Na busca por um corpo mais leve e saudável, muitas pessoas adotam medicamentos injetáveis que ajudam na perda de peso. Entre os mais conhecidos, estão os análogos de GLP-1, como a semaglutida, presente em medicamentos como o Ozempic, e a tirzepatida, princípio ativo do Mounjaro. Inicialmente desenvolvidas para tratar o diabetes tipo 2, essas substâncias ganharam espaço nos consultórios também como ferramentas contra a obesidade e o sobrepeso. Contudo, embora a perda de gordura seja evidente, um alerta importante precisa ser reforçado: parte significativa do peso eliminado pode ser massa muscular, o que traz riscos à saúde.

Em entrevista ao Jornal Opção, Adriana Sousa e Silva Carvalho, mestre em Ciências Farmacêuticas, afirma que o uso das chamadas “canetas emagrecedoras” não deve ser encarado como uma solução isolada. “Elas podem sim promover emagrecimento expressivo e contribuir para o controle metabólico. Mas sem uma mudança de hábitos, o tratamento pode comprometer o tecido muscular”, afirma. Segundo ela, a massa magra é essencial para manter o metabolismo ativo, preservar a força física e garantir o funcionamento adequado de diversos sistemas do corpo.

Estudos recentes

Estudos recentes apresentados no Congresso Americano de Endocrinologia (ENDO) de 2025 reforçam essa preocupação. Um dos trabalhos avaliou adultos obesos em tratamento com semaglutida por 12 semanas. Os resultados mostraram que, apesar da perda média de 6,3% do peso corporal, quase metade desse total era massa magra. Em comparação, um grupo que adotou dieta e estilo de vida saudável perdeu menos peso — cerca de 2,5% — mas com menor impacto sobre a musculatura.

Portanto, embora o efeito das canetas seja eficiente na balança, ele pode trazer perdas funcionais importantes, sobretudo em pessoas acima dos 50 anos. Isso porque o envelhecimento já é, por si só, acompanhado por uma redução natural do tecido muscular, condição conhecida como sarcopenia. Quando esse processo se soma a um emagrecimento rápido e não supervisionado, o risco de perda de densidade óssea e funcionalidade aumenta.

Tirzepatida (Mounjaro) proporciona redução de peso maior que à da semaglutida (Ozempic e Wegovy). | Foto: Divulgação / Eli Lilly

O que fazer então?

Os medicamentos não devem ser descartados, pois há ganhos importantes mesmo com a perda muscular. E os análogos de GLP-1 ajudam a reduzir gordura infiltrada no músculo, o que melhora sua qualidade. Entretanto, é necessário garantir que o corpo tenha os recursos certos para preservar o que importa. Nesse sentido, uma das aliadas mais eficazes é a proteína.

De acordo com o mesmo estudo apresentado no ENDO 2025, pacientes que aumentaram a ingestão diária de proteína conseguiram proteger melhor a massa magra. No grupo que usou semaglutida, a maior ingestão de proteínas foi associada a uma perda muscular menor. Já no grupo que seguiu apenas dieta, esse efeito só foi observado quando a ingestão proteica era alta desde o início do acompanhamento. “Isso mostra que começar com hábitos alimentares consistentes faz toda a diferença no resultado final”, destaca Adriana Carvalho.

Outro ponto crucial é a prática de atividade física regular. Exercícios de resistência, como musculação, mostraram-se decisivos na redução da perda de músculo entre os usuários da medicação. “A musculatura precisa de estímulo para se manter ativa. Por isso, treinos regulares — mesmo que com baixa intensidade — são indispensáveis”, reforça a farmacêutica.

Alertas e recomendações

Embora ainda não exista um protocolo universal sobre a quantidade ideal de proteína para quem utiliza essas medicações, diretrizes recentes sugerem iniciar cada refeição com 20 a 30 gramas do nutriente. Para indivíduos moderadamente ativos, a recomendação gira entre 1 e 1,5 grama por quilo de peso corporal ao dia. Caso o apetite esteja reduzido — algo comum durante o uso das canetas — o uso de shakes com pelo menos 20 gramas de proteína por porção pode ser uma alternativa viável.

Entretanto, Adriana Carvalho alerta para os excessos. “A proteína é essencial, mas também exige equilíbrio. O consumo excessivo, especialmente de origem animal, pode gerar sobrecarga renal e inflamação. Por isso, é importante variar as fontes: carnes brancas, peixes, ovos, leguminosas e proteínas vegetais são bem-vindos”, orienta.

Além da alimentação e dos exercícios, ela destaca que outro fator importante é o acompanhamento multiprofissional. O uso das canetas deve ser sempre prescrito por médicos e, idealmente, acompanhado por nutricionistas e educadores físicos. Isso porque o emagrecimento ideal vai além da perda de peso: trata-se de preservar saúde, funcionalidade e qualidade de vida. “Com o suporte adequado, é possível emagrecer com segurança e preservar aquilo que o corpo precisa para viver bem”, conclui a especialista.

Ou seja, apesar do apelo das soluções rápidas, o caminho mais seguro segue sendo a combinação de ciência, disciplina e cuidado contínuo. Além do trabalho e pesquisa de profissionais dedicados à ciência. As canetas emagrecedoras podem ser aliadas poderosas, porém, como qualquer medicamento, exigem responsabilidade do paciente.

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