Padre Genésio, que já foi militante de esquerda, se diz ‘curado do petismo’ e diz que votar no PT é votar contra a agenda cristã

Padre Genésio | Foto: Fernando Leite / Jornal Opção

Genésio Lamunier Roams, este o nome do padre que atua na Paróquia  Nossa Senhora D’Abadia, no distrito de Souzânia, em Anápolis, e que viralizou nos últimos dias por pregar contra partidos de esquerda e se dizer “curado do petismo”.

Tudo começou no dia 17 de outubro durante a tradicional missa que acontece no sábado a noite para a pequena comunidade de Souzânia. Durante a celebração, no momento dos avisos, Padre Genésio decidiu dar um testemunho envolto de polêmicas e que resultou em processos movidos pelo candidato do PT em Anápolis, Antônio Gomide.

“Eu dei um testemunho e uma orientação do ponto de vista de um católico, de um padre, sobre o perigo que é para nossa agenda cristã escolher um partido de esquerda, especialmente o PT. E dei meu testemunho de cura. Eu usei essa expressão ‘enfermidade’ para falar do petismo justamente porque se assemelha muito com o que uma enfermidade faz na pessoa: os estragos que faz ao pensamento, ao coração, à união da família, ao bem social, à saúde financeira do país e da cidade. Eu não estava preparado nem esperando uma repercussão grande em volta disso”, relembra.

Na ocasião, Pe. Genésio também criticou o trabalho realizado por Antônio Gomide na época em que foi prefeito de Anápolis e disse que não voltaria a votar nele. “Eu agradeço as coisas boas que ele fez agora, eu já dei chance para ele, mas eu não gostei, por exemplo, que ele não terminasse o segundo mandato”.

Ele conta que decidiu falar de política porque no dia 17 de outubro o evangelho proposto dava ensejo para que fosse abordada a relação da igreja com a sociedade e da fé com a política. “Era o evangelho do tributo, quando surge o questionamento: É lícito, mestre, pagar tributo a César? E Jesus então fala, mostre-me a moeda, é de quem? É de César. E a inscrição é de quem? É de César. Então dê a Deus o que é de Deus e dê a César o que é de César”.

O sacerdote lembra que descansava na manhã do dia seguinte quando começou a receber mensagens que alertavam sobre seu vídeo que estava sendo espalhado na internet. “Se tocou a mim essa missão, se eu posso fazer isso pela minha igreja, pela minha cidade e pelo meu país eu faço, porque no passado eu errei. Acho que é sensatez a gente reconhecer e eu reconheci em público e por isso que incomodou”.

Padre Genésio considera que alertar seus fiéis sobre boas e más escolhas, também no campo político, faz parte do seu papel. “Eu entro nisso porque tudo que diz respeito ao meu povo diz respeito a mim. Eu tenho título de eleitor, eu pago impostos, eu sou cidadão, eu sou formador de opinião, eu tenho a palavra de Deus para pregar, eu estou vendo a família sendo destruída com essa ideologia. Eles defendemo aborto, a ideologia de gênero”.

“Se eu tenho que pregar a favor do 6º mandamento, então eu tenho que pregar a favor da família. Se eu devo pregar a favor da honestidade porque tem o 7º mandamento que diz ‘não furtarás, não roubarás’ então eu tenho que falar dos roubos e o PT assaltou o país. Liberdade não é poder escolher entre o bem e o mal, a verdadeira liberdade é poder escolher entre bens. Eu padre, se colocasse como opção partidos que tenham agenda contra a fé, se eu propuser isso eu não estaria sendo um bom padre”.

Na Justiça

A manifestação durante a missa do dia 17 de outubro foi o motivo do primeiro processo de Gomide contra o Padre Genésio. De lá pra cá vieram mais dois. Isso porque mesmo diante da reação do candidato à prefeitura, Padre Genésio não se calou. Pelo contrário, passou a gravar mais vídeos e pedir votos contra o PT.

“Ele me processou uma vez porque eu falei dentro da igreja, encontraram brecha da lei sendo que eu estava munido do meu direito de liberdade de expressão. Mas aí me processou de novo quando falei na porta da igreja. A vontade de processar dele é infinita. Aí me processou uma terceira vez, agora na justiça comum. Ele que ganha mais de R$ 25 mil por mês está me pedindo R$ 20 mil de indenização”.

O sacerdote diz não se preocupar com os processos e afirma que cerca de 25 advogados o procuraram e se disponibilizaram para defendê-lo gratuitamente. “A própria comunidade se juntou e fez vaquinha para me ajudar a pagar as multas, mas não é necessário. Eu já avisei que troco tudo por votos contra o PT. Eu não me importo com processos, eu quero que o senhor Gomide se apresente como o ele é”, alfineta.

‘A cura do petismo’

Padre Genésio | Foto: Fernando Leite / Jornal Opção

Quem vê as críticas incisivas de Padre Genésio ao PT e a partidos de esquerda não imaginaria que ele já foi militante da sigla. A ‘cura’, como o sacerdote classifica, segundo ele não foi fácil. Ele diz que tinha sofrido uma espécie de ‘ lavagem cerebral’ e compara o petismo a um chiclete que gruda no sapato em dia de sol quente: “você tenta se livrar dele, mas é difícil, ele gruda demais”.

