Dia Mundial do Lúpus: doença não tem cura, mas existe tratamento

09 maio 2023 às 17h47


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Neste dia 10 de maio, quarta-feira, a World Lupus Federation (WLF) escolheu como sendo o Dia Mundial do Lúpus para conscientização da condição e alertar sobre o impacto dela.
Apesar de não ter cura, a doença tem tratamento e pode ser controlada. O Lúpus é uma enfermidade autoimune, isto é, quando o próprio corpo ataca seus tecidos por um mau funcionamento do sistema imunológico.
Em consonância com o dia mundial de conscientização, o Jornal Opção entrevistou o médico reumatologista, Otávio Paz, que explicou o que são doenças autoimunes, a causa do Lúpus, sintomas, diagnóstico e tratamento.
Doenças autoimunes
De acordo com o especialista, doenças autoimunes fazem parte de um grupo muito abrangente de enfermidades que se manifestam pela desregulação do nosso sistema imunológico, responsável pela defesa do nosso organismo.
“Ele passa a atacar não fatores externos e invasivos, mas os próprios órgãos e sistemas. Então, vai atacar o rim, a articulação, a pele, cabelos, olhos. Enfim, tem um potencial de atacar qualquer órgão e estrutura do corpo”, explica.
No caso do Lúpus, Otávio Paz afirma que a pessoa desenvolve anticorpos contra ela própria. Apesar disso, ele chama a atenção para o fato de que, dependendo do quadro, uma pessoa com a doença pode ser muito diferente da outra. Já a causa é desconhecida.
“O Lúpus pode teoricamente atingir ou atacar qualquer órgão ou sistema do corpo humano. Não existe uma causa determinada. A gente coloca que existem fatores, como pré-disposição genética, ser do sexo feminino. Existem algumas teorias que tentam justificar, mas não há uma certeza por que é mais prevalente em mulheres do que homens”, revela.
Além disso, o médico reumatologista afirma que existem vários fatores desencadeantes da reação autoimune do Lúpus. “Pode ser uma infecção, pode ser a luz solar, pode ser o início do processo de menstruação com os hormônios femininos, pode ser uma gravidez. Tem vários fatores que podem desencadear o Lúpus, mas uma causa específica a gente desconhece ainda”, pontua.
Sintomas
Otávio Paz justifica que, por ser sistêmico e poder atingir qualquer órgão ou sistema, pessoas com Lúpus podem apresentar sintomas distintos.
“Você vai ver pessoas com Lúpus que tem doença na pele, inflamação da pele, com inflamação renal, com inflamação articular, inflamação cerebral, inflamação cardíaca. Mas, o mais comum é o acometimento das articulações, as pequenas articulações das mãos, grandes articulações como cotovelos, joelhos, quadris”, cita.
Além dessas, o especialista elenca outros sintomas mais comuns em segundo e terceiro lugares, vindo depois das articulações.
“Lesões avermelhadas em asa de borboleta, manchas fotossensíveis, às vezes na região do decote do colo, ou então na região justamente dos braços, queda de cabelo é muito comum. Então, eu colocaria alterações articulares, de pele, fotossensibilidade e lesões espontâneas, como líquido na pleura, pode aparecer líquido no abdômen também”, exemplifica.


“Digamos assim, dos três principais, mas é extremamente variável. Pode causar anemia, pode causar baixa de plaquetas, de leucócitos, varia demais um caso para o outro”, completa.
Cura e tratamento
Como ainda não se sabe o que causa a doença autoimune, ou seja, por que o sistema imunológico passa a atacar o próprio corpo, Otávio Paz explica que não há cura. Por outro lado, existe tratamento para controlar a doença.
“Há uma necessidade preventiva de que a gente mantenha esse tratamento no médio e longo prazo. Eu digo que tratar uma doença autoimune é como tratar pressão alta. Você precisa usar continuamente o medicamento. Então, a doença autoimune, dependendo do tipo e da gravidade, ela pode ter essa persistência no tratamento”, argumenta.
Além do tratamento medicamentoso, o reumatolgista também cita outros recursos como complemento, sendo, por exemplo, a atividade física.
“A gente usa fisioterapia, às vezes algumas alterações alimentares. Está aumentando as evidências com relação ao glúten, algumas vitaminas foram colocadas, mas não tem tanto embasamento científico. O que tem hoje de mais importante no tratamento de uma doença autoimune é o medicamento imunossupressor, que faz com que a imunidade da pessoa, que está muito desorganizada a ponto de inflamar o próprio corpo, só consiga ter um equilíbrio”, afirma.
São mais de 23 medicamentos que podem ser utilizados de acordo com a doença que está sendo apresentada, a agressividade do quadro e também com a aceitabilidade de cada paciente.
“Tem medicamentos excelentes que alguns pacientes não toleram. Então, a gente faz uma permuta. Mas, hoje eu posso dizer com toda a tranquilidade que a gente nunca teve tantas opções para tratamento das doenças autoimunes”, garante.
Diagnóstico
Para diagnosticar uma doença autoimune, o especialista explica que é fundamental a identificação dos sintomas daquela doença específica.
“A asma é uma doença autoimune e o que ela causa? Falta de ar, tosse seca, chiadeira no peito. Sentindo isso, preciso procurar o médico, que pode ser um clínico inicialmente para fazer uma triagem. Posso procurar o especialista e a partir daí ele vai examinar e realizar exames complementares para poder definir a existência ou não daquela doença autoimune”, exemplificou.
No caso do Lúpus, Otávio Paz ilustrou a partir de uma mulher jovem, na fase da fertilidade, que é mais comum, esteja sentindo muita dor e inflamação nas articulações. Ou quando se expõe ao sol aparecem manchas muito exuberantes no corpo.
“Essa paciente precisa procurar, se tiver manifestação articular, o reumatologista, ou clínico. Se tiver fotossensibilidade, procurar o dermatologista. Então, o diagnóstico da doença autoimune perpassa pelo sintoma que a pessoa está sentindo para que ela possa procurar o especialista”, ressalta.
Existe prevenção?
Assim como uma doença autoimune não tem cura, também não há prevenção pela enfermidade estar ligada à genética em alguns casos.
Entretanto, o especialista comenta que um estudo da década de 1990 defende a exposição das crianças ao ambiente como forma de fortalecer a imunidade.
“O contato com a natureza tem o fator protetor na hora de desenvolver o sistema imunológico. Então, nossas crianças precisam estar na terra, no chão, brincar e desde cedo isso vai ajudar a desenvolver um sistema imunológico mais saudável”, declara.
“Alimentação também é muito importante, variada, rica. São cuidados pequenos, mas que podem garantir ou diminuir as chances da pessoa desenvolver a doença. Na vida adulta, um fator que tem sido muito elencado como desencadeador de doença autoimune é o estresse e a gente precisa cada um fazer uma análise da sua própria vida para ver os fatores que estão desencadeando o estresse excessivo para tentar nos controlar”, finaliza.