A estranha visita do procurador Janot ao ministro da Justiça e ao vice-presidente
28 fevereiro 2015 às 11h00
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Os pedidos de inquérito contra políticos acusados de receber dinheiro do “petrolão” seriam encaminhados ao Supremo Tribunal Federal (STF) depois do carnaval, conforme a promessa do procurador-geral da República, Rodrigo Janot.
Ainda depois do carnaval, os empreiteiros presos por suspeita de pagamento de suborno à Petrobrás teriam uma notícia animadora, prometeu o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, a advogados de empresários hospedados na carceragem da Polícia Federal em Curitiba.
No calendário, o carnaval terminou há 12 dias e Janot ainda não entregou pedido de inquérito ao Supremo e não se explicou. Na Procuradoria, transpirou que os pedidos serão encaminhados nesta semana, o que não garante a divulgação automática dos nomes dos políticos suspeitos.
Na noite de quarta-feira, 25, iniciaram-se três fatos que se sucederam em cadeia. Começou quando Janot visitou Cardozo. Na manhã seguinte, a presidente Dilma soube pelo ministro que a entrega dos pedidos deve ocorrer nesta semana. Ainda no início da quinta-feira, o procurador visitou o vice-presidente Michel Temer, líder do PMDB.
No contato entre ambos, Cardozo teria recomendado a Janot que reforçasse a segurança pessoal e a da família porque o serviço de inteligência do governo teria detectado risco de ameaças contra eles. Como foi isso? Qual dos serviços de inteligência do governo teria repassado a informação? Nada vazou.
Haveria uma intimidação velada no repasse da comunicação do ministro ao procurador às vésperas da entrega dos pedidos de inquérito? Os pedidos envolvem políticos do governo e, talvez, da oposição. A visita de Janot a Temer poderia ser a propósito do repasse de dinheiro a peemedebistas.
No momento em que a presidente procura valorizar o vice para ter apoio do PMDB na aprovação do arrocho pelo Congresso, a ideia poderia ser não deixar que Temer fosse, mais uma vez, o último a saber sobre fatos que se passam na intimidade do governo.
A entrega por Janot dos pedidos não assegura a publicidade automática dos nomes porque, ao receber a documentação, o ministro Teori Zavascki, relator do petrolão no Supremo examinará os pontos sobre os quais cabe sigilo. Se considerar adequado, poderá liberar as informações gota a gota, à medida que considerar conveniente.
Assim, Zavascki deverá examinar um a um os pedidos de abertura de inquérito contra os políticos suspeitos. Se autorizado, o Ministério Público Federal investigará o político. Com os dados novos, o suspeito será denunciado ao Supremo. Se a denúncia for aceita, o político passará a réu.