Doses da Pfizer oferecidas a Bolsonaro em 2020 custavam metade do preço pago pelos EUA e Reino Unido
07 junho 2021 às 09h17
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70 milhões de doses poderiam ter sido entregues, por US$ 10 cada, até dezembro do ano passado; para 2021, o Ministério da Saúde ainda prevê a compra 200 milhões de doses do laboratório americano e de 210 milhões da AstraZeneca
Vacinas da Pfizer recusadas por Bolsonaro em 2020 custavam metade do preço pago por Estados Unidos, Reino Unido e União Europeia. Apesar de terem consideradas caras pelo ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, 70 milhões de doses poderiam ter sido entregues, por US$ 10 cada, até dezembro do ano passado, caso tivesse sido estabelecido acordo.
O valor em questão equivale a apenas 10% do auxílio emergencial pago no primeiro ano da pandemia da Covid-19 no Brasil e menor que os R$ 44 bilhões previstos para 2021 para compensar o período de fechamento da economia. Tanto os EUA quanto o Reino Unido pagaram o valor de US$ 20 por cada dose da Pfizer (valor que, na União Europeia, saiu por US$ 18,60). Até o momento, ambos já vacinaram de forma completa cerca de 40% de sua população, com os vários imunizantes contra o coronavírus que foram adquiridos. Com o grande avanço na vacinação, a economia de ambos os locais funciona quase livremente.
Já no Brasil, a primeira entrega de doses da Pfizer começou oito meses depois da primeira oferta do laboratório no Brasil, sendo realizada apenas em abril de 2021, devido a atraso nos contratos. Durante as investigações da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia, o vice-presidente da CPI, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) contabilizou, desde agosto de 2020, 53 e-mails que foram enviados pela Pfizer ao governo brasileiro, na busca de uma resposta acerca da oferta das 70 milhões de doses.
Antes de o Brasil começar a aplicação das doses da Pfizer, a imunização ocorria somente com os imunizantes CoronaVac, do Instituo Butantan, e AstraZeneza, da Fiocruz. No entanto, caminhava lentamente. Sem vacina, taxa de empregabilidade do setor de serviços, por exemplo, que é responsável por 70% do PIB, caiu até 20% durante a pandemia.
Com essas taxas, a desigualdade e a pobreza extrema no Brasil chegaram a níveis que foram vistos, pela última vez, há 15 anos. Esse colapso levou o Brasil a apresentar, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 14,7% de desempregados – taxa que, em números, representa com 14,8 milhões de pessoas.
O Ministério da Saúde chegou a dizer ter destinado cerca de R$ 30 bilhões para compra de mais de 660 milhões de doses de vacinas contra a Covid-19 – contando as que foram e as que não foram, de fato, encomendadas. Em dólares, esse valor reservado pelo país daria cerca de US$ 9 por dose – valor ainda menor que o oferecido inicialmente pela Pfizer em 2020.
De modo geral, no entanto, dados levantados pela Folha de S. Paulo mostram que o Brasil está pagando preços compatíveis com a maior parte dos países. Contudo, a vantagem a favor do Brasil se dá justamente com o imunizante da Pfizer, uma vez que foi o primeiro a ter sido oferecido ao governo Bolsonaro.
Questionada acerca de suas ofertas no Brasil, a Pfizer afirma trabalhar com uma abordagem de “preços diferenciados” para garantir o acesso à vacina. A farmacêutica ainda afirma manter o posicionamento desde as primeiras negociações. Desse modo, países que tiverem menor capacidade de pagar pela vacina, a comprarão por um preço mais baixo.
Mesmo com a recusa inicial do governo Bolsonaro à Pfizer, em uma negociação que levou oito meses para surtir efeito, o Ministério da Saúde prevê para 2021 a compra 200 milhões de doses do laboratório americano e de 210 milhões da AstraZeneca.
Informações de A Folha de S. Paulo