Diretor lamenta caos na Maternidade Dona Íris: “Unidade é referência no Brasil”
13 março 2017 às 13h46
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Por determinação da prefeitura, hospital que oferece atendimento completo a mulheres deve voltar a ser apenas maternidade
Sem previsão de quando ou se o atendimento será normalizado, o Hospital da Mulher e Maternidade Dona Iris (HMDI), na Vila Redenção, em Goiânia, determinou que parte de seus funcionários ficassem na porta da unidade para orientar as pacientes que procuravam atendimento na manhã desta segunda-feira (13/3).
Desde cedo, o aviso na porta era repetido a todas que chegavam: consultas, exames de ultrassonografia e mamografia e cirurgias eletivas estão suspensos por tempo indeterminado. Mesmo com o anúncio da suspensão dos atendimentos na semana passada, muitas pacientes procuraram a unidade nesta segunda, por telefone ou pessoalmente, para tentar alguma resposta.
Sulenyr dos Santos, por exemplo, veio de Cachoeira Alta, cidade a 380 km de Goiânia, para pegar o resultado de uma biópsia. A consulta que estava marcada para esta terça-feira (14/3), foi cancelada. “A única coisa que eles dizem é que não tem previsão”, disse ao Jornal Opção.
O HMDI acumula uma dívida de mais de R$ 22 milhões e a crise pela falta de repasse da Prefeitura de Goiânia à Fundação de Apoio ao Hospital das Clínicas da UFG (Fundahc), que gere o hospital, chegou ao seu ápice na semana passada, com o anúncio de que apenas o atendimento de urgência seria mantido.
“Desde o ano passado, já alertávamos a prefeitura sobre a situação e o atendimento já vem sendo reduzido. Antes de começarem todos esses problemas, fazíamos uma média de 600 partos ao mês. Hoje fazemos 300. Eu não sei para onde estão indo estas outras 300 mulheres”. disse Dr. Maurício Viggiano, diretor geral do hospital.
Muito além de maternidade, a unidade é hoje referência no atendimento de doenças da mulher em todo o Estado. “Aqui nós tratamos desde câncer de cólo do útero, câncer de mama, vítimas de violência sexual, bebês com malformação, mulheres com dificuldade em engravidar, temos ambulatório de tudo aqui. Em Goiás, a unidade que faz o atendimento de doenças da mulher 100% pelo SUS é o Dona Íris. É um oásis no deserto. Nem hospitais particulares têm a estrutura que nós temos”, relatou.
Na última sexta-feira (10), a prefeitura repassou R$ 1,8 milhão para a Maternidade Dona Íris e R$ 200 mil para a Nascer Cidadão, também administrada pela Fundahc. Contudo, o valor foi suficiente para pagar apenas a folha de funcionários de fevereiro e metade do vale alimentação. Os fornecedores de alimentos, medicamentos e insumos continuam sem repasse e por isso a suspensão dos atendimentos foi mantida.
Em resposta à crise, a Secretaria Municipal de Saúde emitiu nota na semana passada argumentando que desde que foi inaugurada, em 2012, a unidade expandiu os atendimentos ofertados por meio de aditivos que hoje somam mais de 110% do valor original do convênio entre prefeitura e Fundach e, por isso, a administração não teria condições de arcar com os custos.
Para o diretor geral Maurício Viggiano, o crescimento da unidade foi uma consequência da necessidade da prefeitura em prestar atendimento. “Eu entendo o lado da administração. As dificuldades financeiras não são apenas de Goiânia, mas de todos os municípios do Brasil. Mas é importante entender que a ampliação dos atendimentos partiu da gestão municipal e que se houve aditivos é porque existe a demanda”, reiterou.
Atrás de resposta
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Ao Jornal Opção, o médico informou que na próxima quarta-feira (15/3) o prefeito Iris Rezende (PMDB) receberá a direção do HMDI e o conselho da Fundach para uma reunião, na qual devem ser oficializados os planos de redução permanente dos atendimentos.
Apesar da audiência com Iris, Dr. Maurício teceu críticas à secretária de Saúde Fátima Mrué, que ainda não se pronunciou publicamente sobre o assunto.”Ela precisa dar uma resposta. A população precisa saber que ela é a responsável. Você acha que a prefeitura não tem R$ 1 milhão, R$ 2 milhões, que seja, para pagar as contas da maternidade? Até hoje o que ela fez foi emitir um comunicado que pediu para algum assessor redigir. Ninguém consegue falar com ela.”
Dr. Maurício Viggiano não se mostra otimista em relação ao futuro dos hospital. A expectativa dele é de que a unidade voltará a ser apenas maternidade e pré-natal, sendo cancelados todos os demais atendimentos na área de saúde da mulher. Porém, cobra da atual gestão, o cumprimento do assinado em contrato.
“Se tivermos que voltar a ser o que éramos há três anos, apenas maternidade e pré-natal, que seja. Vamos reunir a direção, fazer os cortes necessários e seguir em frente. O Dona Íris não é nosso, é da prefeitura, e se esta for a determinação, será cumprida. Mas existe um contrato vigente da prefeitura com a Fundahc que vence apenas em maio. A partir disso, um novo acordo pode ser feito e o atendimento reduzido, mas até lá, a administração tem que cumprir o assinado e honrar seus compromissos”, afirmou.