Entenda os rituais budistas para identificar o novo Dalai Lama

03 julho 2025 às 16h10

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O Dalai Lama, líder máximo do budismo tibetano, confirmou na quarta-feira, 2, que irá reencarnar após sua morte, mantendo viva a linhagem espiritual que existe há séculos. O atual Dalai Lama, Tenzin Gyatso, completa 90 anos no domingo, 6, e iniciou os primeiros sinais sobre o processo de sucessão.
A tradição budista tibetana acredita que o Dalai Lama é a manifestação do Bodisatva da Compaixão, também chamado de Avalokiteshvara ou Chenrezig. Segundo a crença, o líder espiritual pode escolher onde e quando irá renascer.
Esse processo é considerado essencial para garantir a continuidade do budismo no Tibete, atualmente sob domínio chinês. Quando o Dalai Lama morre, monges budistas iniciam buscas para localizar a criança que seria sua reencarnação.
Esse processo envolve rituais e sinais sagrados. Entre os indícios mais tradicionais, estão:
- Características físicas: a criança pode apresentar orelhas grandes, marcas corporais ou sinais especiais nas mãos e pés, como desenhos de conchas ou listras semelhantes às de tigres.
- Profecias e visões: monges experientes buscam orientações por meio de meditação, sonhos e visões espirituais.
- Sinal da fumaça: a direção da fumaça da pira funerária do Dalai Lama anterior pode indicar a região de nascimento da nova encarnação.
- Reconhecimento de objetos: quando uma criança é identificada, ela é testada com itens pessoais do Dalai Lama anterior. Se reconhecer corretamente, é vista como a reencarnação.
Esses rituais são conduzidos com sigilo e frequência por monges disfarçados para evitar interferências externas, especialmente do governo chinês, que tenta controlar o processo de sucessão.
O último reconhecimento
O atual Dalai Lama foi reconhecido quando tinha dois anos, em 1937. Nascido como Lhamo Dhondup na região de Amdo, no Tibete (hoje província de Qinghai, China), ele foi identificado após monges interpretarem visões e encontrarem sinais físicos previstos nas escrituras.
Entre os principais sinais estavam as grandes orelhas, marcas nos membros e a identificação correta de objetos do 13º Dalai Lama. Aos 15 anos, em 1950, Tenzin Gyatso foi proclamado chefe de Estado do Tibete.
Com a invasão chinesa, exilou-se na Índia, onde permanece até hoje. Em 1989, recebeu o Prêmio Nobel da Paz por sua defesa da não violência e preservação da cultura tibetana.
O que se sabe até agora?
Em sua declaração mais recente, o Dalai Lama reforçou que o próximo líder não nascerá na China e pediu que seus seguidores rejeitem qualquer nome indicado por autoridades chinesas. Ele também já sugeriu no passado que sua reencarnação poderia vir como uma mulher.
Ainda não há carta oficial com instruções detalhadas, mas espera-se que esse documento traga pistas sobre a criança que será reconhecida como o 15º Dalai Lama. O processo deve seguir os rituais tradicionais, combinando sinais físicos, profecias e testes espirituais.
A reencarnação do Dalai Lama é um tema central para o futuro do Tibete, do budismo tibetano e da luta por autonomia frente ao controle da China. Além de líder espiritual, o Dalai Lama simboliza a unidade e resistência cultural do povo tibetano.
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