Estreia de Jean no Atlético Goianiense será marcada por protesto
24 janeiro 2020 às 11h14
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Atleta foi emprestado ao clube goiano pelo São Paulo, após ser preso nos Estados Unidos acusado de agredir a mulher, Milena Bemfica
A estreia do goleiro Jean no Atlético Clube Goianiense neste domingo, 24, deve ser marcada por protestos. O atleta foi emprestado ao clube goiano pelo São Paulo, após ser preso nos Estados Unidos acusado de agredir a mulher, Milena Bemfica. O vínculo segue até o fim desta temporada, que marca a volta do Atlético à Série A do Campeonato Brasileiro.
Jean está suspenso pelo São Paulo e sua vinda para o futebol goiano uma chuva de críticas de torcedores nas redes sociais. Enquanto isso, a direção do clube promete respaldar o goleiro. “O Atlético Goianiense tem o perfil de recuperar atletas, e o ser humano precisa de oportunidades. Ele cometeu um erro, e nós contratamos um grande profissional e vamos dar respaldo”, afirmou o presidente do Atlético, Adson Batista.
Jean foi preso no fim de 2019 nos Estados Unidos e deixou a cadeia depois de um dia, sem precisar pagar fiança. No boletim de ocorrência, Milena Bemfica disse relatou ter sido agredida com oito socos. Ela divulgou vídeo em seu Instagram com o rosto inchado e com hematomas.
Para a partida deste final de semana, está sendo organizada uma manifestação no portão de entrada do Estádio Olímpico Pedro Ludovico, a partir das 13h. Segundo os organizadores, o Atlético Clube Goianiense, que se coloca como o “time da família”, está se contradizendo ao fazer a contratação “de um homem que se tornou exemplo da brutalidade contra a sua própria família”.
Confira a nota de repúdio à contratação de goleiro na íntegra:
Em defesa do amor contrapondo ao ódio, nós, mulheres goianas, nos colocamos como barreiras ao crescimento da violência contra as mulheres e do feminicídio! Somos mulheres de todas as idades, de todas as cores, de amor por diferentes times de futebol, que aqui nos unimos para repudiar, veementemente, o fortalecimento da cultura da violência contra a mulher no Brasil e em Goiás, estado que, segundo diferentes pesquisas realizadas no ano de 2019, encontra-se entre o segundo e terceiro lugar no ranking dos que mais violentam, espancam e matam mulher. Não podemos ficar caladas diante da contratação, por um time goiano, de um goleiro cujas imagens espancando sua mulher, na frente das filhas crianças, ganharam o mundo!
Goiás construiu uma bonita história de seu futebol e não queremos manchá-la com essa nódoa! Não somos depósito de refugo social! Futebol é arte e exemplo de trabalho com amor, inteligência e harmonia. Não violência! Entendemos que um profissional da arte – no palco, tablado, tela ou no campo gramado – tem grande poder de influência sócio-cultural, mais do que os outros trabalhadores comuns. Seu exemplo vai além de sua própria família e, por isso, tem também aumentada a responsabilidade de promover a harmonia, a fraternidade, a saúde física e mental de todos e todas que o amam, que o admiram. Um ídolo jamais pode promover e ser exemplo da violência!
Organizadas enquanto feministas, ativistas de direitos humanos e/ou simples torcedoras de times de futebol, incluindo também torcedores do Atlético goiano, decidimos promover uma série de ações neste domingo (26/01/2020), no Estádio Olímpico de Goiânia, quando o goleiro Jean deve jogar pela primeira vez pelo Atlético Clube Goianiense, que o contratou após ser refugado pelo time paulista onde anteriormente jogava. Neste domingo, quando pais, mães e filhos vêm a um estádio de futebol para assistir um jogo do seu time de coração, não queremos simplesmente dizer não à contratação de um profissional que pode valorizar tecnicamente à equipe. Dizemos não ao fortalecimento da cultura da violência contra a mulher!
De papel velho, usado e rasgado, vamos fazer flores para oferecer como símbolo da mulher machucada, violentada que é capaz de se reconstruir no amor! E, por meio desta Nota de Repúdio, pretendemos sensibilizar os torcedores e torcedoras de todos os times de futebol de Goiás a se fortalecerem na união fraternal e no cuidado de todos e de cada um e cada uma. Nossa luta não é só pelo caso específico dessa violência do goleiro Jean contra a sua mulher e filhas. Entendemos que o Atlético Clube Goianiense, que se coloca como o “time da família”, está se contradizendo ao fazer a contratação de um homem que se tornou exemplo da brutalidade contra a sua própria família!
E assim, como uma forma de contribuir com o não crescimento da cultura da violência contra a mulher, vimos fazer o lançamento de uma ideia de projeto de lei que obrigue a toda empresa que contratar pessoa acusada publicamente, condenada ou não pela Justiça por violência contra a mulher, ao pagamento de porcentagem de seus salários para financiar campanhas da não violência contra a mulher.
Goiânia, janeiro de 2020
Associação Mulheres na Comunicação
Bloco Não é Não
Coletiva Manas
Coletivo de Mulheres Goianas
Coletivo de Mulheres da Região Noroeste
Comitê Goiano de Direitos Humanos Dom Tomás Balduíno
Coordenação Negras e Negros de Goiás
Centro Popular da Mulher de Goiás – CPM/UBM-Goiás
Movimento de Mulheres Olga Benário
Policiais Antifacismo
Sindicato dos Jornalistas de Goiás
Sindicato dos Trabalhadores na Saúde – Sindsaúde