Companheiro inseparável das noites goianienses, o pit dog se tornou muito mais do que um simples ponto de lanche: ele é hoje um patrimônio cultural e imaterial da capital e de Goiás. O famoso hambúrguer prensado na chapa, recheado com presunto, queijo, alface, tomate, milho, batata palha e até um pedaço de abacaxi no meio, conquistou gerações e carrega uma história que remonta ao início dos anos 1970. Mas afinal, de onde vem o nome e quem criou essa tradição que deu sabor único à vida da cidade?

A resposta está no Centro de Goiânia, na movimentada Rua 7. Foi lá que os irmãos Jorge e Jacob Abdalla Rassi inauguraram, em 1972, a primeira sanduicheira da cidade. Vindos do interior do Paraná, os dois empreendedores chegaram a Goiás trazendo no sangue a vocação para os negócios. Inspirados em um sanduíche que viram em Curitiba, decidiram criar sua própria versão, adaptada ao gosto local, generosa no recheio e acessível ao público.

O estabelecimento quase foi batizado de Little Dog, em inglês, que significa “pequeno cachorro”. Em seguida, os irmãos cogitaram Petit Dog, unindo francês e inglês. No entanto, para facilitar a pronúncia e dar identidade própria ao negócio, aportuguesaram a ideia. Assim nasceu o nome que se consagraria como símbolo de Goiânia: Pit Dog. A logomarca trazia a imagem de um cachorrinho, homenagem ao animal de estimação da família.

O sucesso foi imediato. Em pouco tempo, o pit dog deixou de ser apenas uma sanduicheira para se transformar em um movimento gastronômico popular. Em 1973, apenas um ano após a inauguração, os irmãos já coordenavam cerca de 80 funcionários e expandiam o negócio para diversos pontos da cidade, instalando trailers em locais estratégicos como as praças do Avião, Tamandaré, Cruzeiro e Universitária.

Uma receita que conquistou os goianos

O sanduíche ganhou fama não apenas pelo sabor, mas também pela generosidade. Era impossível resistir ao hambúrguer prensado com bacon suculento, presunto, queijo derretido, salada fresca, batata palha e acompanhamentos variados. Para muitos clientes, o abacaxi virou o detalhe especial que dava identidade ao famoso X-Salada goiano.

Sanduíche de pit dog | Foto: Mayara Carvalho/ Jornal Opção

Essa combinação irresistível, servida com agilidade e sem frescuras, transformou o pit dog em ponto de encontro de amigos, famílias e casais. Muito mais do que matar a fome, os trailers se tornaram parte do cotidiano da cidade e uma extensão da vida noturna de Goiânia.

Ficou na história

O primeiro pit dog funcionou durante três anos na Rua 7. Depois, diante do crescimento do mercado e da chegada de novos concorrentes, os irmãos Rassi decidiram mudar de rumo. Eles encerraram o negócio e abriram uma confeitaria holandesa na Rua 8, esquina com a Rua 2, também no Centro.

Na época, o sucesso do sanduíche era tão grande que muitos outros empresários passaram a usar o nome “pit dog” em seus próprios estabelecimentos. Como os irmãos não registraram a marca junto ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), o termo acabou se popularizando e se tornou de domínio comum.

Ainda assim, a memória de quem viveu a época mantém viva a lembrança: foi ali, em 1972, que nasceu o lanche que se tornaria um dos maiores símbolos da capital goiana.

Passadas mais de cinco décadas, a tradição não apenas resistiu, como também se expandiu em proporções gigantescas. Hoje, Goiânia concentra cerca de 1,6 mil estabelecimentos reconhecidos como pit dogs, segundo dados do Sindicato de Proprietários de Pit Dogs (Sindpitdog). Em todo o Estado, já são mais de 3 mil pontos, que empregam mais de 40 mil pessoas diretamente apenas na capital.

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