Entre o fanatismo e o oportunismo: a nova face da sabotagem bolsonarista no Parlamento

06 agosto 2025 às 20h30

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A cena tem se tornado corriqueira, mas não menos alarmante: quanto pior para o Brasil, melhor para os bolsonaristas. Deputados aliados ao ex-presidente Jair Bolsonaro ocuparam a Câmara dos Deputados como se fosse um bunker de guerra, tentando impedir o funcionamento regular do Parlamento, rasgando o regimento interno e desrespeitando o Estado Democrático de Direito. Tudo isso por uma razão única, patética e perigosa: Jair Bolsonaro está em prisão domiciliar.
A tentativa de transformar o Congresso em palanque pessoal de um ex-presidente envolvido em sucessivos escândalos — de tentativa de golpe a fraudes em cartões corporativos — não é apenas um absurdo institucional. É um atentado direto à democracia e ao povo brasileiro.
Na noite desta terça-feira e madrugada de quarta, 6, deputados da oposição de extrema-direita acamparam na Câmara com o objetivo explícito de impedir a abertura da sessão. Tentaram transformar a Casa do povo em território de uma seita política. Não foi apenas um gesto teatral — foi uma ação orquestrada para inviabilizar a votação da Medida Provisória 1.294, que garante a isenção de Imposto de Renda a quem ganha até dois salários mínimos. Ou seja: estão dispostos a prejudicar os trabalhadores mais pobres do país só para alimentar a narrativa de mártir em torno de Bolsonaro.
Como alertou o presidente da Câmara, Hugo Motta, o não comparecimento ou a obstrução dessa votação colocaria em risco o bolso de milhões de brasileiros. Mas aos bolsonaristas não importa. O que os move não é o Brasil. É o caos. É a fidelidade cega a um homem que, derrotado nas urnas, preferiu destruir o país a aceitar o jogo democrático.
Na mesma tarde, mais um símbolo da escalada autoritária: o jornalista Guga Noblat, do canal ICL Notícias, foi agredido fisicamente pelo deputado bolsonarista Paulo Bilynskyj (PL-SP) ao fazer perguntas absolutamente legítimas sobre a obstrução parlamentar e a submissão ao governo norte-americano de Donald Trump. É a reprodução do ódio à imprensa, da hostilidade ao diálogo e da covardia que caracterizam o bolsonarismo.
O episódio recente da faixa estendida na Câmara em apoio a Donald Trump — em plena semana em que o governo americano impôs tarifas de 50% sobre produtos brasileiros — já havia escancarado o que muitos se recusavam a admitir: esses parlamentares não são patriotas. São “patriotários”, como a internet os apelidou com justiça. Ajoelham-se diante de líderes estrangeiros, traem os interesses nacionais e transformam o Brasil em uma caricatura de república bananeira.
Wilder Morais e o cinismo político como método
O senador Wilder Morais (PL-GO) representa o mais puro retrato da hipocrisia política: foi um dos padrinhos da indicação de Alexandre de Moraes ao STF, organizando até jantar para garantir apoio à sabatina. Hoje, faz discurso inflamado em atos bolsonaristas pedindo o impeachment do mesmo ministro que ajudou a colocar na Corte. Não se trata de convicção. Trata-se de oportunismo, cálculo eleitoral e submissão ao bolsonarismo como moeda de troca.
Wilder, que já foi empresário de eventos, parece seguir à risca a lógica do espetáculo: quanto mais barulho, melhor. Mas o que está em jogo não é um show. É a estabilidade institucional de um país.
Outro parlamentar goiano que presta um desserviço diário à população é Amauri Ribeiro, que estendeu uma bandeira dos Estados Unidos na Assembleia Legislativa de Goiás (Alego) e pediu o impeachment de Moraes. Ao invés de trabalhar pela população que o elegeu, Amauri se alimenta de escândalos, teatros mal encenados e violência política de gênero.
Ou o Brasil se impõe, ou os sabotadores vencem
A democracia brasileira já foi forte o suficiente para derrotar uma tentativa de golpe em 8 de janeiro de 2023. Mas não pode continuar tolerando sabotagens sistemáticas, agressões físicas, discursos golpistas e manobras legislativas que colocam em risco o bem-estar do povo brasileiro.
A fidelidade a Bolsonaro, um político inelegível e judicialmente acuado, não pode ser maior que a fidelidade à Constituição. Parlamentares que bloqueiam votações essenciais, ameaçam jornalistas e usam o Congresso como palanque de seita não merecem imunidade — merecem responsabilização.
É hora de o Brasil dizer, com firmeza, que o caos não é bem-vindo. E que quem aposta na desordem em nome de um líder em decadência está do lado errado da história.