Em jantar com empresariado, deputados goianos atacam PT e exaltam setor produtivo
26 abril 2016 às 10h19

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Deputados federais não pouparam críticas ao partido da presidente durante evento de comemoração pela aprovação do impeachment na Câmara

O momento era de confraternização, mas os deputados federais goianos aproveitaram o jantar oferecido pelo Fórum Empresarial e o Fórum da Habitação na noite da última segunda-feira (25/4) na sede da Associação Comercial, Industrial e de Serviços do Estado de Goiás (Acieg), para atacarem o governo federal e o Partido dos Trabalhadores.
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Todos os 16 parlamentares que disseram “sim” ao impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) no domingo do dia 17 foram convidados para a noite de homenagem. No entanto, três compareceram: o relator da comissão, Jovair Arantes (PTB), Pedro Chaves (PMDB) e Delegado Waldir Soares (PR). Este, durante discurso, disse que votar o impedimento foi “algo diferenciado, fantástico”.
“Em alguns momentos na CPI [Comissão Parlamentar de Inquérito] da Petrobras eu até me arrependi de alguns bandidos que eu havia prendido.” A frase do Delegado Waldir arrancou a risada de parte da plateia, formada por representantes de entidades do agronegócio, empresarial, do comércio e alguns políticos.
“Tamanha a corrupção que a gente viu: Petrobras, Eletrobras, Caixa Econômica. Você não fala de centavos, você fala de milhões”. Citou o caso do delator Pedro Barusco, “que devolveu mais de R$ 150 milhões”. “De quem é esse dinheiro? É de vocês, é nosso”, declarou o parlamentar do PR.
Ele afirmou que definiu o voto no processo de impeachment ali, quando viu o que ele chama de uma corrupção assustadora no governo do PT. “Faltaram para a presidente se manter 35 votos apenas”, declarou o Delegado Waldir. Segundo o deputado, as ofertas para votar contra foram escandalosas a deputados federais que nunca tinham sido recebidos pelo ex-presidente Lula (PT) e pela presidente Dilma: “Essa corrupção, essa malandragem, não pode ser paga pelo cidadão, pelo empresário, que são o sustentáculo desse País.”
Ainda de acordo com ele, o “buraco” da crise econômica não foram a população e o setor produtivo que abriram no País, “foi o PT infelizmente que colocou”. “Eu espero que não sejam férias não. Eu acho que nós fizemos o velório e nós vamos enterrar em alguns dias, no Senado, esse partido e esse governo. Essa é a nossa intenção.” Momento de muitas palmas entre os presentes.
Ao final, o delegado-pré-candidato asseverou que o Congresso vai tirar o PT do poder de qualquer jeito.
“Eu ouvi muito tempo o pessoal dizendo ‘não vai ter golpe, vai ter luta’. Quando eu me manifestei na Câmara Federal com muita dureza, eu quis dar um recado a aqueles que no PT insistiam na palavra ‘luta’. Pois eu disse para eles ‘um filho teu, Delegado Waldir, não foge à luta’. Nós estamos usando o processo democrático previsto na Constituição. Mas se for necessário luta, o filho Delegado Waldir, cada um de vocês, eu tenho certeza que não vai fugir à luta. Eu quis avisar o PT que vai ser da forma que eles querem, mas que nós vamos tirar eles de lá.”
Mais moderado

