Disputa entre JJZ e credores faz recuperação judicial milionária do frigorífico virar caso de polícia
29 janeiro 2017 às 16h23

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Denúncias envolvem saques irregulares, fazenda grilada e suposta omissão do administrador judicial. Proprietário da empresa e advogados negam acusações

Com dívidas de R$ 30,14 milhões e € 1,12 milhão com diversos credores, a JJZ Alimentos pediu, em 2015, recuperação judicial. Neste tipo de processo, feito para evitar a falência, é apresentado um plano de ajuste de contas e pagamento de dívidas para manter a empresa funcionando.
Só que o processo, que ainda não foi homologado pela Justiça, está sendo alvo de intensa polêmica e virou até caso de polícia. Isso tudo porque credores acusam o proprietário do frigorífico, Jorge Zabrockis, de ter orquestrado um golpe milionário ao esvaziar os cofres da JJZ e pedir recuperação judicial para atrasar a quitação de dívidas.
O suposto golpe teria contado com a ajuda de uma empresa de consultoria e até do administrador judicial do processo, responsável por fiscalizar o cumprimento do plano. As acusações são várias e envolvem desde grilagem de terra até saques irregulares e a compra de um avião supostamente com dinheiro da empresa.
Só que Jorge não só nega as acusações como também questiona a idoneidade das empresas que, para ele, querem tumultuar o processo e receber “antes da hora”, já que não integram a lista de credores da recuperação judicial. O advogado responsável pela recuperação, Leonardo Paternostro, também se defende e denuncia “teor pessoal” nas alegações.
Entenda o caso
Um dos credores da JJZ, a Pátria Credit Fundo de Investimento, que emprestou R$ 10 milhões para a empresa, acusa Jorge de apresentar, como garantia no negócio, uma fazenda que, na verdade, não existe. Além disso, o imóvel já teria sido vendido por diversas vezes, para vários compradores diferentes, sem ter sido registrada devidamente em cartório.
A fazenda é, inclusive, alvo de inquérito policial da Delegacia de Investigação Criminal (Deic) da Polícia Civil de Goiânia. Segundo Jorge, no entanto, ela existe, é georreferenciada e foi vistoriada pela própria Pátria por seis meses antes de os dois fecharem negócio. Ele admite que partes do imóvel foram griladas, mas diz que ainda não tomou providências, porque está cuidando da recuperação judicial. Segundo ele, a documentação não apresenta problemas.
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Ao dar a sua versão do negócio, ele explicou que foi procurado pela Pátria com a oferta de crédito de R$ 20 milhões. Ele apresentou a fazenda, que vale R$ 34 milhões, como garantia, e recebeu os primeiros R$ 10 milhões. Depois, conta, a empresa começou a fazer uma série de outras exigências não previstas inicialmente no contrato e não quis liberar o restante do dinheiro.
Segundo o empresário, a Pátria, por ser um banco de investimentos, nem sequer poderia fazer empréstimos. Depois, para receberem os R$ 10 milhões, pediram o bloqueio de contas de Jorge em vários lugares. Para ele, o objetivo é receber antes do combinado, fazendo pressão com processos judiciais.
Além de ter sido usada como garantia, a propriedade foi mencionada em nota explicativa por Zabrockis para justificar a retirada de R$ 26 milhões dos caixas da empresa. A acusação do saque partiu também de um dos credores, a JL Selbach Leonetti e Cia LTDA, que questiona ainda o fato de o documento ser assinado por ele, e não por um contador, ao contrário do que é exigido no processo de recuperação judicial.
Segundo Jorge, o dinheiro foi usado para outros dois negócios além deste: a compra de um frigorífico e de alguns terrenos em Buriti Alegre (GO) que, acusam os credores, já seriam da sua propriedade. E aí entram outros personagens no imbróglio: os donos do frigorífico Peixe Brasil, Hiram Pacheco, e da HC que ainda não receberam parte do dinheiro acordado na venda.
O proprietário do frigorífico entrou com uma ação contra Zabrockis acusando-o de não pagar a totalidade dos R$ 3.320.000,00 acordados no negócio, que envolvia várias sociedades. Antes de receber os valores restantes, ele afirma ter descoberto que três máquinas de uma das empresas envolvidas no acordo tinham sido adjudicadas, ou seja, transferidas para a posse de Jorge, em um processo judicial de que a dona original delas não teria tomado conhecimento.
A empresa teria, inclusive, sido representada nele por uma pessoa que não fazia parte do quadro societário e tampouco tinha representação para responder pela empresa. Segundo a ação movida por Hiram, no entanto, o problema vai além: o empresário não só não teria pago o que devia no negócio, como também incluiu ambas as empresas envolvidas no seu pedido de recuperação judicial.
Jorge contesta. Segundo ele, Hiram vendeu a empresa sem mencionar dívidas e credores próprios e diz que, depois de fechado o negócio, recebeu uma ordem de arresto de equipamentos da Peixe Brasil. No contrato, está especificado que a HC não tinha dívidas, o que o levou a contratar uma empresa auditora.
Agora, ele afirma que o montante que ainda resta a ser pago só será quitado depois que forem descontados os débitos não informados inicialmente. Elas realmente estão no processo, mas, de acordo com Jorge, estão lá justamente por serem de sua propriedade. No pedido e nos balancetes entregues regularmente à Justiça, a HC e a Peixe Brasil aparecem como parte da linha produtiva da JJZ.
Além das disputas na Justiça, o embate entre as duas partes levou Jorge a registrar um boletim de ocorrência acusando um dos credores, Humberto Leonetti, de ameaçá-lo de morte. O B.O. foi registrado em setembro ed 2015, na cidade de Goianira.
Administrador judicial

