Com árvores centenárias bem conservadas e ruas arborizadas, Goiânia quer se tornar a cidade mais arborizada do mundo

Cilas Gontijo

Cidades nas quais os gestores pensam no bem-estar de seus moradores — e na luta universal em defesa do meio ambiente — precisam necessariamente de um projeto de arborização. A palavra “cidades” é uma síntese dos poderes Executivo e Legislativo, além de seus habitantes. Ao sancionarem e formularem leis, prefeitos e vereadores são responsáveis diretos pela melhoria (ou não) da qualidade de vida das pessoas.

No processo de criar uma cidade mais habitável — há bairros de Goiânia que são mais quentes do que outros; Campinas (setor pouco arborizado), por exemplo, é mais quente do que bairros nas imediações de parques arborizados e com lagos —, além da participação dos poderes constituídos, é vital contar com a ação direta e consciente da população. Como a vegetação de uma cidade grande é bem diferente da zona rural, com menos mata fechada e muito concreto, asfalto e bastante CO2 (gás carbônico) sendo espalhado pelas ruas, as consequências são um ar impuro, menos sombra e uma poluição ambiental intensa.

Por isso a arborização urbana traz vários benefícios. Por exemplo: melhora a questão climática ao deixar o ar mais puro para respirar, ajuda a conter erosões, atrai muitas espécies de pássaros (beija-flor, bem-te-vi, joão-de-barro, alma de gato, choquinha lisa, suiriri, coruja, entre outras), reduz a poluição sonora, promove a saúde física e mental de seus moradores. E, claro, a cidade fica mais bela. Há cidades que, dadas a arborização e as flores, se tornam verdadeiros cartões postais dos Estados e do país. As ruas se tornam “quadros”; noutras palavras, há verdadeiros “museus verdes” a céu aberto para se admirar e curtir.

As cidades precisam de um projeto que auxilie na condução de uma política ambiental com sustentabilidade. Goiânia conta com um Plano Diretor de Arborização Urbana de 2007 (PDAU), e há um outro, de 2017, que passou por vários aprimoramentos. Porém, até o momento, não foi aprovado pela Câmara Municipal. Trata-se de um documento que traça um diagnóstico preciso da arborização presente nas vias públicas da cidade (calçadas, ilhas, praças, parques) e determina todas as diretrizes para o plantio, a poda e a retirada de árvores. Elaborado pela gerência de Arborização Urbana da Agência Municipal do Meio Ambiente (Amma), o plano ajudará a preservar as mais de 950 mil árvores presentes nas vias públicas e que fazem de Goiânia a capital com maior número de árvores por habitantes do Brasil (0,79 exemplar), superando a capital paranaense, Curitiba com (0,17), e João Pessoa, capital paraibana (0,06).

Um importante ponto do documento estabelece regras para novos plantios e sugere quais são as espécies que poderão ser plantadas nos espaços diferentes. Assim não haverá (ou haverá menos) problemas com questão da fiação, ruas e calçadas. Hoje, há podas que, embora às vezes necessárias, praticamente destroem ou mutilam as árvores.

Segundo o PDAU, 5% das árvores de vias públicas, cerca de 47 mil, precisam ser monitoradas constantemente, pois estão com o ciclo de vida avançado e merecem cuidados especiais. O plano mostra que há 382 variedades de árvores diferentes na cidade. A mais presente é a munguba, que responde por 19% do total de exemplares existentes, e, em seguida, vem a sibipiruna, com 17%.

Palmeira do Centro pode ser a mais antiga de Goiânia, sugere agrônomo
Palmeira-bacuri, localizada na Avenida 82, no Centro de Goiânia | Foto: Divulgação

Em relação às árvores mais antigas de Goiânia, o agrônomo Nilson Jaime crava que a palmeira (bacuri) em frente ao Instituto Histórico e Geográfico (cuja sede rosada chama a atenção do público), na Avenida 82, no Centro, deve ter por volta de 90 anos.

O doutor em Agronomia pela UFG (com uma tese sobre formigas) afirma que as árvores mais antigas estão sem dúvida nos parques da capital.

Pesquisador, amante da natureza e escritor, Nilson Jaime sugere que a Amma deveria promover a arborização de Goiânia com espécies do próprio Cerrado. “O correto é fazer a arborização com espécies nativas. Por que não fazem? Porque são pouco vistosas, com exceção do ipê (das caraíbas em geral). A casca grossa das nativas é vista como defeito, quando, na verdade, não é”, afirma o polímata.

Nilson Jaime: “O correto é fazer a arborização com espécies nativas” | Foto: Divulgação

Nilson Jaime sublinha que a munguba não é adequada para se plantar em perímetros urbanos. Mas é uma das mais adaptáveis — se seu manejo for feito de forma adequada, porque a árvore é perenifólia. Ou seja, suas folhas não caem. A árvore mantém suas folhagens o ano todo. “O manejo de forma inadequada, os cortes que a Enel faz de qualquer jeito e às podas equivocadas por parte da prefeitura reduzem a vida útil dessas árvores em pelo menos um terço.”

