A jovem Caroline Dias Gonçalves, de 19 anos, estudante brasileira bolsista nos Estados Unidos, está detida há mais de 10 dias em um centro de detenção de imigrantes no Colorado. Ela foi presa pelo ICE (Serviço de Imigração e Alfândega dos EUA) no dia 5 de junho, após ser parada por uma infração de trânsito durante viagem de carro entre os estados do Utah e Colorado.

Segundo relatos, Caroline dirigia o carro do pai para visitar amigos em Denver quando foi abordada por um policial local, que alegou que ela dirigia muito próxima a um caminhão. O agente a liberou com apenas um aviso.

Pouco tempo depois, no entanto, Caroline foi parada novamente — desta vez por um agente do ICE, que a deteve sem apresentar mandado de prisão. A prisão ocorreu mesmo com carteira de motorista válida e sem antecedentes criminais.

A estudante está atualmente detida no centro de imigração de Aurora, no Colorado, à espera de audiência judicial marcada para 18 de junho. Caroline vive nos Estados Unidos desde os 7 anos.

Sua família, natural do Brasil, entrou no país com visto de turismo em 2012 e permaneceu além do prazo. Em 2021, eles solicitaram asilo político alegando situações de violência no Brasil.

Desde então, receberam autorizações de trabalho, carteiras de habilitação limitadas e números de seguridade social. A jovem cursa Enfermagem na Universidade de Utah, com bolsa concedida pela organização TheDream.US, que apoia estudantes imigrantes.

Prisão levanta suspeitas de cooperação irregular entre polícia e ICE

A detenção sem mandado levanta suspeitas de colaboração inconstitucional entre a polícia estadual e o ICE, o que pode ser investigado pelas autoridades do Colorado. O advogado de Caroline, Jonathan M. Hyman, classifica a prisão como “uma violação grave dos direitos constitucionais”.

“Nenhum mandado de prisão foi emitido. O ICE a deteve sem justificativa legal. Essa prática fere os princípios democráticos dos EUA”, afirmou Hyman à KSL TV. O gabinete do xerife local informou que abriu revisão administrativa para apurar se houve quebra de protocolos ou violação das leis estaduais.

A família de Caroline, que vive no Condado de Utah, não tem falado publicamente sobre o caso. Eles temem também serem alvo das autoridades migratórias. O Itamaraty informou que o Consulado-Geral do Brasil em Los Angeles ainda não foi procurado, mas que está buscando informações sobre a situação da jovem.

Amigos de Caroline lançaram uma vaquinha online para arrecadar fundos para pagar o advogado e uma possível fiança — que, em casos de imigração, precisa ser quitada integralmente. Um abaixo-assinado já conta com mais de 1,8 mil assinaturas em apoio à liberdade da jovem.

“Estamos todos mobilizados. Caroline é uma pessoa doce, divertida e muito querida. Essa prisão é injusta”, diz Megan Clark, melhor amiga de Caroline desde a 7ª série. Megan lembra que Caroline adora música country, sair com as amigas e sonha em construir uma família.

Ela também ajudou a convencer a brasileira a mudar de curso para Enfermagem, por ser uma profissão mais flexível. Em conversas com familiares, Caroline contou que está dividindo cela com outras 17 mulheres, a maioria hispânicas.

Ela relata dificuldades com a alimentação e com a comunicação, já que poucas falam inglês. As ligações só são possíveis com envio de dinheiro pela família ao centro de detenção. A prisão de Caroline ocorre em meio ao endurecimento das políticas de imigração nos EUA, liderado pelo governo de Donald Trump em seu segundo mandato.

Em junho, o ICE mantinha mais de 51 mil imigrantes detidos — o maior número desde 2019. Embora o governo afirme que as ações miram criminosos, muitos dos detidos não possuem antecedentes criminais, como é o caso de Caroline.

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