Exclusivo: engenheiro goiano de Ipameri revela bastidores da trajetória até a Nasa

09 agosto 2025 às 15h30

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Engenheiro líder técnico do grupo de espectro no Jet Propulsion Laboratory da Agência Espacial Americana (NASA), Luciano Camilo Alexandre nasceu em Ipameri. Ele é o responsável pelos estudos relacionados à alocação das frequências utilizadas pela Nasa em missões no espaço profundo com destino à planetas como Marte, Júpiter, além de asteroides e outros corpos celestes. Em entrevista exclusiva ao Jornal Opção, ele conta sua trajetória de vida e estudo até alcançar posto na mais importante agência especial do mundo.
Entre as responsabilidades do engenheiro está assegurar que cada missão — de Marte e Júpiter à Voyager 1, o objeto criado pelo ser humano que está mais distante da Terra, a mais de 20 bilhões de quilômetros — mantenha comunicações estáveis e livres de interferências. “Também atuamos na proteção da Deep Space Network, que conecta a NASA às sondas espalhadas pelo sistema solar.”
“Meu trabalho inclui apoiar outras agências espaciais na escolha de frequências mais adequadas com o objetivo de garantir comunicações confiáveis e livres de interferência entre as diferentes missões interplanetárias”, disse ao Jornal Opção.
Entre o Atari e o Cerrado
A curiosidade pela tecnologia começou cedo, ainda na infância em Ipameri. “Tudo começou quando ganhei meu primeiro videogame, um Atari, aos seis anos de idade. Passava horas tentando vencer a máquina ou descobrir o final de jogos como Enduro e River Raid”, conta. “Ficava fascinado tentando entender a lógica por trás dos jogos para conseguir avançar de fase”, lembra.

Na mesma época, o encanto com o campo também deixava marcas. “Em Goiás, eu gostava de ir pra roça nos fins de semana. O pôr do sol no Cerrado, andar a cavalo, pescar no córrego, nadar na represa… tudo isso me fazia sentir vivo.”
O interesse por telecomunicações veio aos 13 anos. “Lembro de ver meus pais usando o telefone para falar com meus avós maternos, que moravam em Minas Gerais. Aquilo me intrigava profundamente. Como era possível se comunicar de tão longe?”
Vestibular e perdas
Camilo lembra que os pais abriram mão de muitos sonhos para garantir sua educação. Ele passou parte da juventude em Ipameri e depois em Goiânia, onde morou na casa de um amigo, até ser aprovado no Instituto Nacional de Telecomunicações (Inatel), em Santa Rita do Sapucaí (MG), aos 17 anos.
Mas o caminho não foi simples. “Sugeri ao meu pai que me deixasse na cidade para fazer o vestibular como presente de aniversário. Ele desviou a rota da viagem à casa dos meus avós e me deixou lá. Fiz a prova e fui aprovado.”
A mudança exigiu renúncias familiares. “Meus pais abriram mão da própria aposentadoria para que meus sonhos fossem realizados.” No entanto, o momento da vitória foi marcado pelo luto. “Três meses antes da formatura, meu pai faleceu. Ele tinha apenas 58 anos. Foi muito difícil. Ele era o alicerce da nossa família.”
Na cerimônia, coube ao jovem engenheiro representar a turma na homenagem aos pais ausentes. “Mal consegui falar o que tinha preparado, pois a emoção tomou conta.”

Crise, colaboração à Anatel e projeção internacional
Após 15 anos trabalhando com consultoria e desenvolvimento de produtos eletrônicos, ele passou por um momento crítico. “Em 2019, comecei a sentir uma grande desmotivação. Cheguei a pensar em abandonar a engenharia e voltar para o campo.” Mais uma vez, o apoio da mãe foi essencial. “Ela não deixou que eu desistisse do sonho da engenharia.”

O retorno veio com uma nova meta: “Iniciei uma pós-graduação e, durante o curso, ouvi do meu orientador: ‘Por que você não faz um mestrado? Você tem o perfil.”
Sua pesquisa o levou à engenharia de espectro, área que estuda o uso eficiente das frequências de rádio — essenciais para as comunicações sem fio. “Conheci Agostinho Linhares, gerente da Anatel, e começamos a trabalhar juntos. Ele me apresentou a questões regulatórias e à Comissão Brasileira de Comunicações.”

Essa atuação nacional o projetou para o cenário internacional. “Participei de reuniões da União Internacional de Telecomunicações (UIT), representando o Brasil. Em algumas delas, havia 500 participantes de quase 200 países.”
Inicialmente, seus estudos eram apresentados por outro colega. Até que surgiu a oportunidade. “Me convidaram para apresentar. Foi ali que minha vida mudou.”
A chance na NASA e a mudança para os EUA
O trabalho na Anatel estava prestes a terminar quando ele decidiu procurar oportunidades fora do Brasil. Chegou a ser recusado por uma empresa em Londres. Até que, em um sábado à noite, encontrou a vaga na JPL.

“Quando li a descrição da vaga, percebi que era exatamente aquilo que eu já fazia. Pensei: por que não tentar?” Meses depois, recebeu a aprovação. “O processo foi extremamente rigoroso. Já tinha interagido com colegas da NASA na UIT, mas agora seria diferente. Eu faria parte da equipe.”
Camilo revela ao Jornal Opção que, se pudesse visitar algum corpo celeste, a escolha clara é Marte. “É um planeta que carrega muitos mistérios e seria fascinante explorá-lo mais de perto.” Fora do sistema solar, ele destaca o exoplaneta Kepler-22b, em zona potencialmente habitável. “Ainda estamos longe de alcançá-lo, mas ele desperta muita curiosidade.”
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