Uma investigação da Polícia Civil de São Paulo (PC-SP) revelou, nesta sexta-feira, 27, um esquema criminoso de falsificação de bebidas alcoólicas que pode estar por trás de todas as mortes por intoxicação por metanol registradas no estado. A principal suspeita é Vanessa Maria da Silva, presa em flagrante, cuja fábrica clandestina em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, seria o epicentro da distribuição das bebidas adulteradas.

Segundo o delegado-geral Artur Dian, em entrevista concedida ao Estadão, Vanessa comandava uma rede familiar que incluía o pai, o irmão e o cunhado, todos já presos. O grupo produzia bebidas alcoólicas misturadas com metanol, substância altamente tóxica, e distribuía para bares e restaurantes em diversas cidades paulistas, como São Bernardo e Osasco.

As investigações apontam que o etanol adulterado era adquirido em dois postos de combustíveis da região, com os quais a família mantinha relações financeiras. “O combustível que estava na casa da Vanessa foi comprado nesses postos e foi constatado que essas bombonas continham etanol com metanol”, afirmou Dian.

A polícia chegou à fábrica após investigar a morte de duas vítimas: Ricardo Lopes, de 54 anos, e Marcos Antônio Jorge Júnior, de 46. Ambos consumiram bebidas no Bar Torres, na Mooca, zona leste da capital, já interditado pela Vigilância Sanitária. O bar afirma que todas as bebidas são adquiridas de fornecedores oficiais e com nota fiscal.

Até o momento, seis mortes em São Paulo foram confirmadas por intoxicação por metanol. Uma das vítimas sobreviveu, mas perdeu a visão. Outras quatro mortes ainda estão sob investigação, podendo também estar ligadas ao mesmo esquema.

O metanol é um tipo de álcool utilizado principalmente como solvente industrial e combustível. Diferente do etanol, que é seguro para consumo humano em bebidas alcoólicas, o metanol é extremamente tóxico. A ingestão pode causar náuseas, cegueira, danos neurológicos e até a morte.

Apesar da gravidade do caso, a Polícia Civil descarta, por ora, a participação da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC). A Polícia Federal, por sua vez, investiga se metanol abandonado por criminosos após operações contra o crime organizado no setor de combustíveis pode estar sendo reutilizado para adulterar bebidas.

De acordo com o Ministério da Saúde, os casos confirmados de intoxicação por metanol no Brasil subiram de 32 para 41 em apenas três dias. As mortes passaram de cinco para oito, com novos óbitos registrados em Pernambuco e São Paulo.

A operação desta sexta-feira encerrou o primeiro ciclo da investigação, mas a polícia segue apurando se o esquema se estende a outros estados. “Estamos checando para verificar se ela vendeu para outros locais. Não podemos precisar se ela vendeu para outros estados”, concluiu Dian.

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