa “não tem interesse” em se manifestar. O repórter ligou para o celular do Professor Alcides e para o celular do jornalista Ronaldo Coelho, que trabalha como seu consultor, mas não foi atendido.

O denunciante, ex-funcionário da Unifan que trabalhou na instituição por oito anos e ocupou o cargo de diretor do curso de saúde, afirmou em depoimento à Delegacia de Repressão ao Crime Organizado (Draco) que Professor Alcides Ribeiro teria “confessado” o “roubo” dos cadáveres. Ele também revelou que peças anatômicas humanas estavam sendo comercializadas para atender à demanda do laboratório de anatomia da faculdade. Segundo o denunciante, para tentar legalizar o material, os envolvidos teriam utilizado documentos falsificados, supostamente emitidos pela Superintendência da Polícia Técnico-Científica de São Paulo.

O repórter procurou o denunciante, mas foi informado por sua mãe que ele está escondido, pois teria sido ameaçado. Ele chegou a morar dois anos no Paraguai por medo de ser morto. Ele era seguido e vigiado, de acordo com a familiar.

No ofício enviado ao promotor substituto João Biffe Júnior, o delegado Lúcio Flávio Bernardes Melo, responsável pelo inquérito nº 59/2017, afirmou que a investigação buscava apurar crimes de falsificação de documento público, uso de documento falso e subtração ou ocultação de cadáveres. O policial destacou que esses crimes teriam ocorrido dentro da Unifan.

O denunciante também informou que sua função incluía a obtenção de corpos para estudos anatômicos por meio de um convênio com a Universidade Federal de Goiás (UFG), com todos os documentos assinados pelo Professor Alcides Ribeiro. No entanto, alegando escassez de corpos, a instituição teria solicitado material ao Instituto Médico Legal (IML) de São Paulo, prática considerada inadequada pelo denunciante. Pouco tempo depois, um táxi vindo de São Paulo teria chetado à Unifan com várias partes humanas, entregues num sábado pela manhã, sem a gravação das câmeras de segurança.

O denunciante afirmou que os corpos recebidos já apresentavam sinais de preparo para estudos acadêmicos, levantando suspeitas sobre a origem do material. Quando questionou os responsáveis, teria sido “ameaçado” de morte caso o assunto não fosse encerrado. Em uma conversa posterior, Professor Alcides teria admitido o “roubo” dos cadáveres de uma faculdade em São Paulo. Ante supostas ameaças, alegando questões de segurança, o denunciante decidiu fugir do país.

Em entrevista concedida à Rádio Bandeirantes na manhã desta quinta-feira, 17, ao jornalista Altair Tavares, o Professor Alcides reconheceu a instauração de um inquérito e a existência de um processo, mas destacou que ele foi arquivado por falta de provas.

“Foi transformado em processo e arquivado por falta de provas. Não há provas, não houve essa compra de cadáveres”, afirmou. O candidato ressaltou que, desde 2017, a Unifan possui um contrato com o Instituto Médico Legal (IML) para o fornecimento de cadáveres.

“Todas as faculdades de medicina trabalham dessa maneira”, explicou. “Hoje, a maioria das peças que usamos são anatômicas, peças importadas, que têm grande importância, pois funcionam como se fossem cadáveres reais”, justificou.