Em entrevista ao JN, Marina Silva é confrontada com supostas incongruências de seu discurso pela “nova política”
27 agosto 2014 às 21h12
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Ela respondeu sobre as diferenças ideológicas com o vice de sua chapa, Beto Albuquerque, e sua impopularidade em seu Estado de origem, o Acre
Na quinta entrevista do Jornal Nacional com os principais candidatos à presidência, Marina Silva (PSB-Rede) teve que tratar de temas polêmicos, como supostas irregularidades na utilização do avião que se acidentou no último dia 13, vitimando o então candidato pelo partido, Eduardo Campos, e suas diferenças ideológicas com seu vice, Beto Albuquerque, o que evidenciaria incoerência em seu discurso ao apregoar a implantação de um novo modelo de se fazer política.
Reportagens publicadas nos principais jornais do país apontaram que a Polícia Federal suspeita da utilização de Caixa 2 na compra da aeronave que Campos utilizou. Agentes constataram que a empresa que era proprietária do avião está em recuperação judicial e que havia sido feito um compromisso de compra por uma empresa que aparentemente é de fachada. Também foi divulgado que há suspeitas de irregularidades por parte do partido da candidata, que não declarou o gasto com a utilização da aeronave em sua primeira prestação de contas parcial.
Confrontada com esse tópico, Marina alegou que não tinha informações sobre qualquer irregularidade dos proprietários do avião e que os recursos pela utilização da aeronave seriam ressarcidos pelo comitê financeiro da campanha. Ela disse ter todo interesse na realização das investigações. “Não tem nada a ver com querer me livrar do problema.”
Questionada se o fato de não saber sobre as supostas irregularidades no acordo evidenciaria que faltou a ela o rigor ético que cobra de seus adversários, já que não averiguou os detalhes da negociação, Marina foi incisiva: “Não uso de dois pesos e duas medidas com os adversários”, disse. “Uso essa métrica primeiro comigo mesma.”
Em seguida foi a vez de Patrícia Poeta destacar que nas eleições de 2010, quando Marina obteve quase 20 milhões de votos na disputa pela presidência, a aprovação não pôde ser sentida em seu Estado de origem, o Acre. Ali, ela ficou apenas em terceiro lugar, atrás de José Serra (PSDB) e da atual presidente Dilma Rousseff (PT).
“Vou responder isso com um provérbio: é difícil ser profeta na própria terra”, declarou Marina. Ela tentou minimizar a diferença de votos com relação aos demais candidatos, mas foi refutada pelos dados apresentados por Patrícia. Assim, ela justificou que a baixa popularidade no Estado nortista era motivado pelo fato de ela ter contrariado muitos interesses durante sua trajetória política.
“Atuei na defesa de seringueiros e de indígenas”, destacou a ex-ministra do Meio Ambiente e ex-senadora, ressaltando que disputava a eleição de 2010 em um partido pequeno, o PV (nome que ela evitou citar). “Eu tinha apenas 1min25 na TV e consegui um resultado expressivo.”
Ressaltando que parte da sua impopularidade no Acre era devido ao seu confronto com poderosos da região, ela culpou “as circunstâncias” pelo resultado da votação e disse manter coerência com o que sempre defendeu. “Perco o pescoço mas não perco o juízo.”
O tópico seguinte dizia respeito à composição de sua chapa, com Beto Albuquerque como vice. Willian Bonner destacou que eles tinham divergências em questões caras para ela, como a produção da soja transgênica e a utilização de células-tronco em pesquisas. Além disso, destacou o apresentador, seu vice teria aceitado doações de entidades das quais ela nunca aceitaria incentivo, como empresas de armas e de bebidas alcoólicas. Afinal, de que forma seu projeto político destoa dos demais, no intuito da criação dessa “nova política”, se ela se junta com pessoas com ideologias tão distintas da sua por uma motivação evidentemente eleitoreira?
Para Marina, as coisas não são bem assim. A “nova política” sabe convergir as diferenças, justificou. Encurralada por Willian Bonner se, novamente, ela não estaria se isentando de um rigor ideológico que ela cobra de seus adversários, a pessebista tratou de destacar aquilo que a aproximaria de seu aliado. “Trabalhamos juntos no Congresso Nacional em diversas questões, como na aprovação da Lei da Mata Atlântica”, disse, pouco antes de encerrar a entrevista.
Ascendendo nas pesquisas eleitorais desde que foi anunciada como candidata, uma nova pesquisa a ser divulgada na próxima segunda-feira (1º/9) pelo Instituto Datafolha deve apontar se sua participação no Jornal Nacional foi mais benéfica ou prejudicial à candidatura da pessebista.