Em julgamento, serial killer fala em “amor a Deus” e revolta família de vítima
12 agosto 2016 às 14h28
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Parentes de Lilian Sissi, assassinada em 2014, dizem que discurso “não convence”. Tiago Henrique já foi condenado por 11 homicídios em Goiânia
“Quero dizer apenas duas coisas: Aprendi que devo amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo a como a mim mesmo. Eu não quero mais machucar ninguém. Quero apenas amar e servir ao Senhor nosso Deus e me submeto à Justiça.” Com essas palavras, o ex-vigilante Tiago Henrique Gomes da Rocha, mais conhecido como o “serial killer de Goiânia”, encerrou seu pronunciamento durante julgamento que enfrenta nesta sexta-feira (12/8) pela morte de Lilian Sissi Mesquita e Silva, em fevereiro de 2014.
A família da vítima, que era dona de casa e foi assassinada enquanto caminhava em direção à escola dos filhos para buscá-los, ficou revoltada com a declaração do réu e se manifestou no tribunal do julgamento.
Um dos mais emocionados era o padrasto de Lilian, Erinaldo de Sousa, que se aproximou do acusado e apontou para a foto da enteada, estampada na camiseta que vestia. “Essa aqui é a pessoa que você matou! Você acabou com uma família e agora vem querer se fazer de bonzinho”, desabafou.
O momento de tensão só teve fim quando o juiz Eduardo Pio Mascarenhas interrompeu o protesto para restabelecer a ordem durante o julgamento. “Eu entendo que é um momento muito difícil para a família, mas não posso permitir qualquer manifestação deste tipo. Peço que fiquem em silêncio ou, se não for possível, que se retirem”, afirmou.
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Aos jornalistas, o padrasto se disse frustrado em não poder expressar sua revolta com as declarações de Tiago Henrique. “Ele acabou com a nossa família. A Lilian deixou dois filhos, hoje com 9 e 12 anos. Já tem mais de dois anos que sofremos todos os dias com isso e não podemos nos manifestar hora nenhuma. Eu estou fazendo esse protesto, mas estão aqui comigo a mãe, a irmã, a avó, o primo, toda a família que também sofre muito.”
Rosana Mesquita, mãe da vítima, também fez um desabafo emocionado: “Uma pessoa que assassinou várias outras pessoas vem aqui e fala em Deus? Não me convence. Para mim ele é um monstro. Sinto muita revolta porque são mais de dois anos de sofrimento. Minha filha estava indo buscar os filhos na escola e, naquele dia, eles ficaram até 19 horas da noite a esperando, mas ela já estava morta. Talvez a justiça do homem seja falha, mas eu acredito na justiça de Deus.”
Ainda durante o depoimento, Tiago Henrique confessou o crime, mas preferiu não dar detalhes. “Me arrependo de verdade. No momento estava completamente sem controle. Não sei explicar. Até em respeito à família, não vou dar detalhes do caso. Só queria dizer que não sou aquilo que a mídia mostra”, disse,
Tiago Henrique Gomes da Rocha foi pronunciado por homicídio, com as qualificadoras de motivo torpe e emprego de recurso que impossibilitou a defesa da vítima. O crime ocorreu no dia 3 de fevereiro de 2014, por volta das 16h45, na esquina das Ruas Formosa e Buriti Alegre, na Cidade Jardim.
No dia em que foi assassinada, Lilian Sissi andava sozinha em direção à escola dos seus filhos, para buscá-los. Ao vê-la, segundo a denúncia do Ministério Público do Estado de Goiás (MPGO), Tiago Henrique se aproximou, parou sua motocicleta, desceu e a abordou. Em seguida, apontou o revólver para ela, e sem dar condições para que esboçasse qualquer reação, atirou no peito dela. Em seguida, o vigilante fugiu na motocicleta.
A defesa de Tiago Henrique é realizada pela advogada Ludmilla de Mendonça, da defensoria pública, que pede que seja reconhecida sua semi-imputabilidade, por reconhecer que o vigilante, diagnosticado com psicopatia, apesar de ter consciência dos atos que cometeu, não seria capaz de ter controle de suas ações. A acusação é sustentada pelo promotor de Justiça Maurício Gonçalves de Camargo, do Ministério Público de Goiás (MP-GO).
Este é o 12º júri de Tiago Henrique, que teve início na manhã desta sexta-feira (12) e segue até o início desta tarde. O ex-vigilante já foi a condenado a 265 anos e 10 meses de prisão por 11 homicídios, dois assaltos a mesma agência lotérica e posse ilegal de arma de fogo. O vigilante vai a júri popular em outros 22 processos. Contra ele ainda tramita ação por furto de arma de fogo, na 3ª Vara Criminal de Goiânia.