Ex-diretor da Educação de Goiânia continua foragido da Polícia Federal
17 dezembro 2024 às 13h35
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O ex-diretor administrativo da Secretaria Municipal de Educação de Goiânia (SME), Ítallo Moreira de Almeida, continua foragido da Polícia Federal (PF), na investigação de seu envolvimento em esquema de fraudes em contratos públicos e desvios de recursos em ao menos 14 estados. Nomeado em agosto e exonerado no último dia 10 de dezembro, Ítallo é alvo de um mandado de prisão expedido pela Operação Overclean, que apura movimentações ilícitas de R$ 1,4 bilhão.
A Operação Overclean, deflagrada pela PF da Bahia, investiga um esquema complexo envolvendo corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Segundo o inquérito, o grupo liderado pelos irmãos Alex Rezende Parente e Fábio Rezende Parente, donos da Allpha Pavimentações e da Larclean Saúde Ambiental, operava superfaturando contratos públicos em vários estados. As fraudes eram viabilizadas com a participação de servidores públicos que recebiam propinas para favorecer licitações. Ítallo, de acordo com as investigações, desempenhava papel de intermediário nas negociações.
“O comunicante alega que ALEX é conhecido como um
grande empresário na região e que este justifica que movimenta na sua
conta pessoal valores de suas empresas, como a Larclean Saúde
Ambiental Ltda, que opera na área de limpeza e higienização com
contratos públicos e privados, alegando comodidade e praticidade para
tais operações. O comunicante enfatiza que a movimentação financeira
de ALEX está acima da sua capacidade financeira presumida. Além disso,
que a conta apresenta recebimentos de depósitos de diversas localidades
e saques em espécie, o que dificulta a identificação da real destinação
dos recursos. […]
Os principais remetentes de recursos para ALEX foram a LARCLEAN SAUDE
AMBIENTAL LTDA e FABIO REZENDE PARENTE, seu irmão”, detalha o inquérito.
De acordo com o inquérito policial, o esquema começou no Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS) e se espalhou para outras administrações, beneficiando empresários e agentes públicos. Para blindar os pagamentos ilícitos, o grupo utilizava empresas fantasmas, dificultando o rastreamento dos recursos. O nome de Ítallo Moreira surgiu durante análises de mensagens trocadas entre os envolvidos, nas quais ele teria indicado contas bancárias para depósito de propinas.
Movimentação suspeita e o papel do ex-diretor
Durante sua atuação como servidor na Secretaria Estadual de Educação do Tocantins, Ítallo é acusado de ter favorecido a empresa Larclean. Em contrapartida, ele teria recebido cerca de R$ 172 mil em transferências bancárias feitas para contas indicadas aos empresários investigados. Essa proximidade com as empresas do grupo criminoso colocou o servidor sob o foco da Operação Overclean.
Ítallo foi nomeado diretor administrativo da SME de Goiânia em 20 de agosto, ao lado do secretário Danilo de Azevedo Costa, substituto de Millene Baldy. No entanto, a passagem do ex-diretor pela administração municipal coincidiu com a intensificação das investigações. Mesmo exonerado pela Prefeitura no dia da operação, a PF aponta que o envolvimento de Ítallo no esquema começou antes de sua atuação na capital goiana.
A SME esclareceu ao Jornal Opção que a exoneração do servidor foi uma decisão judicial e destacou, em nota, que a operação “ocorre no âmbito do Estado do Tocantins”. A pasta afirmou que acompanha os desdobramentos e reiterou compromisso com a transparência.
Contratos milionários sob investigação
Além do DNOCS, contratos firmados por outras administrações públicas levantaram suspeitas. A Larclean Saúde Ambiental, por exemplo, tem vínculo com a Prefeitura de Goiânia desde junho deste ano. A empresa foi contratada pela Secretaria Municipal de Saúde para prestar serviços de dedetização ao custo inicial de R$ 3,27 milhões. Em setembro, houve um aditivo elevando o valor para R$ 4,08 milhões e a renovação do contrato por mais um ano.
Embora a investigação ainda não tenha incluído o contrato de Goiânia, a ligação de Ítallo com a empresa acende alertas. Segundo as provas colhidas pela PF, a organização criminosa atua sistematicamente desde 2021, utilizando contratos fraudulentos para desviar recursos públicos e assegurar a continuidade dos ilícitos em diferentes estados.
Os responsáveis pelo esquema, como os empresários Fábio Rezende Parente e José Marcos Moura, conhecido como “rei do lixo”, movimentavam altas somas de dinheiro em Brasília. Em uma das ações monitoradas, a PF flagrou uma entrega de R$ 1,5 milhão em um jatinho particular.
Posicionamento da Seduc e prisões realizadas
O envolvimento de Ítallo Moreira não passou despercebido pela Secretaria de Estado da Educação (Seduc). A pasta informou que o servidor foi oficialmente desligado em setembro deste ano e que vem colaborando com as investigações. No mesmo mês, Ítallo assumiu o cargo em Goiânia.
Ao todo, a Operação Overclean decretou a prisão de 17 pessoas. Claudinei Quaresmin, apontado como um dos organizadores do esquema no Tocantins, foi capturado. Contudo, Ítallo segue foragido.
Para reforçar a apuração, a Justiça Federal determinou medidas cautelares como prisão preventiva, busca e apreensão, bloqueio de bens e compartilhamento de provas. A investigação conta com apoio da Controladoria-Geral da União, que identificou uma série de irregularidades nos contratos firmados com as empresas envolvidas.
Em complementação o MPF requer autorização para o compartilhamento das provas produzidas e que venham a ser produzidas após cumprimento dos mandados de busca e apreensão, nos procedimentos investigatórios que venham a ser instaurados para adoção das providências cabíveis no âmbito cível, bem como autorização de compartilhamento com os procedimentos investigatórios cíveis e criminais.
A complexa organização do esquema
A Polícia Federal destacou a sofisticação do grupo criminoso, que possuía uma estrutura hierarquizada. Servidores públicos eram cooptados em diferentes estados para facilitar licitações direcionadas e pagamentos superfaturados. O lucro gerado com os contratos, conforme o inquérito, era dividido entre os líderes do esquema e os agentes envolvidos, garantindo a perpetuação dos crimes.
Os responsáveis, além de atuarem no Tocantins e na Bahia, expandiram os ilícitos para estados como Amapá, Goiás e Rio de Janeiro. A PF acredita que a continuidade dos contratos fraudulentos tinha como objetivo consolidar a estrutura do esquema e manter o fluxo constante de recursos desviados.
Por ora, Ítallo Moreira continua foragido, e a Polícia Federal segue trabalhando para garantir sua localização e prisão.
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