Engenheiro eletrônico acredita que Marco Civil da Internet é uma forma de “calar quem incomoda”
24 abril 2014 às 12h01
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Entre outras questões, Hélio acredita que operadoras de Internet vão usar o Marco Civil para tentar receber dos provedores de conteúdo o lucro que tem pelo acesso de usuário
As polêmicas em torno do Marco Civil da Internet não pararam depois de sua aprovação no plenário do Senado Federal e a sansão simbólica feita pela presidente Dilma Rousseff (PT) na NetMundial, na última quarta-feira (23/4). O engenheiro eletrônico, Hélio Torres, no ramo desde 1989, não acredita na lei, e a acha ambígua. “Criaram uma confusão. Não acredito na boa intenção deste Marco Civil”, disse ao Jornal Opção Online na manhã desta quinta-feira (24/4).
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Hélio acredita que operadoras de Internet vão usar o Marco Civil para tentar receber dos provedores de conteúdo (Google, por exemplo) o lucro que tem pelo acesso de usuário. “Nos EUA há uma briga tão intensa que a Google fornece internet grátis em diversas cidades para evitar briga com operadoras”, disse o engenheiro.
De acordo com Hélio, isso acontece porque as companhias que oferecem acesso à Internet não tem um lucro muito alto devido à enorme tributação. “Aí eles veem um aplicativo que rende um lucro imenso para o provedor, que precisa da internet para o usuário acessar, e mesmo assim eles não tem lucro sobre esse acesso.” Por este motivo, o engenheiro acredita que algumas companhias irão tentar usar o Marco Civil da Internet para tentar conseguir uma porcentagem deste lucro dos provedores de conteúdo.
Hélio Torres diz ver questões políticas na lei. “Fo aprovada muito rápido, em ano de Copa e de eleições.” O engenheiro acredita que muitas pessoas irão ser caladas pelo medo da punição com a nova legislação. “A internet faz estragos enormes em algumas campanhas, e eu acho que a grande intenção do Marco Civil é calar pessoas que incomodam. Vamos sentir isso quando blogs começarem a sair do ar”, profetiza.
E a deep web?
O que fica na superfície da Internet, que pode ser acessado por todos, é uma pequena parte do que realmente pode ser encontrado na web. A deep web (“internet profunda”), não discutida pelo Marco Civil da Internet, é tudo o que não está acessível pelos mecanismos de busca comuns.
Hélio Torres diz achar impossível que a lei consiga abarcar essa internet paralela. “É um submundo muito hostil, até para quem é técnico. As coisas lá mudam muito rápido, e seria extremamente difícil que a legislação conseguisse entrar, e muito menos acompanhar.”
O engenheiro explica que o mundo da deep web é totalmente diferente de tudo que se pode imaginar. “É um ambiente formado por códigos. Só entende quem está lá.” Hélio ainda aponta que mesmo nesse mundo paralelo, ninguém compatilha tudo com todos. “É como uma subcultura.” O engenheiro eletrônico sustenta que tentar encontrar algo na deep web, é como tentar achar um carro sem saber a placa ou cor. “Só sabe que vai estar lá porque alguém disse”, afirmou Hélio.