“Disse ao presidente que seria interferência política e ele disse que seria mesmo”, dispara Moro
24 abril 2020 às 11h59
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Moro relatou ainda que o presidente falou que queria colocar alguém da relação pessoal dele, que ele pudesse ligar, colher informações. “Esse não é o papel da PF. Imagina se durante a Lava Jato ministros e presidentes ficassem ligando pra PF em Curitiba pra colher informações sobre a investigação?”
Ao justificar sua saída do Ministério da Justiça, Sérgio Moro afirma que não são aceitáveis indicações políticas na Polícia federal. Para ele, o problema não é trocar superintendentes ou quem quer que seja, mas por que trocar. Para Moro, não havia justificativa para tal troca.
“Ontem, conversei com o presidente, houve essa insistência. Eu disse que seria interferência política e ele disse que era mesmo”, disse Moro. O ministro sinalizou ainda que teve outras divergências com o presidente.
De acordo com o ex-juiz da Lava Jato, o presidente também informou que tinha preocupação com inquéritos em curso no STF e que a troca também seria oportuna por este motivo. “Fiz um compromisso e estou honrando esse compromisso. Não tenho como persistir sem condições de trabalho e sem preservar a autonomia da PF”, declarou.
“Dou autonomia ao pessoal que trabalha comigo para que eles façam as melhores escolhas respeitando a autonomia deles. Havia rumores de que a PF tinha algumas superintendências com indicações políticas, chamei o diretor geral e falei pra fazer escolhas técnicas. Indicações políticas não são boas para a corporação em geral”, explicou.
Esse não é o papel da PF
Moro relatou ainda que o presidente falou que queria colocar alguém da relação pessoal dele, que ele pudesse ligar, colher informações. “Esse não é o papel da PF. Imagina se durante a Lava Jato ministros e presidentes ficassem ligando pra PF em Curitiba pra colher informações sobre a investigação? O sigilo é um valor que temos que preservar num estado de direito. É algo que realmente entendi inapropriado”.
Outro ponto abordado por Moro, em seu discurso, foi o fato de não ter assinado a exoneração de Maurício Valeixo do cargo de diretor-geral, que foi publicada a pedido nesta manhã, no Diário Oficial da União. “Fiquei sabendo da exoneração pelo diário oficial. Não assinei esse decreto”, disse. Ele também confirmou que a saída não foi a pedido, mas sim por pressão de Jair Bolsonaro.
Segundo analistas, a fala de Moro indica uma série de crimes de responsabilidade cometidos pelo presidente, dentre elas, a interferência na Polícia Federal e falsificação ideológica, já que Moro não assinou o documento publicado no Diário Oficial.