Escândalo do fentanil contaminado na Argentina: mortes já chegam a 96 e famílias cobram justiça

17 agosto 2025 às 17h58

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A morte de Leonel Ayala, de 32 anos, expôs um dos maiores escândalos de saúde da Argentina: a aplicação clínica de fentanil contaminado por bactérias super-resistentes, que já deixou ao menos 96 vítimas fatais no país. O caso levou à abertura de uma megainvestigação judicial, colocando sob suspeita laboratórios, distribuidores e órgãos de controle.
Filho da província de Buenos Aires, Leonel era conhecido pela criatividade desde a infância. Aos cinco anos, consertava brinquedos destruídos com agulha e linha. Formou-se em Educação Musical e sonhava em lecionar e desenvolver projetos culturais. “Meu irmão era a pessoa mais criativa e habilidosa que já conheci”, recorda David Ayala, emocionado.
Em março deste ano, Leonel procurou atendimento médico para tratar de cálculos abdominais. Após complicações, foi internado no Hospital Italiano de La Plata, onde recebeu fentanil para controlar a dor. Dias depois, apresentou febre e falência de órgãos. “Os médicos disseram que havia uma infecção bacteriana que não conseguiam controlar nem com os medicamentos mais potentes”, relata o irmão. Leonel morreu em 8 de abril.
O escândalo do fentanil contaminado
A investigação conduzida pelo juiz federal Ernesto Kreplak identificou que dois lotes do analgésico haviam sido contaminados por bactérias como Klebsiella pneumoniae e Ralstonia pickettii. Um deles foi amplamente distribuído em hospitais argentinos. Estima-se que 300 mil ampolas infectadas tenham circulado no país, produzidas pelos laboratórios HLB Pharma Group e Ramallo, hoje alvos de processo judicial.
Vozes das famílias
A dor uniu os familiares das vítimas em um grupo chamado “Unidos pela justiça das vítimas do fentanil mortal”. Ali, trocam relatos de casos semelhantes e pressionam por respostas. Sandra Altamirano, que perdeu o filho Daniel Sebastián Oviedo, de 42 anos, resume o sentimento:
“Queremos justiça, não só em relação aos laboratórios, mas em toda a cadeia de produção. Não entendemos como algo assim pôde acontecer, em escala nacional, sem nenhum tipo de controle”.
Justiça e pressão política
A Justiça já apreendeu todos os lotes suspeitos e investiga mais de 24 pessoas ligadas ao caso. Paralelamente, famílias se reuniram com parlamentares em Buenos Aires pedindo novas regras de rastreabilidade de medicamentos. “Sabemos que o tempo da Justiça não é o mesmo que o da nossa dor, mas exigimos que os responsáveis paguem pelo que fizeram”, conclui Altamirano.
O episódio é considerado por especialistas e autoridades como “um dos maiores escândalos de saúde pública da história argentina”. Além das mortes confirmadas, outros casos seguem sob investigação, o que pode ampliar ainda mais a dimensão da tragédia.
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