Para professor de jornalismo internacional, medir forças com os EUA será tarefa complicada, mas prevê reações iranianas que podem desencadear confrontos generalizados no Oriente Médio

Conflitos entre os dois países se intensificou após derrubada do Estado Islâmico | Foto: reprodução/ AFP

Após o ataque a míssil dos Estados Unidos contra o Irã resultar nas mortes do general Quassem Soleimani e do líder iraquiano Abu Mehdi al-Muhandis, a comunidade internacional se mantém em alerta pelos riscos de respostas por parte dos iranianos, que já prometeram vingança de forma expressa. Em entrevista ao Jornal Opção, o professor especialista em jornalismo internacional da Universidade Federal de Goiás (UFG), Juarez Maia, diz não vislumbrar riscos de uma 3ª guerra mundial, mas afirma que o conflito pode resultar em crise global.

De acordo com Juarez, o ataque à Soleimani já era previsível. O professor relembra que o protagonismo do general à frente das forças armadas ao derrotar o Estado Islâmico na Síria, que em consequência impediu a entrada dos americanos no país, foi mais um dos elementos que tornaram o militar alvo do Pentágono. “O Soleimani era estratégico na composição da cúpula do Irã. Era tido como o cérebro, já reconhecido como fora de série do ponto de vista estratégico”, afirma Juarez Maia.

Após uma série de tentativas frustradas de encontrar o líder militar, a execução bem sucedida no aeroporto do Iraque não coloca fim ao imbróglio, explica o professor. “Os aiatolás estão com um dilema. De um lado perderam o homem mais importante da história dos últimos 30 anos. Se eles não reagirem darão forças até mesmo para a oposição iraniana”, explica Juarez, que antevê: “O Irã sabe que criar um atrito de alta capacidade contra os EUA é tarefa complicada, mas existem forças suficientes para acabar com bases americanas no Catar e na Arábia Saudita”.

Efeitos do conflito

Em razão das forças militares já conhecidas pela comunidade internacional, Juarez explica que só é possível prever riscos de um conflito em dimensões globais caso Rússia e China decidam participar ativamente de confrontos. “A Rússia, por exemplo, deve atuar mais para amenizar os ânimos. É provável que atuem em sistema moderado”, considera o especialista. Sobre qual fator levaria os russos para a participação em conflitos, Juarez levanta a hipótese de ataques e ocupação americana na Síria.

“Depende do estrago que o Irã vai fazer em reação. A máxima é um conflito generalizado na região”, afirma o professor, que acrescenta que o poder dos aiatolás podem ser perdidos em duas possibilidades: “Existe uma sociedade civil dentro do Irã de oposição ao atual poder, não sei a proporção, mas existe”, isso significa, segundo o professor, que em caso de não reação, essa oposição sai fortalecida. Entretanto, a depender da força impetrada pelos iranianos, a contra reação americana também pode derrubar os atuais líderes do país.

Crise do combustível

Apesar de haver sinalização de que EUA, China e União Europeia tenham reservas suficientes para dar conta de possíveis crises do petróleo, Juarez chama atenção para a possibilidade do fechamento do  Estreito de Ormuz, importante rota mundial do petróleo. “Se eles fecharem ali, 30% do petróleo mundial para”, explica o professor, que diz que nesse caso, seria necessário intervenção americana no combustível. Essa crise seria escalonada à nível global, podendo inflar preços, como já mencionou o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), nesta sexta-feira, 3. “Em síntese, essa crise pode ter efeitos colaterais em todo o mundo”, sublinha Juarez.

Participação do Brasil

Outro ponto destacado pelo especialista se dá sobre o papel do Brasil no conflito. Apesar de já estar alinhado com os EUA e com Israel, o Planalto deve decidir por não tomar posição concreta. Isso, porque, de acordo com Juarez, o Brasil é dependente econômico da China, aliado da Russia, em papel de aliança com o Irã.