Especialista descarta 3ª guerra, mas alerta para efeitos mundiais do conflito EUA x Irã
04 janeiro 2020 às 08h00
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Para professor de jornalismo internacional, medir forças com os EUA será tarefa complicada, mas prevê reações iranianas que podem desencadear confrontos generalizados no Oriente Médio
Após o ataque a míssil dos Estados Unidos contra o Irã resultar nas mortes do general Quassem Soleimani e do líder iraquiano Abu Mehdi al-Muhandis, a comunidade internacional se mantém em alerta pelos riscos de respostas por parte dos iranianos, que já prometeram vingança de forma expressa. Em entrevista ao Jornal Opção, o professor especialista em jornalismo internacional da Universidade Federal de Goiás (UFG), Juarez Maia, diz não vislumbrar riscos de uma 3ª guerra mundial, mas afirma que o conflito pode resultar em crise global.
De acordo com Juarez, o ataque à Soleimani já era previsível. O professor relembra que o protagonismo do general à frente das forças armadas ao derrotar o Estado Islâmico na Síria, que em consequência impediu a entrada dos americanos no país, foi mais um dos elementos que tornaram o militar alvo do Pentágono. “O Soleimani era estratégico na composição da cúpula do Irã. Era tido como o cérebro, já reconhecido como fora de série do ponto de vista estratégico”, afirma Juarez Maia.
Após uma série de tentativas frustradas de encontrar o líder militar, a execução bem sucedida no aeroporto do Iraque não coloca fim ao imbróglio, explica o professor. “Os aiatolás estão com um dilema. De um lado perderam o homem mais importante da história dos últimos 30 anos. Se eles não reagirem darão forças até mesmo para a oposição iraniana”, explica Juarez, que antevê: “O Irã sabe que criar um atrito de alta capacidade contra os EUA é tarefa complicada, mas existem forças suficientes para acabar com bases americanas no Catar e na Arábia Saudita”.
Efeitos do conflito
Em razão das forças militares já conhecidas pela comunidade internacional, Juarez explica que só é possível prever riscos de um conflito em dimensões globais caso Rússia e China decidam participar ativamente de confrontos. “A Rússia, por exemplo, deve atuar mais para amenizar os ânimos. É provável que atuem em sistema moderado”, considera o especialista. Sobre qual fator levaria os russos para a participação em conflitos, Juarez levanta a hipótese de ataques e ocupação americana na Síria.
“Depende do estrago que o Irã vai fazer em reação. A máxima é um conflito generalizado na região”, afirma o professor, que acrescenta que o poder dos aiatolás podem ser perdidos em duas possibilidades: “Existe uma sociedade civil dentro do Irã de oposição ao atual poder, não sei a proporção, mas existe”, isso significa, segundo o professor, que em caso de não reação, essa oposição sai fortalecida. Entretanto, a depender da força impetrada pelos iranianos, a contra reação americana também pode derrubar os atuais líderes do país.
Crise do combustível
Apesar de haver sinalização de que EUA, China e União Europeia tenham reservas suficientes para dar conta de possíveis crises do petróleo, Juarez chama atenção para a possibilidade do fechamento do Estreito de Ormuz, importante rota mundial do petróleo. “Se eles fecharem ali, 30% do petróleo mundial para”, explica o professor, que diz que nesse caso, seria necessário intervenção americana no combustível. Essa crise seria escalonada à nível global, podendo inflar preços, como já mencionou o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), nesta sexta-feira, 3. “Em síntese, essa crise pode ter efeitos colaterais em todo o mundo”, sublinha Juarez.
Participação do Brasil
Outro ponto destacado pelo especialista se dá sobre o papel do Brasil no conflito. Apesar de já estar alinhado com os EUA e com Israel, o Planalto deve decidir por não tomar posição concreta. Isso, porque, de acordo com Juarez, o Brasil é dependente econômico da China, aliado da Russia, em papel de aliança com o Irã.