“Escravidão moderna”: entenda modelo de trabalho que startups dos EUA adotam

19 agosto 2025 às 21h00

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O modelo de trabalho chamado “Escala 996”, em que a rotina vai das 9h da manhã às 21h da noite, seis dias por semana, voltou a chamar atenção, desta vez fora da Ásia. Na China, o regime ficou conhecido como “escravidão moderna”.
Foi proibido em 2021 após casos de mortes e graves problemas de saúde ligados ao excesso de trabalho, e tinha sido praticado por gigantes como Alibaba e Tencent. Segundo reportagem da revista Wired, startups de Inteligência Artificial no Vale do Silício, Estados Unidos, estão adotando jornadas similares.
Algumas empresas chegam a incluir o regime já nas descrições de vagas, oferecendo benefícios como café da manhã, almoço e jantar no escritório, inclusive aos sábados.
O objetivo das startups, de acordo com executivos, é aumentar a competitividade tanto entre rivais nos EUA quanto em relação à China, que se consolidou como referência em produtividade extrema no setor.
Na China, a Escala 996 exigia até 72 horas de trabalho semanais, mas foi derrubada pela Suprema Corte, que reafirmou o limite legal de 44 horas semanais, com horas extras controladas.
A decisão veio após denúncias, incluindo a de um programador de 25 anos que morreu de hemorragia cerebral devido ao excesso de trabalho. Nos Estados Unidos, empresas como a startup Rilla afirmam adotar o regime de forma “voluntária”, e quase todos os 80 funcionários aceitaram.
Em anúncios de vagas, o cronograma exaustivo é explicitado, com a recomendação de que quem não se sentir motivado não se inscreva. Will Gao, chefe de crescimento da empresa, explicou à Wired que a prática reflete a mentalidade de jovens empreendedores.
“Existe uma subcultura muito forte da Geração Z, que cresceu ouvindo histórias de Steve Jobs e Bill Gates, empreendedores que dedicaram suas vidas a construir empresas transformadoras. Kobe Bryant também dedicou todas as horas acordado ao basquete, e não vejo muita gente criticando esse esforço extremo”.
Algumas startups oferecem bônus de até 25% no salário e participação societária para quem aceitar o regime, mas nem todos os funcionários aderem, criticando a cobrança velada e o clima de competição.
Especialistas em direito trabalhista alertam que o modelo 996 contraria as leis trabalhistas americanas, que estabelecem limites para horas extras variando de estado para estado.
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