Durante travessia de balsas entre Santos e Guarujá, Jean William, de 36 anos, teve de confirmar que veículo era dele e que não levava drogas

Jean William sofreu abordagem brusca em travessia de balsas entre Santos e Guarujá | Foto: Reprodução
Um cantor lírico negro, de 36 anos, foi surpreendido durante a travessia de balsas entre as cidades de Santos e Guarujá, no litoral de São Paulo, com uma abordagem, considerada brusca por ele, por parte da Polícia Militar.
Ele foi questionado se o carro de luxo que dirigia era dele e se estaria levando drogas dentro do veículo. Em desabafo, o cantor aponta as consequências do racismo estrutural no cotidiano de pessoas negras.
Jean Willian é tenor e trabalha com o maestro João Carlos Martins, um dos maiores do país. Na quinta-feira, 27, ele e um amigo combinaram de passar o dia na praia, em Guarujá, mas, no caminho, foram surpreendidos com a abordagem policial.
O veículo dirigido pelo cantor estava estacionado já dentro da balsa que realiza a travessia. Os dois amigos estavam conversando, quando Jean olhou para a frente e se deparou com um policial militar apontando um revólver em sua direção.
O mesmo policial, que estava com pelo menos outros três PMs, gritava para Jean, questionando se o carro era dele e “se havia drogas dentro do veículo”.
“Levantei as mãos e tentei não fazer nenhum movimento que excedesse o mínimo”, relatou o músico ao portal G1 por telefone. Os amigos foram obrigados a descer do carro, que foi rapidamente revistado pela equipe policial. “Olharam mais ou menos. Abriram o porta-malas e viram que tinha duas cadeiras de praia”, lembra.
Jean disse que foi questionado sobre drogas, se o carro que dirigia era dele e se ele já foi preso alguma vez. Ele também disse que teve seus documentos verificados. Quando ambos responderam sobre suas profissões – cantor lírico, e o amigo, farmacêutico –, os policiais cessaram a abordagem agressiva, segundo Jean conta. “Percebi, na minha leitura, que eles ficaram com uma cara de que não era ali que estava o que buscavam”, diz.
Antes de a equipe ir embora, um dos policiais chegou a perguntar se o cantor não tinha feito nada suspeito, que tivesse dado motivo à denúncia que os levou até ali. Ele respondeu que, pouco antes de entrar na balsa, tinha feito um desvio de um caminhão, pois tinha errado o caminho para a embarcação. “Foi um desvio de trânsito corriqueiro, não foi em alta velocidade”, disse. “O que a gente ficou muito indignado é que, depois que as coisas ficaram esclarecidas, o cara entregou as coisas na minha mão, e ninguém explicou nada.”
Jean William entrou em contato com Elizeu Soares Lopes, ouvidor da Polícia Militar, para que o caso seja averiguado. Ao G1, o ouvidor disse que, assim que a denúncia for formalizada, irá requisitar à Corregedoria da PM a apuração da ação por parte dos policiais.
O cantor questiona o motivo de ele ter sido abordado com tamanha agressividade, pontuando que não questiona a ação dos policiais em si, mas todo o sistema que leva a crer que um homem como ele, negro, não poderia estar dirigindo um carro de alto padrão, sem que fosse roubado.
“Minha questão não é acusar, mas deixar claro o quanto essa abordagem nos agride. É [alto] o número de pessoas negras que são abordadas constantemente pela polícia sem motivo. É claro que existe essa cultura no nosso País”, aponta.
* Com informações do portal G1.
Tem muitos bandidos soltos, livres das prisões e tratados com todo respeito.
No Brasil a polícia tem que ter treinamento para efetuar abordagens, ter respeito, sem gritos, averiguar antes as atitudes dos perseguidos, chegar com calma, ainda mais em cima de uma balsa!!! Que indignação!!