Os pré-candidatos a prefeito de Goiânia Sandro Mabel (União Brasil) Gustavo Gayer (PL) têm repetido um discurso desempolgado sobre o pleito que pode se assemelhar ao que o Iris Rezende (MDB) fazia ao dizer que poderia não ser candidato. Na hora do “vamos ver”, o ex-prefeito de Goiânia invocava a aclamação popular pelo seu nome e acabava por enfrentar a missão.

Apesar de gabaritar o perfil “escolhido” nas pesquisas qualitativas — gestor com experiência política —, Mabel ainda brinca que foi pego pelo laço de Caiado que o convenceu ao “sacrifício da candidatura diante da responsabilidade com Goiânia”. Gayer também repetiu o discurso de sacrifício durante o anúncio da sua pré-candidatura, na noite de segunda-feira, 29.

Esse discurso, no entanto, tende a não passar do período das convenções, entre julho e agosto, quando os partidos oficializam as candidaturas e a militância entra em campo. Isso ocorre por um motivo óbvio: um candidato desmotivado não empolga a militância, que por consequência terá mais dificuldade em carregar a bandeira do postulante.

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De pedra para o telhado de vidro

Analistas políticos ouvidos pelo Jornal Opção apontam que há ainda outros elementos pontuados no caso dos atuais pré-candidatos: eles passam da condição de opositores, de quem atira a pedra, e viram o telhado de vidro.

O cientista político Lehninger Mota aponta que tanto Mabel, quanto Gayer, estavam em posição confortável de ser o contraponto. “Sandro Mabel e Caiado protagonizaram grandes embates em Goiás no começo da gestão. Gayer é uma voz forte da oposição, e ainda com a chance do PT ganhar eleição é um esforço que eles estão fazendo em sair da comodidade para um desafio que é disputar um cargo majoritário. Deixam de ser quem joga a pedra para ser o telhado de vidro”, menciona.

O que há de comum em Gayer e Mabel é que foram convocados porque há uma disfuncionalidade da prefeitura e é nessa hora que os partidos chamam pessoas que podem assumir essa prefeitura e resolver o problema

Lehninger Mota, cientista político

O “não querer” disputar as eleições pode ter ainda dois efeitos no imaginário popular: demonstrar que a candidatura não é por interesse particular ou por um projeto de poder, já que houve uma convocação do povo, e reforçar o discurso de oposição. “Você joga para a plateia mostrando que a gestão está ruim e que não é o que você queria, mas que por motivos de força maior aconteceu”, reforça.

Mota lembra que Iris Rezende mantinha esse discurso de não ser candidato até a última hora, mas que “não fechava o escritório político um único dia e fazia política 24h”.

Quando disputou pela última vez a Prefeitura de Goiânia, em 2016, Iris Rezende confessou a um aliado que não queria mais concorrer ao Paço. Naquela época ele estava mais resistente a ideia de tentar um quarto mandato. Aos 82 anos, o mais difícil para ele era lidar com os vereadores e o quanto aquilo desgastava o gestor. “Ele dizia que estava muito cansado de lidar com a Câmara que a relação era exaustiva”, disse um interlocutor sob reserva.

De acordo com interlocutores do MDB a mesma insegurança foi um dos motivos para que Ana Paula Rezende, filha de Iris não disputasse as eleições deste ano, mesmo com a insistência do Palácio das Esmeraldas. Ainda em 2023 o governador Ronaldo Caiado (UB) dizia que Ana Paula seria a candidata dos sonhos do governo.

O cientista político Guilherme Carvalho acrescenta que o “sacrifício” também está relacionado com as condições que o próximo prefeito vai herdar a cidade. “Quem ganhar vai ter problemas, principalmente na questão financeira e relacionadas ao término de obras e com licitações que foram contratadas”, aponta.

Esse argumento, porém, não é válido para todos os pré-candidatos, aponta Carvalho. “O sacrifício de Gayer, por exemplo, é em relação a projeção nacional que ele tem e uma possibilidade de caminhar em uma agenda sendo uma das lideranças do bolsonarismo. Já Mabel vai argumentar que é um empresário bem sucedido, tem carreira em outras áreas e preside uma associação que reúne o empresariado goiano, então de fato é um sacrifício”, comenta.

Por outro lado o cientista político Luiz Signates, não havia desmotivação no discurso de Iris Rezende e esse tom na campanha pode contaminar a militância. “Falta de motivação é um dos elementos mais determinantes de uma derrota eleitoral. Se o candidato não quer, ele terá dificuldade de conseguir até quem peça votos para ele”, pontua.

Ele argumenta que a motivação da militância ” capaz de entregar uma vitória eleitoral, especialmente numa cidade grande, complexa e disputada como Goiânia, só existe dentro de um contexto de animação em que o candidato figura como a maior fonte de energia”.

Um candidato que tenha medo de trabalho, seja na campanha, seja na gestão, está derrotado antes mesmo da disputa ser feita

Luiz Signates, cientista político

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