Especialistas analisam impactos das deep fakes nas eleições de 2024

27 junho 2024 às 11h46

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Ao definir as regras para a propaganda dos candidatos, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), proibiu o uso de deep fakes, que consistem em áudios e vídeos falsos produzidos com de Inteligência Artificial (IA), capazes de “transformar” uma pessoa em quem ela não é, não disse e não fez.
A resolução nº. 26.610/19 do TSE visa impedir que deep fakes sejam incorporadas às rotinas de campanhas, como meios de propagar conteúdos difamatórios, exaltar realizações falsas e outras situações que possam confundir a percepção do eleitor sobre as candidaturas.
Durante a corrida eleitoral de 2018, um vídeo íntimo do então candidato João Dória, hoje ex-prefeito de São Paulo, gerou polêmica e fez a festa dos adversários. A denúncia acabou sendo arquivada pela Polícia Federal e Dória continuou negando sua ligação com o vídeo.
Mas, passados seis anos do caso Dória, a IA é hoje um importante aliado em praticamente todas as atividades humanas. Nas disputas eleitorais, tem potencial de baratear custos de materiais publicitários, criar jingles, avatares e traduzir falas, diminuindo os custos finais de campanha.
Abuso de poder econômico
O prazo para as convenções partidárias oficializarem as candidaturas e coligações será de 20 de julho a 05 de agosto. Em seguida, as agremiações terão até 15 de agosto para dar entrada nos pedidos de registro dos pré-candidatos, conforme o calendário eleitoral divulgado pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE).
Mas, o advogado especialista em direito eleitoral, Pedro Buritisal, orienta, desde já os pré-candidatos e suas equipes sobre o uso de deep fakes. “Se beneficiar dessas ferramentas pode configurar abuso de poder econômico e uso indevido dos canais de comunicação, podendo acarretar em perda do registro eleitoral, do mandato e da elegibilidade por 8 anos”, conclui o jurista.
Tecnologia contra fraudes
A etimologia explica o significado de deep fake (deep = profundo e fake = falso). Da forma como a IA se integrou às atividades humanas, era previsível que se tornasse uma estratégia importante para os marqueteiros políticos, porém, não de forma fraudulenta.
Tiago Sabino, executivo da NOX5 Segurança Cibernética, com experiência de mais de 8 anos na área, explica que deep fakes são como truques de magia digital: “a tecnologia analisa milhares de imagens de uma pessoa e depois combina essas imagens para criar um vídeo ou uma foto em que essa pessoa apareça dizendo ou fazendo algo que nunca aconteceu na realidade”, de forma sintética é isso”, esclarece.
Como reconhecer uma deep fake
- Olhos: movimentos estranhos ou ato de piscar pouco natural.
- Expressões faciais: Podem parecer desconexas ou não combinar com o ritmo das falas
- Sincronização labial: Podem parecer ligeiramente descompassados com o que está sendo dito.
- Iluminação e sombra: Aparentam ser inconsistentes, com sombras aparecendo de forma estranha sobre o rosto
- Qualidade de Imagem: Partes do rosto desfocadas ou com bordas artificiais
- Comportamento: Observe se a pessoa está se comportando de maneira desconexa com a sua personalidade ou estilo habitual.
Entretanto, a própria tecnologia pode ajudar a combater o mau uso da IA, como no caso das deep fakes, pontua Lucieliton Mundim, executivo da NOX5 Segurança Cibernética, professor de graduação em Segurança de Redes, Gestão da Tecnologia da Informação. “Existem sites, como o smodin e o hivemoderation, que analisam textos, áudios e vídeos, o contexto em que o material foi produzido, probabilidades de ser falso, ou seja, fraude tecnológica sendo combatida pela própria tecnologia. Porém, como o mercado ainda não fornece uma solução definitiva para esse problema das deep fakes, a solução é ficar atento”, reflete.