Ex-presidente do Banco Central diz que é falso o debate entre salvar vidas ou economia
27 março 2020 às 10h10

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Para o economista Arminio Fraga, se não houver isolamento, economia pode sofrer segundo baque

O ex-presidente do Banco Central, Arminio Fraga, em entrevista ao jornal O Globo, defendeu a ideia de que é falsa a dicotomia entre salvar vidas e a economia. Para o economista, suspender a quarentena imposta na maior parte do país não levaria os brasileiros a saírem gastando, nem os empregos seriam preservados em sua plenitude.
“Dá a impressão de que há um custo econômico, e há. Mas dá também a impressão de que há uma alternativa sem custo, que seria fazer o (isolamento) vertical. Mas isso não é verdade”, argumenta Arminio, ao enfatizar que, para socorrer a economia, é preciso agir rapidamente, o que não está acontecendo.
Arminio pontua que o isolamento é a única opção, por isso, quem agiu com presteza teve resultados melhores. “Suspender a quarentena não significa que as pessoas vão sair gastando e os empregos vão ser preservados na sua plenitude. No caso do Brasil, pegaria um número muito grande de pessoas muito fragilizadas. Da população brasileira, 38% são idosos, portadores de doenças crônicas ou ambos. Seria uma loucura”, pondera.
Custo econômico
O economista critica a defesa ao modelo chamado de vertical, e aponta que a rede de hospitais no país não estaria preparada para uma emergência desse tamanho, “seria uma catástrofe social”. Ele lembra que as pessoas já estão muito assustadas e não vão sair consumindo mesmo que se decrete o fim do isolamento de repente.
De acordo com Fraga, o caminho é gastar algum tempo em quarentena. “Seria reduzida aos poucos, com cuidados. Haverá, portanto, um custo econômico. Alguns passam a impressão de que há uma alternativa sem custo, que seria fazer o (isolamento) vertical. Mas isso não é verdade. E, num segundo momento, a economia poderia levar a um segundo baque”, explica
“Estamos fazendo uma administração para ganhar tempo, minimizando as perdas humanas, é uma questão humanitária, reduzindo ao máximo possível o pico da demanda por UTI hospitalar e torcendo para que chegue logo o momento da vacina ou de alguma cura”, diz Fraga.
Resposta à crise
Nesse meio tempo, Arminio dispara que é crucial que o governo apresente uma estratégia clara, que deveria englobar quatro grandes ações de resposta à crise: apoio à rede hospitalar, manutenção do abastecimento e da logística, ajuda à população mais pobre e socorro às empresas. “Na questão da logística, é importante levar até as pessoas alimentos que, no Brasil, são produzidos em enorme abundância. Não podemos correr o risco de as pessoas passarem fome”, diz.
Para ele, o socorro aos mais vulneráveis deve seguir o caminho apontado por Marcelo Medeiros (especialista em desigualdade de renda e professor visitante na Princeton University). “É preciso usar o Cadastro Único, zerar a fila do Bolsa Família e depois ampliar o programa. É uma ferramenta que existe e precisa ser acionada rapidamente. O ideal neste momento não é buscar a perfeição, é soltar os recursos o quanto antes. Este é um uso nobre dos recursos, talvez o mais nobre, em paralelo aos recursos para o SUS. A outra frente de ação é o crédito para as empresas”. (Com informações de O Globo)