Doença também pode causar infertilidade e, inclusive, dores durante ato sexual

Como a maioria das doenças ligadas à saúde da mulher, que, ainda, é tratada com tabu, a endometriose permanece um mistério na sociedade. Difícil de ser diagnosticada, ela já atinge seis milhões de mulheres brasileiras e pode ser a causa da infertilidade e, ainda, ser o motivo de dores durante o sexo.

Rebeca, aos 35 anos, sonhava em ser mãe, mas tinha dificuldades para isso, Foram nove tentativas, um tratamento para infertilidade, ainda, muito sofrimento. Sem saber disso, ela sofria há mais de 20 anos de endometriose. Somente após o diagnostico e uma cirurgia o problema foi resolvido e, um ano depois, veio a gravidez de João Gabriel.

Um estudo da Fellow American College Of Surgeons mostrou que em 50% dos casos de infertilidade feminina a endometriose pode ser uma das principais causas. A doença atinge o tecido que reveste a parte interna do útero, fazendo com que ele cresça até outros órgãos, provocando dores, infertilidade e, ainda dispareunia, que é a dor no ato sexual.

Um estudo publicado no Human Reproduction mostrou que a dispareunia foi reportada por 56% das mulheres; a dor pélvica crônica por 60% e a dismenorreia (cólica menstrual intensa) por 59%. O mesmo estudo demonstrou redução da qualidade de vida.

Segundo o médico Maxley Alves, cirurgião geral especialista em cirurgia minimamente invasiva, indicada para esse caso, as pacientes relatam efeitos negativos, também, na saúde física e mental. “Chega a atingir a autoestima da mulher. Algumas precisam faltar o trabalho com frequência por causa das fortes dores”, explica.

Diagnóstico

De acordo com Alves, os sintomas da endometriose se confundem com os da menstruação e, por isso, mulheres passam anos sem saber que sofrem da doença. Segundo a Associação Brasileira de Endometriose e Ginecologia Minimamente Invasiva, estudos mostram que existe uma demora de quase sete anos para o diagnóstico.

Além disso, não existe um exame específico para diagnosticar. A descoberta é feita pela combinação de exames de sangue, ultrassonografia transvaginal e ressonância pélvica. Quando esses exames apontam indícios do problema é feito uma laparoscopia, que é capaz de detectar a doença e já tratá-la no mesmo procedimento.

Quanto mais tarde se descobre a doença, mais chances há de ocorrer infertilidade, afirma o médico. “Não significa que todas as mulheres com endometriose não podem ter filhos. A infertilidade acontece quando a doença atinge as trompas, orgão que conduz o óvulo ao últero. As alterações hormonais também dificultam a gravidez”, detalha.

O tratamento pode ser feito com medicamentos ou, como a Rebeca, por cirurgia — indicada quando existem lesões profundas. Alves explica que o procedimento é feito por uma equipe multidisciplinar especializada. “A cirurgia é pouco invasiva. Fazemos uma pequena incisão na região abdominal, por onde é introduzido o laparoscópio, A microcâmara incorporada ao equipamento permite que o médico tenha uma visão ampla da região, avaliando e diagnosticando possíveis doenças que causem a infertilidade”, explica, segundo ele, a recuperação também é rápida.

Em alguns casos a retirada do útero é considerada, geralmente quando há o diagnóstico muito tardio. Essa consequência pode ser evitada, já que a doença pode ser controlada caso seja descoberta mais cedo e, portanto, tratada.