Em discurso bem mais curto, o deputado federal Pedro Chaves (PMDB) saudou as entidades e políticos presentes, entre eles o presidente da Câmara Municipal de Goiânia, vereador Anselmo Pereira (PSDB). Pedro agradeceu ao convite e reforçou os discursos que feitos antes dele.
“As reformas aqui bem colocadas precisam urgentemente ser pautadas e votadas: previdência, tributária principalmente, a questão trabalhista. São várias reformas que precisam ser adequadas à realidade que nós vivemos”, declarou o peemedebista.
Para Pedro Chaves, a legislação não acompanhou “o mundo de hoje” e precisa ser adequada à realidade. “Queria parabenizar o deputado Jovair [Arantes], que sofreu uma pressão imensa no seu relatório. Ele demonstrou firmeza, serenidade, competência no seu relatório e o resultado que orgulhou a todos nós seus colegas de bancada. Você realmente não nos decepcionou.”
“Fizemos a nossa parte”
Em entrevista no início do jantar, o deputado federal Jovair Arantes (PTB) afirmou que quando “as coisas apertam” sempre se recorre ao Parlamento brasileiro ele sempre dá a resposta necessária. “Eu tenho dito sempre que nós fizemos a nossa parte na Câmara Federal.”
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Jovair defendeu o embasamento e qualidade técnica e jurídica do relatório que foi elaborado por ele na Câmara, com os citados crimes de responsabilidade fiscal, que são as pedaladas fiscais e os decretos autorizados sem análise do Congresso. “Isso por si só é mais do que suficiente para se caracterizar o crime que ela tenha cometido.”
O petebista lembrou que o Senado pode apresentar novas provas contra Dilma na análise do impeachment. “Eu fiz o meu papel na Câmara. É evidente que nós temos relação com os senadores e vamos pedir que, dentro do possível, possa se acelerar esse processo. Mas do ponto de vista político resta apenas a posição de cabo eleitoral, vamos dizer assim”, afirmou Jovair.
Sobre a negociação de cargo e a possível indicação de goianos para ocuparem ministérios em um possível governo do vice-presidente Michel Temer (PMDB), o relator do processo na Câmara afirmou que o momento é de se fazer reformas imediatas das questões ministeriais, diminuição de gastos do setor público e nos problemas que têm rebaixado o País na economia e no seu poder de desenvolvimento.
“Nós temos que todos os brasileiros centrarmos fogo na administração do Temer, caso se confirme o afastamento da presidente Dilma, para fazer com que o Brasil possa ter outra vez o respeito internacional e o respeito interno, que até o respeito interno acabou.”
Jovair criticou na entrevista o que ele chama de autoritarismo, “jeitão monocrático”, arrogância e prepotência de Dilma para administrar o Brasil. Sobre o discurso da imprensa internacional de que há um golpe em curso no País, o petebista disse que “quem resolve os nossos problemas somos nós” e que a mídia de outras nações se atenham a questões que dizem respeito a eles.
Para Jovair, todas as classes da sociedade tem sido representada pelos deputados federais goianos com a aprovação do impeachment na Câmara.
“Fico muito feliz por isso, porque o papel do político é representar verdadeiramente o seu povo. E o seu povo significa do empresário mais rico até o cidadão mais pobre, e a gente tem respondido a esse insistente pedido que a sociedade tem feito. A gente anda nos prédios, nas fábricas, nas oficinas mecânicas, a gente vai no estádio de futebol, todo mundo clamando por isso. Então não é uma exceção, é uma regra.”
Discurso
Quando assumiu a palavra no evento, o deputado Jovair repetiu parte do que disse na entrevista. Mesmo o deputado federal Rubens Otoni (PT), que votou por “comprometimento partidário” contra o impeachment, foi enaltecido em seu trabalho pelo petebista.
“Nós recebemos lá no nosso gabinete pessoas de todos os lados, de quem queria e de quem não queria o impeachment”, explicou Jovair como foi o processo de elaboração do relatório, no qual ele parou de dar entrevistas e receber as pessoas para fundamentar seu parecer sobre o processo de impedimento.
“O STF [Supremo Tribunal Federal] estava ‘louquinho’ para eu dar um pulo fora para anular todo o processo. Nós recebemos uma denúncia com quase 6 mil páginas e nós debruçamos sobre essas quase 6 mil páginas próximo de 30 dias dia e noite junto com a assessoria jurídica e pudemos descobrir uma série de irregularidades cometidas pela presidente da República.”
Jovair assegurou que Dilma cometeu vários crimes, mas que, pela denúncia, só pode falar de dois deles, as pedaladas fiscais e os decretos orçamentários não aprovados pelo Congresso. “Compromete o futuro do País, que é o que aconteceu. São gravíssimos os erros que ela cometeu.”
O deputado informou aos empresários presentes que os dois crimes de responsabilidade analisados em seu relatório são da ordem de R$ 159 bilhões, que foram acompanhados com sons de surpresa da plateia. “Ela [Dilma] que era para pagar os programas sociais. Coitados dos programas sociais, o meu povinho está passando necessidade”, ironizou Jovair.
Segundo o petebista, com os programas sociais foram gastos apenas R$ 1,75 bilhão desses R$ 159 bilhões. “Está lá no relatório, eu não vou cansar os senhores com isso.”
Jovair lembrou que, sim, Dilma foi muito bem votada, com mais de 54 milhões de votos, com o apoio do partido dele, o PTB, o do Delegado Waldir, o PR, e o de Pedro Chaves, o PMDB. “Tentamos ajudar essa senhora e ela nunca quis. Ela é centralizadora, ela é absolutamente monocrática, ela toma as decisões sozinha”, criticou.
O petebista citou o caso da tentativa de aprovação da CPMF. “Ela chegou a dizer que quem tivesse melhor sugestão que levasse para ela. Eu marquei uma reunião da bancada, levei a bancada inteira e fizemos uma proposta simples, que poderia resolver o problema imediato do Brasil. E ela simplesmente não deu nem atenção. Essa é a presidente da República, que não escuta, que não quer ajuda.”
“República bolivariana”

“Ela realmente quer transformar esse nosso País numa república bolivariana. E não dá.” De acordo com Jovair, no discurso, o Brasil é diferente das outras nações sul-americanas, que foram colonizados pelos espanhóis.
“O Brasil, diferentemente deles, tem a miscigenação maior do mundo. Nós temos aqui asiáticos, europeus, norte-americanos, africanos. A nossa sociedade é cristã, é uma sociedade voltada à família, que não aceita o estreitamento que eles querem fazer nas escolas, botando ideologia de gênero, querendo dizer para o pai de família que o seu filho de 7 anos, 8 anos, pode vestir uma calcinha ou pode vestir uma cueca. A independência é dele, não é do pai, o pai ou a mãe não podem dar palpite nisso.”
Jovair chamou de “essas coisas que eles querem e foram, sorrateiramente, tentando imprimir na sociedade brasileira” as responsáveis por chegarmos a esse momento crítico que estamos vivendo no Brasil. “E nós estamos aí à beira do abismo, com a economia do País sendo rebaixada a cada ano e a cada mês. Nosso crédito internacional já acabou, nós já estamos devendo outra vez”, declarou.
Segundo o relator do impeachment na Câmara, o Brasil perdeu todo o prestígio mundial que havia sido construído. “Quando é que nós temos que reagir? É agora. Nós temos uma Constituição que permite, nós temos um Congresso, que oxalá possa retornar aos braços do povo brasileiro”, considerou em seu discurso.
“Chegou o momento de a classe política mostrar que o povo é que põe e o povo é que tira e que nós temos que estar em sintonia com o povo”, afirmou Jovair. Para o petebista, “o golpe da pior qualidade” foi o que atual governo fez com o Brasil.
“Talvez esse recomeço seja importante para esse fim”, declarou Jovair, que destacou que o momento é de reencontrar a sintonia entre a população e a classe política com esse processo de impeachment da presidente Dilma. “Eu acho que a população tem que começar a tomar pé da situação mesmo. O governador não presta tira, o prefeito não presta tira.”