COMPARTILHAR

Gustavo Mendanha

A tarifa de 50% anunciada por Trump sobre produtos brasileiros inquietou produtores, trabalhadores e consumidores nos dois países. Por trás do gesto, mais do que o verniz ideológico aparente, está a preocupação com a forma como o Brasil regula as plataformas digitais. Esse é um debate legítimo e necessário, e o momento convida à construção conjunta de caminhos, em vez de alimentar contendas.

O Senado Federal dispõe das chaves para essa construção. A Comissão de Relações Exteriores pode abrir conversas diretas com as comissões de Comércio e de Justiça do Congresso dos EUA. Um grupo parlamentar Brasil EUA, com calendário curto e metas claras, pode redigir um protocolo que una respeito à liberdade de expressão, transparência na moderação de conteúdo e proteção de dados. Ao explicar nosso modelo constitucional e ouvir sugestões, o Senado mostra que o combate à desinformação se faz dentro do Estado de Direito e que sempre há espaço para aperfeiçoamento.

O Congresso norte-americano, por sua vez, tem forte incentivo para cooperar. A sobretaxa ameaça cadeias vitais em seu território, e o café é símbolo disso. Torrefadoras calculam alta expressiva de custos, o que pressiona a inflação e a renda familiar. Parlamentares dos Estados que dependem desse grão conhecem o peso econômico e cultural da bebida para seus eleitores. Dialogar diretamente com o Senado brasileiro ajudará a proteger empregos locais e evitar desgaste político.

Com esse eixo bilateral encaminhado, o Brasil pode propor uma Cúpula Legislativa Global sobre Plataformas Digitais, reunindo blocos como o Mercosul, a União Europeia e os BRICS. Ao pautar o tema em foro plural, o país assumirá liderança positiva, ajudando a criar um padrão internacional equilibrado que defenda direitos e estimule inovação, mostrando que soberania se afirma compartilhando soluções, não erguendo barreiras.

Agindo dessa forma, o Senado manterá a serenidade que nossa Constituição inspira e, se for preciso, apoiará medidas proporcionais previstas na Lei de Reciprocidade. A mensagem principal é a confiança no diálogo. Ao escolher a cooperação, o Brasil protege seus produtores, preserva sua soberania e ajuda a definir normas globais para a era digital.

Gustavo Mendanha é um político brasileiro filiado do PSD, ex-prefeito de Aparecida de Goiânia (GO) e um dos principais articuladores da base governista

Leia também: Gustavo Mendanha se filia ao PSD: ‘Kassab me garantiu liberdade para apoiar Daniel Vilela e Caiado em 2026’