Todo processo de recuperação judicial precisa ter a figura do administrador judicial, que fica responsável por garantir o cumprimento do plano. É ele quem tem que fiscalizar se a empresa está seguindo os termos e se mantendo na linha para honrar os compromissos com os credores, informando qualquer irregularidade ao juiz responsável pelo processo.
No entanto, alguns dos credores acusam o administrador do caso da JJZ, o advogado Leonardo Paternostro, de omitir informações sobre as contas da empresa. Inicialmente, ele teria deixado informar sobre a existência de inquérito policial envolvendo a JJZ, no qual ele mesmo já havia deposto.
Depois, questionado pela Justiça sobre o saque de R$ 26 milhões às vésperas do pedido, ele disse que, justamente por ter sido anterior a ele, não deveria ser considerado pela Justiça. Apesar disso, dizem os credores, Leonardo também estaria ignorando transferências e saques da conta da empresa feitos por Zabrockis durante a recuperação.
Documentos recebidos pelo Jornal Opção, inclusive, mostram um cheque de R$ 1,6 milhões, assinado após o pedido de recuperação judicial. Segundo Jorge, no entanto, ele nunca foi descontado e foi apresentado apenas como garantia. O administrador judicial reitera a alegação.
Outro gasto que chama a atenção é a aquisição de um avião, registrado no nome da filha do empresário, que tem 19 anos. Ao jornal, Jorge explicou que comprou o avião com recursos próprios e de seus familiares e que a aeronave foi colocada no nome da jovem porque é um instrumento de trabalho e ele não queria que ela entrasse na recuperação.
Paternostro, por sua vez, fez questão de frisar que cuida especificamente da recuperação judicial, trabalhando para que ela dê certo. “Eles querem que eu faça auditoria, mas não cabe a mim apurar o que não é do âmbito da recuperação. Todos os casos que a envolvem estão listados no processo”, argumentou.
Segundo o advogado, a recuperação está em bom andamento e com fluxo de caixa bastante para quitar as dívidas com os credores que, afirma, estão confiantes. “A empresa é a maior fonte de empregos e tributos de Goianira, vários dos funcionários que a haviam deixado já retornaram depois da recuperação, que está correndo normalmente”, afirmou.
Os credores acusam não só Paternostro, mas também a consultoria Erimar, que deveria apresentar balancetes e fiscalizar os gastos da JJZ, de mascarar as contas da empresa, entregando números falsos à Justiça. O jornal não conseguiu contato com a Erimar.