O agrônomo postula que o planejamento urbano deveria prever árvores de porte baixo, e do cerrado, como o cedrinho e o flamboyant mirim.

Sinésio Dioliveira: as árvores melhoram a vida das pessoas | Foto: Facebook

O assessor de Imprensa da Amma, Sinésio Dioliveira — fotógrafo de árvores e pássaros —, afirma que o trabalho da Agência Municipal do Meio Ambiente envolve uma infinidade de ações, desde a fiscalização de descarte irregulares de entulhos e lixos em locais impróprios até a maus-tratos de animais.

É a Amma que promove o plantio e autoriza a retirada de árvores quando aprovada pelo órgão. “As pessoas às vezes fazem o pedido de retirada simplesmente porque a árvore está sujando seu lote. Para evitar isto, a Amma envia técnicos que vão avaliar se realmente precisa ou não fazer a remoção da árvore, processo que envolve a Comurg e a Enel”, afirma Sinésio Dioliveira.

Para Sinésio, a população urbana precisa aprender a valorizar as árvores e a natureza no geral. “São elas que ajudam a melhorar o clima, elas absorvem o CO2 e exalam o oxigênio, colaboram para que haja a infiltração da água no solo, geram frutos, sombras, são barreiras contra a poluição sonora e atmosférica. São infinitos os benefícios vitais para a sobrevivência de todo os seres vivos.”

A Prefeitura de Goiânia, por meio da Companhia de Urbanização (Comug), plantou quase 1 milhão de mudas de árvores em 15 meses de gestão do prefeito Rogério Cruz (Republicanos). Com isto, a capital goiana se mantém no topo como a cidade com mais de 1 milhão de habitantes mais arborizada do país, segundo o IBGE. Para Goiânia continuar com o título de Capital Verde do Brasil, a Amma conta com o envolvimento de toda a população nos seus projetos.

O projeto da prefeitura é transformar Goiânia na cidade mais arborizada do mundo e não somente em nível nacional. Para que a meta seja alcançada, foi lançado no domingo, 5, a segunda etapa do programa Disque Árvore.

Sinésio explica como funciona o programa: “Por ele a pessoa solicita via WhatsApp (62-99639-7495) o plantio de uma muda de árvore em sua calçada e neste pedido também é enviado duas fotos do espaço disponibilizado para a muda. Este local é avaliado por um técnico da Amma, que vai ao local e só então define a espécie adequada”. O êxito do programa está justamente na adoção de critérios técnicos — a árvore plantada poderá viver naturalmente todo o seu ciclo de vida e assim gerar os diversos benefícios ambientais para a cidade. Este projeto visa evitar a retirada no futuro de árvores por estarem plantadas de forma irregular, ou por não ser apropriada.

As árvores são seres vivos e têm o seu período de vida que pode variar para mais ou para menos, dependendo da qualidade do seu habitat. O tempo de vida de uma árvore dentro de uma mata fechada é maior que uma da mesma espécie plantada em uma calçada. Na mata, ela cresce naturalmente recebendo todos os nutrientes necessários, já na rua isso não acontece.

O engenheiro florestal e escritor alemão Peter Wohllben, no livro “A Vida Secreta das Árvores”, define as árvores plantadas em vias públicas como “crianças de rua”, por viverem longe de outras árvores.

Confira árvores mais antigas de Goiânia
1
Jatobá: localizado no Bosque dos Buritis | Foto: Amma

O jatobá-da-mata (Hymenaea courbaril), no Bosque dos Buritis, já é quase centenário e em seu tronco vive um enxame de abelhas silvestres — a iraí.

2

No Bosque dos Buritis, há também a garapa (Apuleia leiocarpa), com aproximadamente 100 anos. Um casal de tucanuçu constantemente choca numa cavidade de seu tronco, próximo à copa.

3
Bosque dos Buritis l Foto: Jornal Opção

Há também, no Bosque dos Buritis, um flamboyant (Delonix regia), espécie exótica introduzida na capital entre as décadas de 1940 e 1950. Está bem conservada e saudável, e isto porque está dentro do parque.

4
Gameleira da Av. Araguaia com Av. Contorno l Foto: Jornal Opção

Outras da série “as mais antigas” podem ser encontradas no centro da cidade, como a gameleira (Ficus elástica), na Avenida Araguaia esquina com a Avenida Contorno.

5
Ipê amarelo | Foto: Amma

Há o famoso ipê-amarelo (Tabebuia vellosoi) num lote baldio da Avenida Contorno, ao lado do Supermercado Tatico. Com cerca de 70 anos, o ipê consta com o mais antigo de Goiânia. Ele está em processo de tombamento para se tornar patrimônio goiano.

6
Mognos dentro do lote do Museu Pedro Ludovico Teixeira l Foto: Jornal Opção

dois mognos que estão dentro do lote do Museu Pedro Ludovico Teixeira, na Rua Dona Gercina Borges Teixeira (Rua 26), no Setor Sul. Estão bem conservados, com mais de 70 anos. “O fato de estarem entre as maiores árvores da capital é uma prova de que a saúde delas vai bem”, afirma Sinésio Dioliveira.

Cilas Gontijo é estudante de Jornalismo na Faculdade Araguaia.