ebola

Costumo dizer nos meus devaneios sobre a origem da vida que em algum momento em um espaço temporal completamente insólito alguma “ordem” dirigiu o caos que num toque de “magia” uniu várias moléculas de carbono em cadeia num ambiente apropriadamente aquoso. A vida nunca mais seria a mesma. Na verdade ela nem existia…

A combinação de vários pressupostos materiais que variaram de temperatura ao grau de solubilidade ou não de várias biomoléculas como proteínas, lipídios e carboidratos pôde determinar a formação das primeiras entidades celulares que num evolução crescente organizou a nossa existência orgânica altamente dependente de condições favoráveis e de um conjunto de reações que montam e desmontam essas moléculas.

Essas reações em série e dinamicamente continuas caracterizam o que chamamos de metabolismo e esse cara tão falado hoje em dia governa o que conhecemos por biologia!

Toda a vida e seus paradigmas convergem para o ajuste permanente entre células e ambiente em interações às vezes saudáveis, às vezes catastróficas onde adaptar é preciso e viver é apenas a consequências disto.

Neste cenário tão apocalíptico, mas nem tanto se enquadra mais um dos revoltados moleculares que historicamente surgem em surtos, ceifam humanos e animais, alarma os viventes num recado que sempre apavora! No ônibus da evolução molecular os vírus perderam a passagem que levava até a organização celular.

Isso pode parecer estranho, mas até um bactéria é dotada de aparatos metabólicos que guiam sua adaptação, possuem membranas e organelas que conseguiram embora possam ter caído do ônibus no meio do caminho! Na fila dos acidentados vieram protozoários, esponjas… Sei lá…

A priori a humanidade, por favor, sem vaidade, aparentemente conseguiu chegar mais próxima da evolução plena, com metabolismo aeróbico altamente regulado e multienzimático, pluricelular e com alto poder de adaptação.

Sim, talvez o maior e melhor produto da evolução biológica é mais amplo nos humanos: A consciência. Do pó das cinzas estelares pré e pós big bang ela emergiu. Nos homens ela ganha um contorno de posse da vida e suposição do além da vida. Mas um vírus tem consciência?

O advogado dos vírus diria que são vítimas da biologia. Ficaram desprotegidos por essa mãe ingrata. Não ganharam membrana, citoplasma e núcleo componentes mínimos para a felicidade celular e o delírio metabólico.

Representavam apenas resquícios moleculares de ácidos nucleicos com envelopes proteicos, um grupo renegado de partículas sem a capacidade de metabolizar sozinhas. Como sobreviveriam em meio ao caos e aleatoriedade das interações vitais a partir de então?

Pois bem, como renegados pelo destino, passaram a criar estratégias de sobrevivência. Como conheciam toda a tramitação burocrática das sinalizações entre as células passaram a imitar moléculas reguladoras do metabolismo, passaram a imitar a forma dessas substâncias e a conseguir o acesso ao paraíso citoplasmático.

Nesse ambiente a delicia das enzimas que tão eficientes na produção da vida não diferenciam quem é o verdadeiro dono da casa se os vírus ou se a célula agora hospedeira. Assim, a margem da honestidade celular os vírus passaram a ser parasitas obrigatórios, sabotadores do metabolismo, invasores cruéis e com uma capacidade de mudar de “cara” que causaria inveja ao melhor dos atores humanos.

E pelo resto do que resta da vida esses invasores passaram a se reproduzir dentro dos outros organismos. Claro, não é chegando e entrando na célula. Tem que ter uma conversa antes, digo, interação com receptores celulares. Antes é preciso que o organismo hospedeiro encontre condições desfavoráveis ao seu metabolismo.

Condições precárias de higiene, alimentação e saneamento básico, convivência com animais infectados, pois muitas vezes os vírus transitam interespecificamente e pode ser mais ou menos letais dependendo do bicho onde esteja. Socialmente ele pode ter o caminho mais fácil em populações mais pobres sem vacinas ou informações preventivas.

Essa descrição seria ilustrada por vários tipos virais, mas atualmente, quem voltou à cena com sede de vingança é o vírus ebola. Ainda contido pela mídia que adora escândalo, esse vírus representa um perigo em escala global que ainda não tomou o verdadeiro contorno!