*Enviado a cidade de Goiás

Professor de Publicidade e Propaganda da UFG Daniel Christino parte do conceito de narrativa para falar sobre integração com videogames e HQ’s

Daniel Christino: imagem e a linguagem cinematográfica incorporam elementos do videogame e dos HQ’s, ao passo que concede a essas mídias suas formas de narrar. Foto: Reprodução/Facebook
Daniel Christino: imagem e a linguagem cinematográfica incorporam elementos do videogame e dos HQ’s, ao passo que concede a essas mídias suas formas de narrar. Foto: Reprodução/Facebook

A programação de laboratórios, minicursos e fóruns de cinema do 16º Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (Fica) na cidade de Goiás começa nesta quarta-feira (28/5) e deve movimentar a antiga capital do Estado. Até domingo, as mostras competitiva e da Associação Brasileira de Documentaristas de Goiás (ABD-GO) vão lotar os locais escolhidos para as exibições, como tem ocorrido nas últimas edições.

Os diálogos que o cinema faz com outras mídias a partir do conceito de narrativa é o que o professor do curso de Publicidade e Propaganda da Universidade Federal de Goiás (UFG) Daniel Christino vai debater em seu minicurso Transmidias: Cinema, Videogames e Histórias Quadrinhos, nos dias 29 e 30, de 9h às 12h, na sede da UFG, na Praça do Chafariz.

Dizendo que em festivais do gênero geralmente há amplo espaço para discussão do cinema em si, o líder do grupo de pesquisa Narrativas Contemporâneas – Cinema, Entretenimento e Transmídias da universidade ressaltou em entrevista Jornal Opção Online que o participante poderá em seu minicurso debater sobre o que rodeia a sétima arte. “Como é caso tradicional da literatura, mas agora com os jogos, os HQ’s e outros suportes midiáticos”, pontuou.

[relacionadas artigos=”5360,5334″]

Atualmente, os universos narrativos e as ficções não estão limitadas somente ao suporte em que acontecem. Para Christino, que pesquisa Comunicação e Processos Culturais, anteriormente fazia-se um filme que tinha um objetivo em si mesmo. “Ele se fechava numa completude de obra como filme. Hoje, pode ser apenas mais um elemento de uma história que atravessa essa mídia e tem outras formas de se constituir como narrativa”, refletiu. Questionamentos como qual a experiência estética e como se dá esse diálogo serão respondidos durante a conversa.

Filósofo e doutor em Ciências da Comunicação pela Universidade de Brasília (UnB), Chrisitno argumenta que o filme tem uma intenção narrativa muito clara: a de transcorrer diante do espectador, concebendo uma relação ativa e passiva. Já quando se tem um controle, a tela e o ambiente de um jogo tem-se a interatividade, simulação e objetos liminares. Com isso, a imagem e a linguagem cinematográfica incorpora elementos do videogame e dos HQ’s, ao passo que concede a essas mídias suas formas de narrar. Christino destaca o modo diferente de se trabalhar a iluminação e a fotografia de um filme em relação a de um jogo, por exemplo. “O aprendizado do jogador cria uma nova linguagem e interação com o cinema.”

Na opinião dele, os gamers estão mais acostumados a ler, interpretar e processar os efeitos visuais e especiais na estrutura narrativa, o que tem sido aproveitado pela indústria do cinema comercial. Como exemplo, cita o universo dos super-heróis. “Há uma crise criativa no cinema, que chegou ao limite de sua potencialidade narrativa”, teorizou. Para contornar o paradigma, Christino sugeriu que é preciso ampliar os discursos para que a sétima arte se reinvente como linguagem.

No caso dos efeitos visuais no cinema nacional, ele analisa que as realizações patropi estão na contra mão do mercado norte-americano, já que o processo é muito caro financeiramente. É necessário entender, conforme avaliou Christino, que os filmes daqui têm que fazer um diálogo com a história política e social por qual passou o país, algo considerado complicado pelo filósofo. Também jornalista, o doutor relembra da alta criatividade expressada pelo Cinema Novo, no início da década de 1950. “A partir daí houve, praticamente, um desaparecimento do cinema com a ditadura”, falou, listando que nesse período ainda houve a Pornochanchada e o Cinema Marginal, e outros movimentos.

Atualmente, as produções tupiniquins têm que lhe dar com sua herança intelectual e cultural do próprio cinema, além da parte dos negócios. E talvez, pensou o professor, o caminho esteja na integração com outros meios.

Mais programação

Para esta quarta-feira, ainda estão agendados os laboratórios de Roteiros de Documentário ou Experimental, com Adirley Queiroz, de Projetos de Produção Audiovisual, com Maria Madalena Vargas Ionescu, e de Roteiros de Ficção ou Animação, com Hilton Lacerda. Todos acontecem de 9h às 13h, com intervalo para almoço, e seguem das 14h30 às 18h30. Todos serão na sede da UFG e têm patrocínio da ABD-GO.

Outro destaque é o fórum de cinema Política para o Audiovisual, com o secretário Nacional de Audiovisual do Ministério da Cultura, Mário Borgneth, às 10h, no Colégio Sant’Ana, na Praça do Chafariz.