Padre Genésio conta que foi o discurso de acolhimento aos pobres que o seduziu para a militância do partido. Mas, após compartilhar dos ideais esquerdistas, ele disse que percebeu que tudo era baseado numa filosofia marxista que é ateia e materialista. “Para a esquerda e para o marxismo não há o além. O céu é aqui, ou fazemos por aqui, ou nada. E o mundo deles é uma visão muito simplista, e sempre devemos desconfiar das coisas simples demais. Para eles o mundo é dividido entre dominadores e dominados, ricos e pobres. Só por você e seu pai serem empresários, vocês já são do mundo mal. E aqueles que forem pobres, assalariados, já estão salvos por isso, independentemente se aquela pessoa na condição dela praticar corrupção, for injusta, for ruim pro esposo ou para esposa, isso não conta muito”.

“A minha cura se deu graças a um mínimo de honestidade intelectual, boa vontade no coração e pessoas extraordinárias, inteligentes, homens e mulheres de igreja que conversaram muito comigo e não foi fácil. Digo que não fácil. É um sofrimento muito grande pra quem está perto de petista porque você não pode pensar diferente, você não pode questionar. O mínimo aceno de que você verificou algo nos dados, na prestação de contas, já é suficiente para perseguirem você, para difamarem você como reacionário, difamador, inimigo dos pobres”.

De eleitor a crítico contundente de Gomide

Goiano nascido em Itumbiara, Padre Genésio chegou em Anápolis no ano 2000 e por duas vezes depositou na urna seu voto para Antônio Gomide. “Votei duas vezes no Gomide porque todo mundo embarcou naquela coisa do rapaz bonzinho, que ele é uma coisa mas o PT é outra, a mesma coisa que tem gente enganado até hoje”, explica.

Genésio não aprovou as gestões do petista nem o fato de ele ter abandonado seu segundo mandato. E cita dados que baseiam seu posicionamento.

O primeiro deles é a ação proposta pelo MP e acolhida pela Justiça que determinou o bloqueio de bens de mais de R$ 1,6 milhão de Gomide e demais envolvidos em improbidade na obra da Câmara de Anápolis. Na ação, o promotor Arthur José Jacon Matias responsabiliza os ex-gestores municipais, os ex-secretários, os engenheiros e as empresas por irregularidades na execução das obras de reforma e ampliação da sede da Câmara Municipal.

O segundo ponto levantado por padre Genésio é a contratação de funcionários fantasmas na Saúde de Anápolis durante a gestão de Gomide. Respondem ao processo gestores que ocupavam cargos em virtude dos quais cooperaram ou foram omissos com a prática ilícita, sendo eles: o ex-prefeito de Anápolis, Antônio Gomide, os ex-secretários de Saúde do município Wilmar Martins, Luiz Carlos Teixeira Silva Júnior, Irani de Moura e Roberson Guimarães, além do ex-presidente do Conselho Municipal de Saúde Marcelo Rodrigues Silveira. Todos eles foram acionados pela prática de improbidade administrativa, conforme sua participação no caso.

“Sempre que é questionado ele diz que ‘ah, mas a administração para que eu controle tudo’. Então, se ele não é capaz de controlar tudo ele é incapaz”

Outro fator que faz padre Genésio pedir votos contra Gomide é o questionamento do Tribunal de Contas da União (TCU) sobre irregularidades na execução de um convênio entre o Ministério do Esporte e a Prefeitura de Anápolis, no valor de R$ 813 mil. O próprio ministério oficiou o ex-prefeito para que fosse regularizada a prestação de contas de 2010, referente ao projeto de implantação de 48 núcleos de Esporte Educacional em Anápolis. O projeto atenderia 4.800 crianças, jovens e adolescentes com práticas esportivas.

O departamento de gestão interna do Ministério do Esporte impugnou dois valores repassados à Prefeitura de Anápolis para execução do projeto: R$ 376 mil e R$ 157 mil. Atualizados, os valores subiram para R$ 574 mil e 239 mil, respectivamente.

“O TCU também questiona a aplicação de recursos que ele conseguiu da União para pavimentação asfáltica. O problema é que na petição o destino daquele asfalto era alguns bairros como Flor de Lis, Ibirapuera, Residencial Don Felipe. os asfaltos foram feitos, mas não para esses bairros, mudou o destino. Uma coisa curiosa é que ele não pegou recurso só do Ministério das Cidades mas também do Ministério do Turismo, mas estes bairros eram de periferia e não tem a ver com o turismo”, aponta.

Por fim, Padre Genésio diz que Gomide se furta de dar explicações sobre as acusações a que responde. “Sempre que é questionado ele diz que ‘ah, mas a administração para que eu controle tudo’. Então, se ele não é capaz de controlar tudo ele é incapaz”, conclui.

“É impressionante como as pessoas se calam, mas o senhor Antônio Gomide, de acordo com o empresário Ricardo Saud, recebeu R$ 2 milhões de propina da JBS, o delator fala isso. E qual é a resposta sensata, sábia do Gomide para o MP, para a imprensa e para o povo que o elegeu? Ele simplesmente diz: ‘não, foi o diretório nacional do PT que repassou e o PT de Anápolis recebeu’. Se o senhor diz que não é caixa 2, isso é falta de transparência e não te exime de culpa. Em tudo ele está escondendo e mentindo”, finaliza.